Dossiê digital reúne fotos, textos, vídeos e geolocalização de terreiros e evidencia importância cultural e ancestral do município pernambucano
A cidade de Paudalho, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, passou a integrar o mapa nacional e internacional das tradições afro-indígenas após a divulgação do “Dossiê Território Ancestral”, levantamento que identificou 19 casas de culto em funcionamento. A pesquisa, disponível em plataforma digital, reúne fotografias, textos, vídeos e geolocalização dos espaços dedicados à Jurema Sagrada, Umbanda, Candomblé e práticas de matriz afro-indígena. O resultado posiciona o município entre as regiões com maior concentração de terreiros no Brasil.
Metodologia baseada em escuta e protagonismo religioso
O projeto foi idealizado por Jaifalerì, Babalossayn do Ylê Axé Xangô Ayrá, que assina a pesquisa ao lado da produtora cultural Belisa Alves, Filha de Oxum, e do fotógrafo Edgar Lira, Filho de Ogum. A iniciativa parte de uma perspectiva interna das tradições, operando como instrumento de afirmação identitária e enfrentamento ao racismo religioso. A equipe percorreu áreas urbanas, rurais e de difícil acesso para registrar práticas, rezas, ritos e saberes transmitidos por gerações. “Mapear não é invadir, é proteger”, afirma Belisa Alves, destacando que a escuta feita por praticantes gera confiança e troca de saberes que pesquisas externas não alcançam.
Registro audiovisual reforça preservação da memória
O fotógrafo Edgar Lira produziu mais de 140 imagens oficiais, registrando lideranças, espaços sagrados e objetos rituais, compondo um acervo que integra também o documentário “Território Ancestral”. A criação busca demonstrar que tecnologia e ancestralidade se complementam na preservação cultural. O material foi apresentado durante a Mostra Território Ancestral, que reuniu mães e pais de santo, pesquisadores e moradores para lançar o dossiê, exibir o documentário e oferecer devolutiva pública à comunidade.
Desafios institucionais e afirmação cultural
Apesar dos convites, instituições municipais e estaduais tiveram baixa participação na Mostra, fato que, segundo a coordenação, evidencia fragilidades estruturais no apoio às religiões de matriz afro-indígena e reforça o impacto da intolerância religiosa. Ainda assim, o trabalho aponta caminhos para o fortalecimento das redes espirituais, ampliação da visibilidade dos terreiros e produção de conhecimento a partir das próprias comunidades. “Este trabalho é continuidade”, diz Jaifalerì. “É a certeza de que as próximas gerações terão acesso à história que sempre existiu, mas que muitas vezes foi silenciada. A ancestralidade não é passado: é presente e futuro.”
Acesso aberto ao dossiê e contextualização histórica
O dossiê completo pode ser consultado no site territorioancestral.com.br, que disponibiliza conteúdos multimídia e informações detalhadas sobre cada casa de culto. A pesquisa também está presente no perfil @mapeamentoancestral no Instagram, além do documentário gratuito no YouTube. Paudalho, município de cerca de 56 mil habitantes localizado a pouco mais de 40 quilômetros do Recife, carrega uma formação histórica marcada por aldeamentos indígenas, o rio Capibaribe e antigos engenhos de cana-de-açúcar, elementos que moldaram a identidade local.
