O passarinho azul: entre revoluções e decisões questionáveis.
Desde sua criação em 2006, o Twitter consolidou-se como uma das redes sociais mais icônicas do século XXI. A imagem do passarinho azul, mais do que um mero símbolo ou marca, tornou-se emblema de voz, resistência e comunicação rápida numa era digital. No entanto, desde que passou a estar sob a batuta de Elon Musk, essa ave, outrora majestosa, viu-se enredada em ventos turbulentos.
Durante grande parte de sua existência, o Twitter foi uma praça pública de debates fervorosos, uma vanguarda de movimentos sociais e uma ferramenta poderosa nas mãos de ativistas, jornalistas e líderes globais. No entanto, com a entrada de Musk, esse cenário começou a mudar.
Esperava-se de Musk, no mínimo, uma abordagem inovadora, como é típico de suas empreitadas. Contudo, suas intervenções polêmicas no Twitter distanciaram-se da essência que cativou milhões de usuários. As mudanças na política de uso e algoritmos foram apenas algumas das escolhas que desencadearam ondas de insatisfação. Por fim, a decisão de abandonar a marca "Twitter" (em favor de "X"), feriu de morte o passarinho.
Sob o olhar de marketing ou da propriedade intelectual, abandonar uma marca tão simpática, valiosa e forte é algo muito arriscado, até mesmo reprovável, pode-se dizer. Isso se agrava quando a substituição se dá por uma nova marca fraca, formada apenas por uma letra “X”, algo extremamente desgastado e de difícil registro em vários países. Se essa decisão não for alguma cartada genial oculta, que vise outros intuitos não revelados, será desastroso.
A plataforma vive agora uma fuga de assinantes, a ascensão de concorrentes e uma redução alarmante em seu valor de mercado. O espaço que antes simbolizava a liberdade de expressão e a interação autêntica passa por momentos de desconexão com suas raízes, ou melhor, seu ninho.
Mas não podemos esquecer o impacto profundo e as revoluções que o Twitter fomentou ao longo de sua história. A plataforma abriu portas para que vozes, muitas vezes silenciadas, fossem ouvidas. Movimentos como o #MeToo, sobre assédio sexual, e as discussões acaloradas que transformaram a política e a sociedade nasceram e se fortaleceram sob suas asas.
Ao refletir sobre esse legado lembramos das inúmeras campanhas e fatos históricos que primeiro viram a luz do dia na plataforma e, em seguida, reverberaram globalmente. A hashtag #BlackLivesMatter, por exemplo, começou como um simples tweet e transformou-se em um movimento global contra o racismo e a brutalidade policial. Catástrofes naturais, ataques terroristas e eventos mundiais frequentemente eram relatados primeiro por cidadãos no Twitter antes de serem captados pela mídia tradicional. A plataforma também desempenhou um papel crucial durante as eleições, com líderes e candidatos usando-a como ferramenta primária de comunicação. O Twitter não foi apenas uma rede social; foi, por muitos anos, o epicentro da disseminação de informação, conectando e informando o mundo em tempo real.
Agora, ao nos despedirmos do passarinho azul e de sua marca original, é inevitável sentir uma mistura de gratidão, nostalgia e desapontamento. O legado do Twitter, embora agora ofuscado por decisões recentes, é inegável e permanecerá na memória digital de gerações. Adeus, Twitter. Em seu auge ou em sua queda, seus voos não serão esquecidos.
*Gustavo Escobar é advogado, sócio da Escobar Advocacia.