*Por Paulo Caldas
A partir da criatividade, virtude marcante dos escritos (e títulos) concebidos generosamente à sua obra literária, Maurício Melo Júnior chega a este “Não me empurre para os perdidos”, um dos livros de ficção merecedores de elogios nos últimos tempos em Pernambuco.
Ao folhear as primeiras páginas, surge apressada a perspectiva da próxima cena, graças ao artifício da narrativa na primeira pessoa cuja empatia autor- personagem sugere a presença do leitor em cada cenário.
Ambientado neste Burgo Maurício, no longínquo ano de 1924, o quase sempre solitário protagonista em périplos cotidianos ressuscita hábitos e preferências, cheiros e sabores nostálgicos de ruas, ruelas, becos e vielas dos santos bairros ilhados e arrabaldes esquecidos, respirando ares provincianos com aspirações europeias.
Quando não, na calmaria dos bondes, segue Arminda, a sua musa da Rua Nova. E assim, reflete: como seria possível casar e ter solidão? Seria possível com ela, a cacheira suburbana por quem nutre um amor sem intimidades.
À margem de um Capibaribe de dorso empardecido, contracena tímido com lugares e personalidades intelectuais, Zé Lins, Freyre, Cardozo. O protagonista, um escritor recluso (mala suerte), cumpre a sina dos seus pares. Engendra uma guerra inútil (como são as guerras) entre reinos perdidos na história.
Maurício Melo Júnior é cônscio de que o ato de escrever está no âmago, flui da abnegação, do apego ao caminho do belo e tal certeza cinge sua lida. Fiel à estética e ao verossímil, vai além das plagas do hoje e colhe palavras e frases de antanho que certificam a narrativa: alcaide, arrebol, cercanias, digladiar, bolor, hostes, os moços, acredito piamente.
“Não me empurre para os perdidos”, tem uma primorosa edição da Companhia Editora de Pernambuco (CEPE), com editoria de Wellington Melo e projeto visual de Luiz Arrais. Os exemplares podem ser adquiridos na livraria da CEPE.
* Escritor