A proposta de reforma do ensino médio está sendo objeto de controvérsia e de protestos materializados por ocupações de várias escolas em todo o Brasil. Ela foi inspirada em experiência bem-sucedida de Pernambuco que subiu, em poucos anos, do 21º (nota 2,7) no ranking do Ideb (MEC/INEP) para o 1º lugar (nota 3,9) dentre os Estados do País.
A proposta que objetiva reduzir o número de disciplinas obrigatórias e estender a jornada escolar é um avanço pois permite ao estudante fazer a escolha das matérias que melhor atendem aos seus objetivos. Alguns estudantes poderiam, assim, concluir o curso com conhecimento profissional que lhes permitissem encarar o mercado de trabalho de imediato, sem prejuízo de mais adiante procurar ingressar em curso superior, ou pode prepará-lo logo para este último objetivo.
O atual curso médio não faz bem nem uma coisa, nem outra. O resultado se manifesta em altas taxas de abandono (6,8% em 2015) e de distorção idade-série (27,4% em 2015) além do elevado percentual daqueles jovens de 15 a 29 anos de idade que nem estudam nem trabalham (22,5% em 2015). Questionados sobre a razão do protesto e das ocupações o principal argumento das lideranças estudantis não recai no conteúdo, até mesmo porque é difícil lhes negar os benefícios, mas na forma, ou seja, que a matéria não deveria ter sido encaminhada pelo Executivo Federal como medida provisória. Concordo com o argumento não fosse o fato de que matéria semelhante está adormecida no Congresso Nacional há anos sem que tenha sido aprovada, muito menos exaustivamente debatida. Todavia, dado esse argumento será que é mesmo urgente avançarmos nessa questão?
Argumento que sim, pois reformas do ensino, em qualquer nível, levam muitos anos para gerar os primeiros resultados. Veja-se o caso da Coreia do Sul que revolucionou sua educação e, por consequência sua economia, em cerca de 20 anos. O Brasil tem pressa. Isso está claro nos últimos resultados do Pisa, um teste internacional de proficiência em matemática e ciências, onde o Brasil há anos se situa sempre na cauda inferior dos resultados. No último exame (2016) o Brasil alcançou o 65º lugar entre 70 países no exame de matemática.
Os países bem-sucedidos no Pisa, antes europeus como Holanda e Finlândia e, mais recentemente, os asiáticos como Cingapura e Coreia do Sul, creditam seu sucesso a um pequeno, mas importante conjunto de fatores, quais sejam: professores recrutados e constantemente reciclados em bons centros superiores de formação; docentes que são remunerados de acordo com habilidades, méritos e produtividade valorizados pelo mercado; boa gestão escolar baseada em disciplina, método e resultados permanentemente monitorados, e aplicação rigorosa do princípio de que nenhum estudante pode ser deixado para trás. Adicione-se a esses ingredientes a valorização da educação pela sociedade e a participação cuidadosa dos pais na interação com a escola e obtém-se uma receita de sucesso. A qualidade da educação resultante forma cidadãos e pessoas qualificadas para atender às demandas de uma economia moderna e competitiva. Falta de dinheiro não é o principal problema nem nesses países, nem no nosso. Vários especialistas já afirmaram que recursos financeiros não constituem o maior obstáculo à conquista de uma educação de boa qualidade.
As principais dificuldades estão: na formação dos professores que saem mal preparados dos centros de educação das nossas faculdades e universidades; nas deficiências curriculares dos cursos de formação que não os qualificam bem para a sala de aula; na consequente má remuneração que não atrai os melhores profissionais para as escolas; na falta de uma política permanente de requalificação docente; na aversão de alguns professores e sindicatos a mecanismos meritocráticos de desempenho, e a uma gestão escolar quase sempre tíbia e descomprometida das metas estabelecidas pelas autoridades educacionais.
A resultante é que o País apresenta baixos indicadores educacionais e, por conseguinte, uma economia de baixo conhecimento e produtividade. Não se argumenta que a educação só deva qualificar jovens para o mercado de trabalho, mas este é um dos principais objetivos da educação em uma sociedade capitalista. O outro, muito importante, é formar cidadãos para a vida em uma sociedade democrática e para serem líderes em todos os setores de atividade.
Não estamos atingindo os dois objetivos. E os jovens que ocupam as escolas talvez não tenham plena consciência disso. Em vez de ocupar escolas devemos deixar que a educação ocupe o País.