De solos de guitarras à bateria, a nova cena do rock pernambucano, apesar de ser diferente de décadas atrás, continua fazendo bastante barulho e se renovando. A nova geração de músicos e bandas do naipe de Serrapilheira, Graxa, Aninha Martins e Juvenil Silva não tem medo de colocar o pé na estrada e divulgar o seu trabalho, seja em grandes festivais ou em pequenas casas noturnas.
Mas, se na época do manguebeat, a música pernambucana ganhou a cena nacional, hoje, a realidade é diferente. “O rock nunca esteve tão fora da grande mídia, digo isso não só do Recife, mas em Pernambuco como um todo. Quando toca nas rádios é em algum programa específico, como o Coquetel Molotov, da Rádio Universitária, ou na Rádio Frei Caneca. Mas não é suficiente para divulgar o trabalho de uma banda”, critica Paulo André, produtor do Abril pro Rock (APR), um dos principais festivais realizados no Recife.
Paulo André, que também foi empresário da banda Chico Science & Nação Zumbi, observa que apesar dessas dificuldades, despontam novos artistas e bandas produzindo um som de qualidade. “Vejo trabalhos incríveis sendo lançados, mas esses artistas se apresentam, geralmente, em lugares pequenos, como no Terra Café & Bistrô, Casa Astral, Edifício Pernambuco e no coletivo Sexto Andar.”
Na opinião do produtor cultural e criador do site Recife Rock, Guilherme Moura, desde o manguebeat até os dias atuais, o comportamento do público se modificou. “Ele está mais fragmentado com os subgêneros do rock e pop. Outra mudança foi a forma de consumir música. Saímos do CD para a era do streaming e o que mais afetou a indústria local é que hoje existem muito mais opções de entretenimento do que antes para disputar a atenção do público”, avalia.
Se o momento não é propício para o rock nas grandes mídias, Roger de Renor, produtor e também curador do Abril pro Rock, destaca, porém, que há um grande número de festivais onde as bandas se apresentam. “Espaços como o Rec-beat, dentro da programação do Carnaval, o Coquetel Molotov e o próprio APR são exemplos. Eles são fundamentais para a oxigenação da música pernambucana, além de trazer a liberdade de expressão e a possibilidade de assistir numa mesma grade do festival, bandas de diferentes gerações, do estilo de Eddie, Juvenil Silva, Aninha Martins, Academia da Berlinda, Devotos, Graxa, e Otto”, justifica Roger.
O cantor Juvenil Silva acredita que os festivais têm a vantagem de atrair multidões e mesclar públicos. “São pessoas que necessariamente não saíram de casa para te assistir, ao contrário dos pequenos lugares, que geralmente quem vai, vai para te ver mesmo. Mas elas podem gostar de sua apresentação e passar a te seguir em redes e futuros shows”, relata o cantor. “Outra coisa interessante é o fluxo de jornalistas da área e produtores de outros festivais que circulam nesse meio. Se você agradar, pode sair dali com trabalhos futuros”, completa.
Também merece destaque o crescimento do rock universitário e da periferia, como uma cena roqueira ativa. Mas o produtor cultural Guilherme Moura lamenta a ausência de selos fortes em Pernambuco para lançar os artistas. “Na nossa cadeia produtiva, temos bandas, ótimos estúdios, público, alguns locais para shows, mas pouquíssimos selos para articular e lançar grupos daqui”, ressalta.
Tanto Paulo André, como Roger de Renor e Guilherme Moura têm a mesma opinião quanto ao diferencial dos novos artistas do rock atual do porte de Juvenil Silva, Graxa, Aninha Martins e a banda Serrapilheira. “São grupos que estão construindo sua identidade, sem ficar apenas copiando referências do passado. Eles trazem letras de qualidade, possuem conteúdo, sonoridade e, sobretudo, acreditam no seu trabalho”, destaca Moura.
Paulo André salienta que Pernambuco sempre foi um solo fértil para o chamado rock pesado (harcore, heavy metal, punk), caracterizado pela guitarra distorcida e bateria rápida. “É um som mais segmentado, não é para todo mundo, mas sempre teve um público fiel, que frequenta a cena, compra a camisa da banda e vai aos shows”, caracteriza o produtor cultural. Entre os principais nomes desse estilo estão Hate Embrace, Evocate e Saga HC.
Apesar das dificuldades, o rock pernambucano ainda pulsa. Roger de Renor é otimista. “O rock nunca vai morrer. Ele é uma ferramenta fácil, que dá acesso e voz a minorias. Estabelece, por meio de sua música, uma relação de amor e ódio, sem perder a força política ou o próprio conceito de expressão cultural”, reflete Roger.
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