Para analisar as perspectivas de retomada da economia do interior de Pernambuco, em especial do dinâmico pólo do Agreste, conversamos com o economista Pedro Neves Holanda.
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Quais os impactos da Pandemia no polo têxtil e de confecções do agreste?
De imediato as medidas de isolamento afetaram o fluxo de caixa das pequenas e médias empresas do setor. Essas empresas possuem um capital de giro muito curto. Então o impacto foi imediato na renda dos trabalhadores. Como uma parte significativa dessas empresas atuam na informalidade, o canal de proteção foi a medida de auxílio emergencial do Governo Federal. Em seguida, o auxílio ao emprego e renda dos trabalhadores formais.
Contudo, desde meados de maio que o pólo vem com uma dinâmica de retomada e adaptação. Canais de vendas digitais, adaptação da produção para máscaras e produtos de proteção, inclusive com demanda dos governos federal e estadual, e também, outra regiões do país. Essas são as principais adaptações dos empreendedores da região para manter a dinâmica econômica.
O desafio agora se concentra na reabertura das feiras das principais cidades. Caruaru concentra o maior desafio, pois, seguindo as determinações do governo estadual, ficou 10 dias em isolamento mais rígido.
O processo de retomada será de cautela e deve envolver novos protocolos e cuidados, já que as feiras concentram uma forte aglomeração e fluxo de pessoas de outros estados do país, aumentando o risco sanitário.
Estimativas de que até o final do ano mais de 1 milhão de máscaras sejam produzidas na região do pólo de confecção do agreste.
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Quais as perspectivas do setor para o cenário pós-pandemia?
Ainda há muitas incertezas sobre a retomada. O principal obstáculo serão os riscos sanitários que as feiras e centros comerciais do setor de confecção pode enfrentar. Entidades empresariais e o poder público buscam encontrar alternativas.
Por outro lado, oportunidades podem surgir. A demanda por máscaras e produtos de proteção individual deve manter-se em alta nos próximos períodos. A região pode ganhar destaque nacional nessa cadeia produtiva. Há também um aspecto internacional que pode trazer benefícios. Um cenário geopolítico mais difícil para o comércio internacional, principalmente envolvendo a China, pode trazer uma oportunidades para a região. Antes da pandemia, a competição com produtos chineses era um grande desafio dos empreendedores da região. Dado que o ritmo de produtividade e, portanto, de competitividade chinesa prevalecia. Caso esse cenário se concretize, oportunidades podem surgir para o pólo de confecções. Contudo, será necessário um avanço na produtividade local.
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Tem crescido o discurso de incentivo às indústrias nacionais e redução da dependência chinesa. É uma janela de oportunidade para o polo do agreste?
É uma janela de oportunidade. Mas ainda não concretizada. O cenário internacional ainda é incerto. Há sinais de mudanças, mesmo que temporários. Países como Índia e Brasil podem se beneficiar de um eventual enfraquecimento da China.
Mas ainda é cedo para destacar como uma oportunidade de fato. E nesse sentido, a economia local tem que continuar buscando avançar na produtividade. O que possibilitaria algum nível de competitividade com produtos chineses.
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Olhando para os setores em que o interior de Pernambuco é forte e para as tendências do mercado pós Pandemia, onde estão as principais oportunidades e ameaças na sua opinião?
Temos um setor tradicional da economia brasileira, a agropecuária. O maior desafio do setor, principalmente na região agreste, sempre foi o fator climático. Contudo, os últimos anos tem sido de chuvas. Então o segmento pode ajudar na retomada da economia.
Outro setor que tem fortes expectativas é o da construção civil.
Com os níveis baixos de taxas de juros Selic em torno de 2,25%, programas como, Minha Casa Minha vida, devem voltar a se expandir. Na região, boa partes das empresas do setor estavam enxergando 2020 como ano da retomada. Com o surgimento da pandemia, essa retomada deve ser transferida para 2021 e 2022.
O setor de serviços, em específico, comércio varejista e atacadista, que apesar de ter menor valor agregado no PIB estadual, tem grande relevância regional na geração de empregos e dinamismo da economia.
Em julho de 2019, por exemplo, a cidade Caruaru apresentou um saldo positivo de 184 empresas (cálculo do total de abertura de empresas menos o número de fechamentos no mês). Empresas de comércio varejista de artigos de vestuário representavam 15% do saldo. O setor de de serviços (incluindo comércio) representam mais de 90% do saldo gerado, segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do município de Caruaru.
Em uma cenário de retomada da Economia, do emprego e renda, o comércio varejista e o setor de serviços também devem voltar aos níveis anteriores a pandemia.
A região agreste vem de duas décadas de crescimento e desenvolvimento robusto. A pandemia trouxe uma pausa, mas a própria característica de negócios informais também facilitam na adaptação. A região ainda tem uma força de trabalho jovem e outras características demográficas que podem manter um nível de crescimento nos próximos anos.