Categoria denuncia sucateamento do sistema e aponta tentativa de privatização como causa da crise no transporte público
*Por Rafael Dantas
O colapso do metrô do Recife motivou os metroviários de Pernambuco a iniciarem uma paralisação por tempo indeterminado. O movimento, deflagrado na última quinta-feira (30), começou efetivamente nesta segunda-feira, com o fechamento de todas as estações do sistema. Nenhum trem entrou em operação.
Presidente do sindicato é detido uma hora antes de manifestação

Durante a mobilização realizada na manhã de hoje, no Centro de Manutenção de Cavaleiro, o presidente do Sindicato dos Metroviários de Pernambuco, Luiz Soares, chegou a ser detido pela Polícia Militar. A ação aconteceu cerca de uma hora antes de uma passeata que a categoria iria realizar da Estação Recife até o monumento Tortura Nunca Mais, na Rua da Aurora. Segundo os metroviários, a detenção reforça o clima de tensão e a tentativa de enfraquecimento da mobilização da categoria. Desde a fundação do Sindmetro-PE não há registro de coação da PMPE como o ocorrido hoje.
De imediato, o Sindmetro-PE emitiu nota de repúdio: "Essa prisão é um ato de abuso e autoritarismo, um ataque direto à liberdade sindical e ao direito constitucional de greve. Criminalizar a organização dos trabalhadores é um retrocesso inaceitável e um atentado à democracia. A greve foi decidida de forma coletiva pelos metroviários e metroviárias na noite do último dia 30 de outubro de 2025, diante do abandono do Governo Federal e da falta de condições mínimas de segurança no sistema metroviário", diz a nota do sindicato.
Além do episódio envolvendo o presidente do Sindmetro-PE, viaturas foram enviadas à sede do sindicato pela manhã e no turno da tarde houve outro reforço da presença policial na Oficina de Cavaleiro.
Em nota enviada pela assessoria de imprensa, a PMPE informou que: "A Polícia Militar de Pernambuco, por meio do 25º Batalhão, foi acionada para garantir a passagem dos trabalhadores que não aderiram à greve e queriam entrar no Centro de Manutenção da CBTU, em Cavaleiro. Na operação, o líder sindical chegou a ser conduzido à viatura e, na sequência, liberado, pois nenhum funcionário manifestou interesse em representar o ocorrido junto à autoridade policial. A Corporação ressalta que as tratativas da ocorrência seguem relacionadas ao possível desbloqueio e à garantia de acesso aos locais de trabalho aos funcionários que desejem não aderir ao movimento grevista e continuar exercendo suas funções."
Questionada sobre quem teria acionado a PMPE, visto que não consta na nota oficial, a assessoria informou que não tinha a informação.
Metroviários de Pernambuco realizam ato político nesta terça (4)

Após o ato frustrado devido à detenção do seu presidente, o Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (Sindmetro-PE) convocou a população e os trabalhadores do metrô a participarem do ato político que será realizado nesta terça-feira, 4 de novembro, a partir das 13h, em frente ao Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT-6), localizado no Cais do Apolo, área central do Recife.
“O que queremos é um metrô público, seguro e com tarifa zero. Esse deve ser o compromisso do presidente Lula — não a privatização do sistema, como vem sendo discutido. A governadora Raquel Lyra deveria cuidar da educação, da saúde e do transporte rodoviário, que vivem crises graves, mas escolheu atacar o metrô e os trabalhadores”, concluiu Luiz Soares.
Operação da polícia não pode ser normalizada

Em entrevista na manhã de hoje, após a detenção, o presidente do Sindmetro-PE ressaltou o ato pacífico e a surpresa com a atuação policial contra os metroviários. “Tivemos esse problema seríssimo com a Polícia Militar de Pernambuco, que agiu incorretamente. Estávamos fazendo uma movimentação bastante organizada e pacífica, quando o sargento chegou e disse que queria que fôssemos conduzidos à delegacia." O dirigente sindical classificou "ação arbitrária".
O presidente cobrou dos policiais alguma documentação que formalizasse a referida denúncia e necessidade de detenção. Nada foi apresentado. Como não havia ninguém para fazer a denúncia, a PMPE suspendeu a operação após manter o líder sindical por cerca de 40 minutos em uma viatura.
Além da solicitação de esclarecimentos à PMPE e à Secretaria de Defesa Social, a Algomais questionou o posicionamento da Secretaria-Geral da Presidência da República acerca do episódio e se há alguma tratativa para uma reunião com o Sindmetro-PE, até o fechamento da publicação não obtivemos resposta.
Sucateamento e privatização no centro da crise

De acordo com o sindicato, o colapso do metrô é resultado de um processo contínuo de sucateamento da rede, com o objetivo de viabilizar a privatização do sistema. A proposta, criada ainda no Governo Bolsonaro, quando incluiu a empresa no Programa Nacional de Desestatização (PND) e não foi revertida durante o Governo Lula, apesar de ter sido uma das promessas de campanha do petista em 2022.
Os metroviários afirmam que a falta de investimentos, a redução de quadros técnicos e os recorrentes problemas operacionais são consequências diretas dessa política de desmonte. Desde a entrada da Companhia Brasileira de Trens Urbanos no PND, uma série de episódios críticos vem assustando passageiros e trabalhadores. O fluxo de usuários do sistema despencou e várias composições viraram sucata.
A greve dos metroviários expõe não apenas a crise estrutural da CBTU, mas também a urgência de um debate transparente sobre o futuro do transporte público no Recife. Enquanto trabalhadores denunciam o desmonte e cobram investimentos, o impasse entre governo federal, estadual e categoria ameaça prolongar um cenário de instabilidade que afeta diretamente milhares de usuários que dependem do metrô diariamente.
*Rafael Dantas é repórter da Revista Algomais e assina as colunas Pernambuco Antigamente e Gente & Negócios (rafael@algomais.com | rafaeldantas.jornalista@gmail.com)
				
