"Percebemos que o vidro plano é um produto em expansão de uso" - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

"Percebemos que o vidro plano é um produto em expansão de uso"

Revista algomais

Henrique Lisboa. Foto: Philip Falzer

Henrique Lisboa, presidente da Vivix, conta a trajetória da empresa que está completando 10 anos e que é a única brasileira a atuar no mercado de vidros planos ao lado de gigantes multinacionais. Também aborda como o surgimento do home office e o aumento da temperatura influenciam na criação de novos produtos.

A conjuntura econômica, social e ambiental dos últimos anos acabou por impactar a arquitetura de residências e de imóveis comerciais. Seja em razão do aumento da temperatura, provocado pelas mudanças climáticas, do surgimento do home office, popularizado na pandemia, ou da poluição sonora das grandes cidades, construtoras e moradores viram-se diante de novas necessidades ao compor seus ambientes. A fabricante pernambucana de vidros planos Vivix tem transformado essas demandas em oportunidades para expandir os negócios, a partir de inovações como a fabricação de produtos com controle térmico e acústico.

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Entretanto, há uma década, a empresa foi fundada pelo centenário Grupo Cornelio Brennand já na perspectiva de que o setor vidreiro usufruía da vantagem de ter um mercado em expansão. Um investimento que o tempo comprovou ter sido uma decisão acertada. Com 340 funcionários diretos e uma produção diária de 900 toneladas de vidros planos, a Vivix está completando 10 anos com participação próxima a 15% do mercado. O que não é pouca coisa, afinal é a única empresa brasileira competindo com gigantes internacionais no setor.

Para conhecer a trajetória, as inovações e os projetos da Vivix, Cláudia Santos conversou com o presidente da empresa Henrique Lisboa. Ele também abordou como os percalços da conjuntura econômica, a exemplo dos juros altos, têm influenciado os negócios.

A Vivix pertence ao grupo centenário Cornélio Brennand. Qual foi a oportunidade de mercado que levou à criação da empresa?

Desde 2008, o Grupo Cornélio Brennand, presente há 106 anos na indústria de cimento, cerâmica e vidro para embalagem, vinha avaliando entrar nesse negócio. Olhávamos esse mercado ao mesmo tempo em que possuímos jazidas de minérios, que são ativos presentes na matéria-prima do vidro. Percebemos que o vidro plano, na construção civil, é um produto em expansão de uso. Do ponto de vista arquitetônico, pode ser usado tanto internamente quanto externamente. Ele dá nobreza e, na forma de espelho, que é um subproduto do vidro, amplia os ambientes. Como esses ambientes das cidades grandes estão ficando cada vez menores, há essa necessidade de dar a sensação de amplitude.

Além disso, está acontecendo uma evolução na parte de fachadas dos edifícios, no Brasil e no mundo, para economizar mais energia e proporcionar mais interação com o meio ambiente, e o vidro traz essa possibilidade, de você poder enxergar o lado de fora. Assim, naquele momento em que estávamos analisando as oportunidades de mercado, especialmente entre os anos de 2010 e 2014, existia uma carência de oferta desse produto no Brasil. Inclusive, comparado a outros países, o uso do vidro plano aqui está bem abaixo.

O grupo, que ao longo do tempo, investiu bastante em empresas como as que têm tecnologia ou que sejam intensivas em capital, como a indústria de vidro, viu que era um bom investimento. Havia uma oportunidade no mercado de produzir e vender um produto que estava, e ainda está, em expansão de uso. Quando se olha desse ponto de vista, por essas características que mencionamos, percebe- -se que esse produto, a longo prazo, vai expandir seu uso no mundo.

Obviamente, existem as variações da economia. Os anos de 2014 e 2015, de PIB negativo, foram muito ruins, e esses momentos vão afetando todas as indústrias, inclusive a de construção civil e a indústria de vidros planos também. Atualmente, somos o único fabricante nacional nesse mercado. A Vivix é uma empresa pernambucana competindo com grandes multinacionais. Temos relevância no setor, estamos perto de 15% no mercado. Somos respeitados pelos clientes, pelo mercado, pela concorrência, isso é algo que conquistamos ao longo desses 10 anos de trajetória.

Nessa trajetória quais tipos de vidro que a empresa passou a produzir?

Como foi a evolução da produção e do atendimento às demandas do mercado? Como a característica dessa indústria é um alto forno que fica produzindo 365 dias por ano, não poderíamos começar a operar a fábrica sem ter mercado. Então, um ano e meio antes da operação iniciar, começamos revendendo produtos importados e, dessa forma, quando a fábrica fosse ligada, já teríamos clientes para escoar a produção. E assim foi feito.

