Pequenos negócios, grandes perspectivas – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Pequenos negócios, grandes perspectivas

*Por Rafael Dantas

As desconfianças com o cenário econômico brasileiro diminuíram no ano passado e já levam a maioria dos empresários (56%) a esperar um crescimento no faturamento superior a 10% para 2024, segundo pesquisa realizada pela Amcham. As micro e pequenas empresas — que representam em Pernambuco 93,63% dos negócios em atividade — também estão otimistas. As principais tendências para impactar os negócios neste ano seguem sendo a digitalização, especialmente com mais uso de inteligência artificial, o trabalho híbrido e a agenda ESG (que envolve práticas ambientais, sociais e de governança).

“O setor de micro e pequenas empresas em 2023 já teve uma melhora razoável, saindo da pandemia e com crescimento. Mas há novos fatores que justificam o otimismo, como os investimentos públicos no Estado e a redução da taxa de juros que possibilita maior crescimento nos negócios”, afirmou o superintendente do Sebrae-PE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Murilo Guerra.

A estabilidade política vivida pelo País, após anos de maior tensionamento, e os bons indicadores econômicos do ano passado, como o controle da inflação dentro da meta, são outros fatores que colaboram para maior previsibilidade do desempenho econômico brasileiro e favorecem os negócios. A recuperação de crédito de milhões de consumidores também entra nessa conta favorável ao crescimento das pequenas empresas.

A nova gerente regional da Amcham Pernambuco, Fernanda Angeiras, considera que o ambiente mais sadio de crescimento econômico do Estado e do País, combinado com o processo de retomada após a pandemia global, explicam o otimismo. “Segundo a pesquisa Panorama 2024, realizada pela Amcham, percebemos que os negócios, independentemente do porte, continuam focando nos clientes, investindo na formação de equipes de alta performance e em eficiência produtiva. Isso em diálogo com agendas de inovação”, declarou a gerente da Amcham Regional Pernambuco. Olhando para um cenário mais nacional, ela afirma que a aprovação da Reforma Tributária em 2023 é um dos fatores que vai promover mudanças em todo o mercado e que deve trazer impactos positivos ao mercado.

O índice de confiança das micro e pequenas empresas, na última medição do Sebrae, em novembro do ano passado, alcançou 92,8 pontos. O indicador havia começado o ano passado com 84,6 pontos. O humor das MPEs está acima da média geral das corporações que registrou em novembro um indicador de confiança de 91,6 pontos.

NEGÓCIOS CADA VEZ MAIS DIGITAIS

A 5ª edição da Pesquisa do Sebrae Pulso dos Pequenos Negócios revelou que 74% das MPEs pernambucanas vendem utilizando redes sociais, aplicativos ou internet (como Whatsapp, Facebook e Instagram). Para 35% dos negócios pesquisados, as receitas pelos canais digitais giram entre 25% e 50% do faturamento total. Em 13% dessas empresas, o volume de vendas online gera dividendos superiores aos 50% do faturamento.

A comercialização pela internet foi o caminho de muitos negócios durante a crise sanitária que o mundo enfrentou e é uma das razões do otimismo neste ano. A empresária Emília Batista, que leva seu nome para a marca da sua empresa no ramo de confecções de moda fitness, prevê chegar em novos mercados em 2024. Com 14 colaboradores internos e produzindo entre quatro e cinco mil peças por semana, o negócio com sede em Santa Cruz do Capibaribe atravessou a pandemia com um amadurecimento na digitalização das vendas e hoje tem clientes em todo o País.

“Nosso maior crescimento foi durante a pandemia. Sempre que atendíamos os clientes, eu já pegava os contatos, fazia um cadastro rápido e nem pensávamos que o Moda Center seria fechado. Já estávamos muito no Instagram. Nessa época, já fazíamos 30% dos pedidos pelo WhatsApp. Com a chegada da pandemia, fiz contato com todos e tivemos a certeza que as vendas online davam certo”, afirmou.

Com o maior investimento dos consumidores na saúde, com mais brasileiros procurando se exercitar, as vendas no segmento fitness cresceram e a Emília Batista Store está surfando nessa onda. A antiga loja física virou um ponto de distribuição para as entregas, a empresa investiu em um site e reforçou a comunicação em redes sociais.

“Para 2024 nossa meta é aumentar o atendimento online. Nosso foco são as vendas no atacado, mas queremos aumentar o varejo. Queremos também chegar em regiões onde temos poucos representantes”, conta a empresária. Nos planos da marca estão atingir mais forte os mercados de São Paulo e dos Estados da região Sul, além de aumentar o alcance dos clientes da categoria plus size. “Estou otimista. Todo mundo virou a página da pandemia e está em busca de uma qualidade de vida melhor”.

