Nasceu em 16 de junho de 1927, na cidade da Parahyba, naquele tempo a capital do Estado da Paraíba. Aos 15 anos de idade veio para o Recife, escrevendo as primeiras linhas de uma imorredoura história de amor.
Em 1945 concluiu o curso secundário e logo ingressou na Faculdade de Direito do Recife. Ao correr daqueles dias, formou-se o advogado, filósofo, dramaturgo, romancista, ensaísta, professor e poeta Ariano Suassuna, cuja morte, em 23 de julho de 2014, aos 87 anos, foi um doloroso golpe na cultura brasileira e, especialmente, na do Nordeste, da qual foi incansável defensor brandindo as armas da sua obra.
A primeira peça foi Uma mulher vestida de sol, e em seguida vieram Cantam as harpas de Sião – ou O desertor de princesa – montada pelo Teatro do Estudante de Pernambuco, e Os homens de barro. Vieram depois Torturas de um coração, O castigo da soberba, O rico avarento e, em 1955, sua obra-prima, o Auto da Compadecida, que o fez famoso nacionalmente, “O texto mais popular do moderno teatro brasileiro”, segundo o crítico Sábato Magaldi.
Calma, leitor. Tem mais.
Também são de Ariano Suassuna O Casamento suspeitoso, encenada em São Paulo, pela Companhia Sérgio Cardoso; O santo e a porca; Farsa da boa preguiça; A caseira e a Catarina; O homem da vaca; O poder da fortuna; e A pena e a lei, esta premiada no Festival Latino-Americano de Teatro.
Fez, ainda mais, As conchambranças de Quaderna; A história de amor de Fernando e Isaura. O pasto incendiado; Ode; Sonetos com mote alheio; Sonetos de Albano Cervonegro; Poemas (antologia); Literatura do Brasil; O arco desolado.
Usina de criatividade, contudo, não se ateve ao teatro. Fez prosa, com os romances A pedra do reino e o Príncipe do sangue do vai-e-volta e História d’O rei degolado nas caatingas do Sertão – Ao sol da onça Caetana, que classificou como “romances armoriais-populares brasileiros”.
Inquieto, prosseguiu criando, inovando, enfrentando, defendendo este Nordeste que vivenciou de perto. E tanto quanto sua obra criava e multiplicava personagens, seu relógio parecia multiplicar o tempo.
Fundou o Teatro Popular do Nordeste, ensinou Estética na UFPE, onde defendeu a tese A onça castanha e a Ilha Brasil: Uma reflexão sobre a cultura brasileira, cofundou o Conselho Federal de Cultura, dirigiu o Departamento de Extensão Cultural da UFPE e iniciou o Movimento Armorial, para dar a conhecer as formas de expressão populares.
Ademais, convocou expressivos músicos para criar música erudita nordestina para integrar o concerto Três séculos de música nordestina – do barroco ao armorial. Integrou as academias de letras da Paraíba, de Pernambuco e foi Doutor Honoris Causa pelas Universidades do Rio Grande do Norte, da Paraíba, Federal Rural de Pernambuco, de Passo Fundo e do Ceará.
Teve tempo até para receber homenagens.
Recebeu o Prêmio Nacional de Ficção, o Prêmio Martins Pena pelo Auto de João da Cruz, foi tema de enredo no carnaval carioca na escola de samba Império Serrano e na Mancha Verde, no carnaval paulista. Em 2013 sua mais famosa obra, o Auto da Compadecida, foi o tema da escola de samba Pérola Negra, de São Paulo.
A Trinca Filmes produziu um documentário intitulado O Sertão: Mundo de Ariano Suassuna, e a Rede Globo, em homenagem aos seus 80 anos, produziu a minissérie A pedra do reino.
Ariano Suassuna teve sua obra traduzida para inglês, francês, espanhol, alemão, holandês, italiano e polonês mas, mesmo assim, se via com simplicidade. Tanto que costumava se dizer um escritor de poucos livros e poucos leitores, fingindo não saber contar os seus milhões de leitores em todo o mundo. “Vivo extraviado em meu tempo por acreditar em valores que a maioria julga ultrapassados. Entre esses, o amor, a honra e a beleza que ilumina caminhos da retidão, da superioridade moral, da elevação, da delicadeza, e não da vulgaridade dos sentimentos”.
Amargo, prosseguia: “Eu digo sempre que das três virtudes teologais chamadas, eu sou fraco na fé e fraco na caridade, só me resta a esperança. Eu sou o homem da esperança”.
*Por Marcelo Alcoforado