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"Para baixar os preços, é preciso um programa de estímulo à produção"

Claudia Santos

Ao abastecer o carro, cozinhar ou pagar a conta da luz, a constatação é a mesma: o temível dragão da inflação voltou. E, mais uma vez, a maior vítima da fera do aumento de preços são os pobres que amplificam o contingente de miseráveis do País. Para saber sobre os fatores que elevam os preços no Brasil, Cláudia Santos conversou com a economista Amanda Aires, professora de economia da UniFBV. Em meio às crises sanitária, hídrica e institucional, ela aponta um cenário ainda complicado para o País em 2022.

Mas, por não querer ratificar a ideia de que os profissionais de economia são sempre portadores de má notícia, Amanda indica algumas saídas. Uma delas é pôr fim às pelejas institucionais que tanto prejudicam os investimentos no Brasil . “Essa briga da Presidência e do STF está cansando todo mundo”, constata a economista que, também, propõe um programa de estímulo à produção para combater a alta de preços. “O País precisa ter uma agenda de investimentos de longo prazo”, alerta Amanda. Confira as análises da especialista a seguir.

Agenda TGI

Qual o impacto da crise climática nos preços no País?

O impacto é imenso. Por exemplo, temos uma seca prolongada dentro das principais regiões produtoras de energia do Brasil e isso se reflete em todos os preços. A tendência é de uma expansão de preços ainda maior porque o Governo Federal atrasou a ligação das termelétricas. Ele ficou negando (a crise hídrica) e agora temos uma alta de preços de energia muito forte, que repercute em toda a sociedade: na conta de luz da pessoa física mas, também, no custo da indústria e do setor de serviços. É bem caótica a situação. Então, existe o fator climático sim, mas não houve um bom gerenciamento dessa questão hídrica. Os preços iriam aumentar de qualquer jeito mas o aumento poderia ser menor.

E até o momento não há uma orientação para a população economizar energia...

Economizar energia para o governo significa apagão. E acontecer um apagão agora, para um governo que está extremamente desgastado, é jogar uma pá de cal em qualquer possibilidade de haver reeleição.

Como a recuperação da economia da China influencia no preço dos produtos no Brasil?

A China já vem se recuperando há um tempo. As pessoas não confiam muito nos dados chineses mas o fato é que eles conseguiram controlar a Covid-19 de forma mais consistente e muito mais rápida. Aí, quando eles voltam a crescer, voltam a importar. E, quando eles voltam a importar, aumentam a demanda pelas nossas commodities. A tendência é que haja um aumento de preços no mercado interno. Teremos aumento de preços em todos os lugares do mundo pois a China influencia muito os mercados globais.

Como a instabilidade política do País reverbera na inflação?

Pense numa pessoa que vai investir no Brasil. Aí ela olha e fala: “minha nossa, isso aqui é bagunça! É uma treta em cima de treta!” Há uma crise institucional muito grave; existe um problema entre o executivo e o judiciário, você não sabe se Bolsonaro vai sofrer impeachment, a pauta econômica foi para o espaço há muito tempo. Então, a tendência é de que haja um agravamento da situação e as pessoas não querem investir.

Mas, quando Bolsonaro, na semana passada, divulgou aquela carta foi ótimo porque dizia: vamos pacificar. Embora os bolsonaristas mais raiz tenham ficado com raiva, dizendo que ele “arregou”, a verdade é que é preciso pacificar, porque senão a gente vai entrar num ritmo de colapso. Os preços estão altos, a tendência é de aumento ainda maior. São 14 milhões de desempregados no País, há muito mais gente sendo levada para a miséria, há uma pandemia que ainda não é plenamente controlada e, além disso tudo, há uma crise institucional.

Tudo isso é muito ruim. As pessoas não entendem que quanto mais caos político, menos a economia consegue progredir. Então é preciso pacificar para que consigamos ter uma agenda mínima de alguma reforma que passe no Congresso e a gente consiga ter um cenário positivo, não para 2022 mas para 2023. O ano de 2022 vai ser um ano muito ruim porque é um ano de eleição, em que há uma instabilidade maior.

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