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Para voltar a ouvir

Claudia Santos

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O implante coclear é um recurso da medicina que tem permitido a pessoas com problemas graves de audição ter a felicidade de voltar a ouvir. Trata-se de um dispositivo que não amplia o som como os aparelhos para a surdez convencionais, mas substitui as células auditivas danificadas, estimulando diretamente o nervo responsável pela audição. Ele é implantado por meio de uma cirurgia. Possui uma porção externa, acoplada logo atrás da orelha, e uma porção interna, que é colocada dentro da orelha do paciente.

Segundo a otorrinolaringologista Patrícia Santos do Hospital Agamenon Magalhães, sua indicação abrange diversos critérios, mas em linhas gerais pode ser usado por pessoas com perda auditiva severa a profunda, com problemas de audição bilateral (nas duas orelhas) e que não conseguem ter resultados satisfatórios com os aparelhos auditivos convencionais. “Em bebês, o diagnóstico é feito durante o teste da orelhinha”, informa a médica.

O exame consiste na colocação de uma espécie de fone acoplado na orelha da criança que emite sons de fraca intensidade e recolhe as respostas dadas pelo bebê. Se ela der negativa, já é possível a colocação do aparelho. Segundo Patrícia, a intenção é realizar cirurgias em crianças que ainda não falam para que sejam estimuladas desde cedo. “Nosso intuito é fazer o Assim, a criança vai falar tudo no futuro. É como ela não tivesse nenhum problema de audição. Se for mais tarde, a dificuldade é bem maior”, afirma.

Apesar de ter passado da idade ideal para realizar o procedimento, Lucas Coelho Diniz, de 4 anos, já colhe os frutos da cirurgia. O pequeno fez a intervenção em fevereiro, mas, de acordo com mãe Rosiane Coelho, a melhora já é visível. “Apesar do pouco tempo de cirurgia, ele já nos entende e também já conseguimos entender o que ele quer. A principal melhora foi na convivência com todos, porque é bem complicado viver com alguém,mas não saber o que ele quer e ele também não saber o que estamos falando ou sentindo”, diz.

Mas não são só as crianças as contempladas com o implante. Adultos e idosos também podem se beneficiar. Foi o caso de Enoque Martiniano da Silva, de 47 anos. “Eu ouvia normal, mas, aos poucos, comecei a perder a audição, até o momento que percebi que eu não estava escutando bem. Fui ao hospital, os médicos me examinaram e viram que eu tinha algo chamado de ‘perca em rampa’. Perdi cerca de 67% da capacidade auditiva”, conta Enoque. “Estou usando o implante coclear desde o início de 2015. Eu usava o aparelho auditivo desde 2010, mas ele não resolveu o problema. O implante, por outro lado, melhorou muito minha dificuldade”, completa.

Entretanto, para quem pensa que o retorno da audição é instantâneo, Enoque faz uma ressalva. “Ele funciona, mas quando saí da sala de cirurgia pensava que já estaria ouvindo tudo, mas não ouvi nada. Porque requer um tempo até colocar o aparelho, fazer alguns ajustes e exames também. A partir do momento que o aparelho é ligado, a audição retorna 100%”, afirma. Enoque conta que a interação com as pessoas, após a cirurgia, melhorou.

Apesar de já utilizar aparelho há mais de um ano, a adaptação ainda não está concluída. “Existem diversos locais que eu desligo o aparelho, porque o barulho incomoda mais a quem não escuta. Quem tem audição vai se acostumando com o barulho desde o momento do nascimento. Eu não sou assim”, comenta. “Tenho me acostumado novamente com os sons desde o início de 2015. Preciso desligar o aparelho para dormir, então cada amanhecer é um novo aprendizado”, explica. “Toda vez que ligo o aparelho vem uma explosão de sons. Minutos depois, acabo entrando no ritmo normal, aí já não incomoda tanto”, relata.

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