Paulo Dalla Nora Macedo é economista e vice-presidente do política viva. Integrante e articulador de vários movimentos que discutem a gestão pública e o futuro do País, ele responde três perguntas sobre as perspectivas para 2022 no Brasil, em meio às eleições presidenciais e às previsões nada otimistas para a economia nacional.
Quais as suas perspectivas para o País no cenário de travessia da Pandemia em 2022? Quais os principais desafios você apontaria?
O governo federal já demonstrou ser insensível às recomendações da ciência e que prefere se guiar por crendices, porque isso faz parte do ethos do Presidente. Algumas pessoas chamam isso equivocadamente de “ser autêntico”, mas, na verdade, é escolha pela ignorância, e isso coloco o Brasil em risco constante de descontrole com novas variantes. Desde o início da pandemia todos os cientistas veem alertando que controlar a COVID-19 será uma luta de logo prazo e o nosso governo atual não entendeu e não vai entender isso.
O próximo ano promete um processo eleitoral decisivo para os rumos do País. A polarização se mantém? O cenário de antipolítica das eleições 2018 permanece ou será abandonado?
Espero que em 2022 tenhamos a verdadeira polarização que, no buraco civilizatório que nos metemos, é necessária: uma frente contra o obscurantismo. Só com um amplo acordo político que envolva todas as forças políticas fora desse espectro vamos começar a deixar esse lapso histórico para trás. E para isso, a política vai ser muito importante para firmar um amplo acordo de governabilidade evitando que o obscurantismo não continue a ser relevante no Brasil mesmo com a derrota. Eu estou muito empenhado nisso, e vejo muita gente empenhada, como o grupo Derrubando Muros que reúne grandes empresários, executivos e importantes lideranças da sociedade civil.
Quais as prioridades da população brasileira para o ano de 2022 e para as eleições do próximo ano?
As pesquisas indicam que a maior preocupação é de ordem econômica: inflação, emprego, renda representam mais de 50% nas pesquisas quando somados. A vida das pessoas está muito pior em 2021 e estará pior em 2022 do que qualquer outro período nos últimos 30 anos. Às duas democracias mais importantes do ocidente, EUA e Alemanha, elegeram governos que estão tentando desenhar um novo pacto social, com um audacioso projeto de maior rede de apoio social e forte investimento em transição para uma economia verde. Qual o programa econômico desse governo? Ninguém sabe dizer, são frases soltas do ministro que mais parecem uma palestra de um economista-show para elevar os espíritos dos contratantes. Nossa imagem externa foi arrasada e com isso a nossa capacidade de atração de investimentos é uma das mais baixas da história. O FMI projeta que o Brasil seja o lanterna na lista de crescimento entre os emergentes em 2022. Ano que vem será um dos piores dos últimos tempos.