Quando iniciamos a operação, já havia aproximadamente 70% da produção encaminhada. Então, substituímos a importação pela produção, começando a fabricar o vidro incolor, normal. Uma curiosidade: no início, não é recomendável produzir vidro colorido num forno muito novo. Por isso, depois de um ano, produzimos o verde, o cinza, fomos fabricando as cores que são mais vendidas no mercado nacional e dando sequência ao aumento de portfólio.

Passamos, então, a produzir o espelho, que é uma transformação do vidro por meio do banho de prata, e o vidro laminado, que se vê muito em edifícios comerciais do chão ao teto, conhecido também como vidro de segurança, porque, se sofrer uma batida, ele fica marcado, mas não é traspassado, pois tem uma proteção. Então, entramos nessas linhas de produtos um pouco mais avançados e, em 2018, começamos a produzir os vidros de controle solar, que são esses meio espelhados, também comuns em prédios comerciais, com um acabamento que impede ou dificulta a entrada de calor proporcionando melhor sensação térmica e economia de energia.

Um ano depois, começamos a produzir vidros pintados, usados como revestimentos especialmente em cozinhas. Então, todos esses tipos de vidro mencionados correspondem a mais ou menos 95% do que é vendido de portfólio no mercado.

A empresa está lançando o vidro acústico. Quais as características dessa tendência?

A gente vem observando o mercado como um todo, trabalhando muito próximo dos arquitetos e das construtoras e percebemos que é crescente essa questão de melhorar as barreiras acústicas, principalmente pensando em pessoas que moram muito próximas a avenidas, casas de show, aeroportos, por exemplo. Segundo o gerente de mercado da Vivix, Luiz Barbosa, essa necessidade por um vidro acústico para as janelas já vinha crescendo no Brasil e tornou-se ainda mais preponderante com a pandemia, quando as pessoas passaram a trabalhar mais em casa, a passar mais tempo nesse ambiente.

Percebemos a necessidade das construtoras para atender os requisitos da norma da construção civil em relação à acústica, principalmente para dormitórios. E a Vivix, como trabalha muito próximo delas, lançou esse produto que vem atender a essa necessidade do mercado, das construtoras, do arquiteto, do consumidor final. Esse tipo de vidro, aplicado em conjunto com uma boa janela, uma boa esquadria e com as paredes que compõem a fachada, vai bloquear uma grande parcela do barulho que está do lado de fora, gerando mais conforto acústico.

Isso é uma tendência, as cidades estão ficando mais barulhentas, então, ou as pessoas estão morando muito longe do lugar onde trabalham ou querem morar perto para não ter que se locomover. Morar perto do trabalho geralmente significa estar próximo de ruas mais barulhentas. Percebemos que, principalmente a classe média, vem aderindo a essa tendência de janela acústica não só para trabalhar, mas, às vezes, para dormir melhor à noite.

Vocês mencionaram que a empresa possui jazidas de minérios. Como é esse processo de fabricar o vidro com matérias-primas de minas próprias?

Na composição do vidro, entram vários minérios, numa espécie de receita de batelada que vai ao forno para fundir. Na Vivix, aproximadamente 75% do que entra vem de minas próprias. A fabricação envolve a sílica, que é basicamente uma areia, o feldspato e o calcário, minérios importantes para a produção do vidro. O grupo tem minas em vários lugares, mas é importante esclarecer que nós não extraímos o minério e o introduzimos direto no forno. Ele tem que ser beneficiado, tratado e lavado para, em seguida, ser utilizado.

A empresa tem uma usina de beneficiamento no município de Pedras de Fogo (PB), mas não é só a mina. É uma pequena indústria que faz o beneficiamento dessas matérias-primas e fica a 12 km de distância da fábrica, o que é conveniente porque o custo do frete é menor. Outras empresas que competem com a gente não possuem esse processo, elas compram de empresas terceiras que produzem. Nós somos verticalizados nessa parte, por isso a Vivix consegue ter melhor controle de tudo que entra na empresa até chegar ao produto final.

Uma indústria de vidro é intensiva em energia. Como está a transição energética na Vivix?

Recentemente, junto à Atiaia Renováveis, outra empresa do Grupo Cornélio Brennand, foi construída uma usina de geração de eletricidade através da luz solar para que toda a nossa utilização de energia viesse dessa fonte verde. Os fornos de vidros planos no mundo e no Brasil são predominantemente a gás e uma parte elétrica. Nós estamos utilizando a nossa parte elétrica sempre no máximo. E estamos estudando fazer a transição aos poucos. A partir do momento que houver outras energias substituíveis e disponíveis, como metano e outras, começaremos a fazer esse movimento gradativo.