POLO DE CONFECÇÕES E SUAPE COM PERSPECTIVAS EM ALTA

Além do segmento pujante em que Emília atua, todo o Polo de Confecções do Agreste, que é composto principalmente por pequenas e micro empresas, vive na expectativa de uma melhoria na logística. Um dos grandes investimentos anunciados no ano passado foi para a requalificação e duplicação de 13,2 quilômetros da BR-104. O trecho liga os municípios de Caruaru e Toritama e receberá um aporte de R$ 106 milhões. De acordo com especialistas do Sebrae, essas obras planejadas pelo Governo Estadual para a região podem abrir oportunidades promissoras para o setor empresarial, envolvendo a participação de diversos empreendedores locais.

Se o interior do Estado está animado com os investimentos em infraestrutura, outro local que tem uma grande expectativa de um novo ciclo econômico é a região de influência do Complexo Industrial-Portuário de Suape. O anúncio de US$ 17 bilhões para a Refinaria Abreu e Lima abriu um novo horizonte para o polo. “Em Pernambuco há a expectativa de investimentos mais robustos em Suape, o que deve ampliar a circulação de dinheiro na economia como um todo, impactando a maior parte do mercado”, afirmou o consultor da TGI, Fábio Menezes.

Ele destaca, inclusive, que as dificuldades de contratação de profissionais e de retenção de talentos podem voltar a acontecer na região. “É possível que vivenciemos uma fração do que aconteceu na época da implantação dos projetos estruturadores em Pernambuco (como a refinaria, a petroquímica, os estaleiros) que é a escassez de mão de obra no mercado. Não acredito que será igual porque o volume de investimentos é bem diferente, mas as empresas já começam a enfrentar dificuldades de contratar e de reter profissionais”, declarou o consultor.

Além do novo horizonte para Suape, Fábio aponta boas expectativas vindas para a construção civil, a partir dos programas anunciados do Governo Federal e Estadual para impulsionar a redução do déficit de moradias. “Não é fácil falar especificamente de setores porque já há alguns anos, incluindo a pandemia, estamos com um mercado mais retraído do que dinâmico. Nesse cenário, é possível observar empresas em situação de competitividade bem diferente de outras, muitas vezes no mesmo setor. No entanto, a construção civil para habitação popular, principalmente em razão dos programas públicos de incentivo, como o Minha Casa Minha Vida e o Morar Bem, estão animando os empreendedores que atuam nesse segmento”.

Olhando setor por setor, a gerente da Amcham, Fernanda Angeiras, ressaltou três ramos que merecem ser observados de perto: o de tecnologias da informação, de geração de energias renováveis e da economia circular. São negócios em alta no Estado, com boas perspectivas de crescimento das MPEs, e conectados com uma demanda nacional e internacional bastante aquecida.

MICRO E PEQUENAS INDÚSTRIAS REGISTRAM BOAS EXPECTATIVAS

O segmento com mais representantes nas MPEs é o de comércio e serviços. Mas, as expectativas de 57% das micro e pequenas empresas da indústria para 2024 também são alvissareiras. Apenas 17% mantêm uma perspectiva pessimista, segundo os dados da pesquisa mais recente do Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria) e realizada pelo Instituto Datafolha. Quando olhamos especificamente para a região Nordeste, 65% dos respondentes estão otimistas. “As perspectivas para 2024 são promissoras, com 38% acreditando em uma abertura de vagas e no aumento dos investimentos para ampliar a produção, segundo nossa pesquisa. Isso sinaliza uma confiança renovada no potencial de crescimento do setor”, avalia Joseph Couri, presidente do Simpi.

Ele considera que os números refletem a resiliência do setor diante das adversidades econômicas. O estudo sinalizou que o contexto econômico do ano passado foi desafiador para o segmento. Os dados revelaram que 36% dos micro e pequenos industriais do País consideraram o faturamento do ano muito pior em 2022, enquanto 50% estavam dentro do esperado e 14% experimentaram melhorias substanciais.

No recorte regional, o Nordeste teve um desempenho mais estável: 57% das empresas informaram ter o faturamento dentro do esperado. Apenas 15% tiveram um desempenho melhor e 28% anotaram receitas abaixo das expectativas.

DE EMPREGADA PARA EMPREENDEDORA

Quem também está otimista com os negócios em 2024 é a Chuva de Cookies. A empresa avançou durante a pandemia, após a empreendedora Natacha Vasconcelos deixar o emprego para entrar de cabeça no negócio. A venda do produto sempre foi um desejo do filho João Paulo, que desde o ensino médio preparava e comercializava os cookies na escola. Com o isolamento social, o mercado virou o iFood.

O negócio, inicialmente modesto, começou a prosperar com o aprimoramento das receitas, das estratégias de entrega e da participação em feiras, como a da Festa da Vitória Régia, em Casa Forte. A marca está prestes a completar um ano de operações físicas em um espaço no Shopping Plaza e ao longo do tempo não apenas expandiu suas vendas mas, também, diversificou seu catálogo, estabelecendo parcerias com produtos complementares, como geleias artesanais, mel orgânico e até mesmo café especial.

