Na era da informação, a sociedade anseia por cidadãos que tenham mais do que apenas conhecimento. As capacidades e habilidades para lidar com as demandas do Século 21 estão bem além do que é exigido em qualquer exame de acesso às universidades. O CEO do C.E.S.A.R. e professor da UFPE Sérgio Cavalcante destaca ser necessário um comportamento inovador para resolvermos os problemas do mundo contemporâneo.
Apesar dos brasileiros serem bastante criativos, ressalva Cavalcante, o modelo tradicional do sistema de ensino no País joga contra uma formação mais crítica, analítica e inovadora. Para o CEO do C.E.S.A.R., quando o sucesso do modelo de educação é apenas preparar o ingresso dos alunos para as instituições de ensino superior a sociedade sai perdendo. Esta edição especial coloca em discussão alternativas e apresenta experiências educativas em Pernambuco que estimulam alunos a serem protagonistas do seu aprendizado e do mundo.
“A aprendizagem na maior parte das escolas e universidades é totalmente obsoleta porque insistem em produzir uma pedagogia baseada na transmissão de informação. Bom, não precisamos de transmissão de informação, porque a informação está toda na internet.” A provocação do sociólogo espanhol Manuel Castells já foi compreendida por instituições que têm apostado em novas formas de construção do conhecimento. Aprendizados que dialogam com a vida e com a realidade dos alunos, de forma multidisciplinar.
A pressão pelo ingresso nas instituições de ensino superior do País faz as escolas adotarem um modelo “entregar tudo de bandeja”, de acordo com Sérgio Cavalcante. “Não se ensina a ler, aprender, buscar e analisar informações. Não se ensina a apresentar os resultados. Ensina-se a resolver problemas e não a encontrá-los. Isso desestimula os alunos a serem analíticos e proativos”. Ele avalia que há um grande risco dos estudantes se tornarem acadêmicos passivos, consecutivamente, profissionais que não conseguem encontrar soluções e inovar.
Para estimular a autonomia dos alunos na construção do conhecimento, uma inovação implantada no Colégio Equipe, neste ano, foi a criação da sala Aprender a Aprender. “É um espaço de estudos que tem como objetivo impulsionar o desenvolvimento do conhecimento e raciocínio dos alunos”, afirma o monitor Rafael Andrade, que é universitário, do curso de Bacharel em Física da UFPE, e ex-aluno do Equipe. A proposta do ambiente é colaborar com os alunos para aproveitarem melhor seu tempo e material e avançarem nos estudos além do que é exigido pelos professores. “Buscamos valorizar o processo de aprendizagem e não apenas a aquisição de conteúdos”, completa o professor Armando Vasconcelos, diretor do colégio.
Na sala, os monitores são responsáveis por dar o suporte aos estudantes nas dúvidas que tiveram nas aulas, mas também são provocadores de novos conhecimentos. “Oferecemos algumas questões-desafios que não irão ser cobradas em provas, mas incitam o raciocínio. Debatemos temas atuais, políticos, sociais, que são mais difíceis de serem tratados na sala de aula convencional”, explica Rafael. O design da sala foi construído também para facilitar o múltiplo uso do espaço, para os diferentes tipos de práticas de aprendizado que são utilizadas no local.
Os estudantes do ensino médio também são desafiados a desenvolver um projeto de pesquisa em grupo ao longo de todo o ano. “Nosso objetivo é desenvolver a autonomia do aluno na pesquisa e produção de conhecimento”, afirma Vasconcelos. Além do acompanhamento do professor, os alunos são avaliados por uma banca composta por docentes do colégio e convidados do mercado e das universidades. De acordo com o diretor, os alunos têm optado por temas com viés de protagonismo social e relacionados com as áreas profissionais que pretendem seguir. “É uma simulação da vida real e acadêmica”.
Laboratório
Para instigar os alunos a colocarem a “mão na massa”, a Aba Global Education trouxe, desde fevereiro, o Fab Lab Recife. Trata-se de um laboratório que integra uma rede mundial de fabricação digital elaborada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). “É uma fábrica digital com computadores, impressora 3D, cortadora a laser e outros equipamentos. É um espaço para prototipar ideias, fabricar objetos de interesse dos alunos e da escola. Os professores são facilitadores, que desafiam a produção dos grupos”, afirma Eduardo Carvalho, diretor da ABA. Com o Fab Lab foi criada também a Maker School, baseada na cultura maker (faça-você-mesmo). Nela são oferecidas oficinas de conteúdos de eletrônica, fabricação digital, gameficação, raciocínio lógico, entre outros.
Tanto nos cursos de inglês como na sua escola bilíngue, a ABA oferece um ecossistema que estimula o aluno à criatividade, autonomia e inovação. “Nossa visão é formar cidadãos globais, líderes e empreendedores. Desenhamos um currículo em que tratamos questões do que fazer para criar um mundo melhor. Desde o ensino infantil conversamos sobre os países, grandes líderes mundiais e discutimos problemas globais”, completa o diretor.
Eduardo explica que há uma atuação transversal na instituição em prol do desenvolvimento da aprendizagem para o século 21. “Quatro habilidades são fundamentais: pensamento crítico, criatividade, colaboração e comunicação. Outras como iniciativa, flexibilidade, capacidade de adaptação, que são questões mais pessoais, e a competência de usar bem as mídias, são importantes para o trabalhador no mundo contemporâneo”. Diversos projetos na ABA estimulam o empreendedorismo, a criatividade e até mesmo as habilidades relacionadas ao equilíbrio emocional.
O incentivo à iniciação científica é o caminho escolhido pelo Colégio Lubienska para estimular o protagonismo estudantil. Inspirados na metodologia do design thinking, que tem como proposta “pessoas pensando em solução para pessoas”, a escola convida os alunos a escolherem um tema para pesquisar e pensar em soluções viáveis. “Procuramos desenvolver uma ação educativa que coloque o aluno como protagonista do seu processo de aprendizagem. Eles estão desenvolvendo os projetos desde o início do ano. Fazem os protótipos para resoluções dos problemas escolhidos, testam com a comunidade, até chegar a solução”, afirma Sandra Spinelli, coordenadora pedagógica do ensino fundamental 1.
Um dos projetos desenvolvidos por estudantes do 5º ano do ensino fundamental foi voltado para a acessibilidade, por uma turma que tem dois alunos cadeirantes. Eles pesquisaram alternativas de rampas portáteis para espaços que não são acessíveis. “Eles identificaram que as rampas já usadas para essa finalidade eram muito pesadas e projetaram um modelo mais leve”. O desafio envolveu um dos pais que era arquiteto e chegou na fase de protótipo com materiais diferentes para alcançar o modelo ideal.
*Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais
LEIA TAMBÉM