E quais são os principais mercados da Vivix?

Nós atendemos o Brasil todo. É um universo de cerca de 500 clientes. Nossa clientela são indústrias que fazem a transformação do vidro para o passo seguinte. Ou seja, vendemos grandes chapas de vidro, que é a matéria-prima bruta, e nosso cliente corta ou adapta essa chapa de acordo com a demanda do elo seguinte. Qual é o elo seguinte? Nossos clientes são, geralmente, construtoras ou pode ser um vidraceiro que vai instalar um box ou um espelho numa casa. Esses são os mercados principais em que nós atuamos.

Como o principal segmento que a Vivix atende é o da construção civil, como está o desempenho da empresa e do setor vidreiro, já que o mercado imobiliário sofre com os juros altos do financiamento habitacional?

A gente acaba sofrendo com essas flutuações do mercado imobiliário, que impactam vendas, reformas e lançamentos de imóveis. Os anos de 2020, 2021 e 2022 foram muito bons na indústria. Ano passado, houve uma queda em relação ao ano anterior no setor industrial como um todo. O resultado foi muito próximo dos anos anteriores, mas teve uma queda que já estávamos esperando.

Apesar de os juros estarem altos, esperamos que neste ano e no ano seguinte comece a ter uma recuperação sobre o ano passado, quando houve uma retração. Este ano, a perspectiva de crescimento do mercado vidreiro é de expandir o volume de negócios, volume físico, em torno de 5% sobre o ano passado. E a expectativa para os próximos anos é de ter uma recuperação parecida com essa também, mais 5%.

Esses reveses que aconteceram na economia foram o motivo que levou a Vivix a adiar expansão da planta da fábrica?

Exatamente. Como o ano passado percebemos essa retração do mercado como um todo, apesar de a Vivix, basicamente, não ter retraído ou retraído quase nada ou muito pouco, achamos melhor aguardar. A decisão de expandir é do grupo, mas a gente precisa olhar sempre para o comportamento do mercado. Então, fizemos os estudos e projetos necessários para essa expansão. Estamos prontos para iniciar a construção, esperando o momento da confirmação do crescimento previsto, para podermos, efetivamente, dar esse passo.

Vocês sofrem algum impacto da importação de vidros aqui no Brasil?

Isso é cíclico, a importação não é um tema que acontece continuamente. Nesses 10 anos, tivemos dois ciclos de importação que duraram de sete a oito meses cada. Um deles começou ano passado e deve terminar nos próximos meses. Ou seja, não é um fator contínuo, acontece de tempos em tempos e depende de uma série de circunstâncias externas e internas do mercado. Às vezes, um produtor tem um problema em seu mercado natural e busca vender em outros lugares, geralmente com preços abaixo do que vende na sua localidade. E também depende de outras circunstâncias, como o preço de frete internacional, entre outras conjunturas. Por isso falamos em ciclo. Isso obviamente dificulta quando acontece.

O Governo Federal anunciou o programa da Nova Indústria Brasil, como vocês encaram essa nova política industrial no País?

A gente ainda não encontrou a praticidade da política. Ela ainda está para ser aplicada ou aproveitada pelas indústrias. Acreditamos que existe um grande debate sobre esse tema para podermos avançar com a aplicação dessa política na prática.

Quais são os planos da Vivix para os próximos 10 anos?

Além da expansão engatilhada, conforme mencionamos, estamos muito atentos à evolução nas utilizações do vidro em outras partes do mundo, buscando entender o momento e a oportunidade de trazer essas utilizações aqui para produzir e ampliar o nosso portfólio. A gente continua acreditando que o vidro é um material de tendência na arquitetura, na construção civil e representa uma grande oportunidade pela defasagem de uso desse material no Brasil em relação a outros lugares do mundo.

Então, existem algumas legislações avançando e que propiciam um maior uso do vidro plano. Por exemplo, janela acústica, em certos países, é uma determinação para reduzir o ruído dentro dos ambientes. O uso do vidro laminado, segundo nosso gerente de mercado, Luiz Barbosa, pode ser ampliado para trazer mais segurança. Isso é importante e, com certeza, vai avançar nos próximos anos no Brasil.

A questão do conforto, como a acústica, virou legislação obrigatória em outros países. A parte térmica também. Enfim, tudo isso vai avançar, nos próximos anos, e a gente acha que essas tendências vão permitir a evolução maior de um uso mais adequado de vidro plano na vida das pessoas.

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