A estratégia de crescimento envolveu também a criação de presentes personalizados, como kits com bandejas pintadas à mão e canecas exclusivas. Todos acompanhados com o produto que é o carro-chefe da casa. A inovação veio a partir da percepção da empreendedora de que muitos clientes procuravam presentes no ponto do shopping. A partir daí desenvolveu os produtos artesanais exclusivos que agregam valor aos cookies.

Com o sucesso da Chuva de Cookies, seus produtos estão hoje em cafeterias e feiras mas, também, em lojas colaborativas e cantinas escolares. A empresa quer garantir a entrada em outros shoppings neste ano. “Nossos planos em 2024 são de renovar com o Shopping Plaza, dar continuidade à venda com parceiros, além de chegar em mais cantinas e ampliar toda a parte de produção de artesanato. A princípio eram bandejas e canecas, estou desenvolvendo outros produtos de porcelana e MDF para que as pessoas enxerguem como presentes. Sabemos que tem ainda potencial para crescer”, afirmou Natacha.

Com o aumento do faturamento, a Chuva de Cookies está migrando de microempresa individual (MEI) para microempresa (ME). Se as expectativas de crescimento em 2024 forem confirmadas, a Chuva de Cookies deve dar novos passos no ramo de sobremesas.

TENDÊNCIAS E DESAFIOS

Quase metade (45%) dos pernambucanos que conduzem as micro e pequenas empresas do Estado afirmaram na última pesquisa do Sebrae que ainda têm muitas dificuldades para manter as operações. No entanto, 25% declaram que os desafios provocaram mudanças que foram valiosas para o negócio e 20% estão animados com as novas oportunidades que estão no horizonte.

Para aperfeiçoar a operação dos negócios, mais da metade das MPEs pernambucanas (54%) fizeram investimentos no último trimestre de 2023. Das respondentes, 42% declararam que realizaram aportes em máquinas e equipamentos (exceto informática), 33% investiram nas suas instalações, 27% ampliaram seu espaço físico e 23% apostaram em novos equipamentos de informática.

Apesar de muitos dos investimentos anunciados terem conexão com novas tecnologias, Fernanda Angeiras considera que o uso de inteligêncial artificial, por parte das micro e pequenas empresas, ainda não é habitual, embora haja algumas experiências. “Entendemos que a inteligência artificial é algo ainda distante da realidade do setor, mas há empresas de pequeno porte fazendo uso de ChatGPT na formação de equipes e na otimização de tarefas.

Além da IA, as agendas de ESG e de inovação estão cada vez mais difundidas”, explica Fernanda Angeiras. Além da inteligência artificial, o consultor Fábio Menezes ressalta o trabalho remoto ou híbrido e a maior descentralização da concorrência como fatores que abrem novas oportunidades e representam novos desafios. “Um pequeno empreendedor pode começar seu negócio sem ter que disponibilizar uma sede com capacidade de receber a sua equipe, permitindo um custo menor. É evidente que essas circunstâncias trazem também um desafio de gestão a distância, pelo menos física, que precisa ser considerado. A natureza da atividade do negócio vai influenciar na forma como essa questão precisa ser administrada”.

Ele explica que a concorrência mais descentralizada é um dos efeitos colaterais do crescimento do trabalho remoto. “Se um profissional pode atender seu cliente ‘de casa’, em tese, um concorrente noutro lugar do País ou, até mesmo, do planeta também poderia atendê-lo. Portanto, pensar o mundo de forma mais global, mais interconectado e automatizado e também mais sustentável parece se configurar como premissas indispensáveis para todos os empreendedores, sobretudo para os que estão começando”, afirmou o sócio da TGI.

Dentro desse mercado cada vez mais global, outro desafio para as micro e pequenas empresas é pensar nas possibilidades de internacionalização do negócio. Para Murilo Guerra, esse é um dos saltos que parecem ainda mais distantes do empresariado local. No entanto, aponta algumas experiências positivas no setor. “Esse é ainda um grande desafio até no País. Temos setores se preparando para isso, como a confecção e a produção de cachaça, que já tem empresas nessa direção. É um caminho importante de buscar novos mercados nessa economia cada vez mais global. Vivemos conectados e se faz necessário um forte programa de internacionalização. O Sebrae Nacional está desenvolvendo isso”, afirmou o superintendente da entidade.

Mesmo diante dos grandes desafios econômicos e muitas variáveis tecnológicas em mutação, a força dos pequenos negócios promete contribuir para a almejada retomada do País e de Pernambuco.

*Rafael Dantas é repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com | rafaeldantas.jornalista@gmail.com)

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