*Por Edgard Leonardo
Primeiramente, é preciso salientar que esse cenário apenas reforça um ponto que sempre procuramos enfatizar: a necessidade de uma reserva de emergência que, a depender do perfil individual de cada um, pode variar entre valores médios que permitam ao cidadão fazer frente aos seus gastos mensais por um período de 4 a 8 meses.
Certamente esse tipo de reserva permitiria ao cidadão passar por uma crise como essa de maneira menos sofrida. Mas essa não é uma realidade possível para a maior parte dos brasileiros, pelo simples fato de que, efetivamente, não possuem uma cultura de boa gestão financeira. Pesquisas do CNDL e SPC Serasa apontam que 53% dos brasileiros são incapazes de afirmar com certeza sua própria renda pessoal. A mesma pesquisa apontou que, ao serem indagados sobre o motivo de realizar compras, relatam:
36% compraram porque não quiseram esperar sobrar dinheiro
33% quiseram aproveitar promoções
14% não negociaram preços
11% compraram porque estavam tristes.
Imagine que o resultado de um comportamento que prioriza o consumo imediato, aliado ao não conhecimento de princípios básicos de gestão das próprias finanças pessoais, certamente resulta em uma situação caótica.
Pesquisa da CNC desse ano apontou que 65% dos brasileiros estão com dívidas, maior número desde 2010, com cerca de 30% da renda comprometida e com a maior parte das dívidas realizadas no cartão de crédito, cerca de 79%, seguidos de carnês (15,6%) e financiamento de automóveis (9,9%).
Quando entramos em um cenário como este e nem bem saímos de uma crise que nos empurrou para um desemprego elevado, certamente o quadro não é dos mais otimistas. Todavia, certamente com criatividade soluções podem ser encontradas:
O primeiro ponto é entender que o problema existe e que pode ser enfrentado. Para isso, é necessária uma mudança comportamental, reconhecer o perfil dos gastos familiares e adequá-lo à nova realidade, mantendo tudo registrado e acompanhando por meio do orçamento doméstico. Quem ainda não agia assim, precisa aprender a fazê-lo.
Ao revisar os gastos mensais, focar em algumas contas que podem ser reduzidas e, por vezes, passam desapercebidas:
-Planos de celular;
-Planos de internet, tv por assinatura, telefone fixo;
-Assinatura de jornais e outros serviços;
-Contas de banco e cartões de crédito (quantos você tem? Pode reduzir);
-Não seria a hora de repensar a opção de residência? Morar com os pais (ou convidá-los a morar com você), economizando condomínio, energia elétrica, água ou até aluguel, momentos de crise pedem soluções criativas;
-Gastos com barzinhos, saídas e diversão podem ser revisados e muitas vezes reduzidos;
-Refeições fora de casa;
-Plano de academia de ginástica, personal;
-Revisar os deslocamentos familiares e reduzir gastos com combustível ou até vender um automóvel (reduzindo despesas com seguro, IPVA, combustível, manutenção e etc).
-Atenção ao consumo de energia elétrica, após as 17 horas energia elétrica fica mais cara, que tal mudar alguns hábitos?
Como já havíamos explicado, a primeira parte diz respeito muito mais a uma mudança comportamental. Em um segundo momento, tentar renegociar com os credores: bancos, administradoras de cartão de crédito, lojas e etc. O momento está complicado para todos e, sendo assim, certamente medidas emergenciais surgirão pouco a pouco.
Hoje, dia 25, o governo federal informou que o voucher para trabalhadores informais foi ampliado de R$ 200 para R$ 300. Lembrando que o valor citado vale para a população que não tem trabalho formal e não recebe outros benefícios como BPC ou bolsa família.
Foi também autorizado no último dia 16 pelo CMN que clientes pessoas físicas ou micro e pequenas empresas dos cinco maiores bancos do país podem pedir prorrogação, por até 60 dias, dos vencimentos de dívidas, que estejam em dia. Mas atenção: a medida não vale para cheque especial e cartão de crédito.
Sendo possível, não pague o mínimo do cartão. Quite essa dívida. É bom lembrar que, mesmo com uma possível redução dos juros, certamente o crescimento de contas no cartão de crédito será, ao longo do tempo, um problema muito sério ao cidadão.
Vale a pena procurar o banco e tentar uma linha de crédito com juros mais baixos. Certamente serão ofertadas para quitar essa dívida de crescimento exponencial.
No caso de serviços essenciais como água, luz, gás e telecomunicações, há a orientação do governo para que as empresas adiem prazos de pagamento.
Em relação aos planos de saúde, minha dica é que não atrasem os pagamentos. Nossa crise é de saúde e, quem tiver seu plano, tente priorizar esse pagamento.
Por fim, a dica sempre é renegociar diretamente com o seu credor, pois nenhum dos eventuais benefícios a princípio comunicados pela Febraban é automático. Ligar para o gerente ou procurar os meios eletrônicos é a melhor opção.
*Edgard Leonardo, que é economista e professor do Centro Universitário Tiradentes (Unit). Ele também é mestre em Administração pela UFPE, especialista em Comércio Exterior pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE); especialista em Estudos Prospectivos e Desenvolvimento Econômico da América Latina e Caribe pelo ILPES / CEPAL – Nações Unidas, consultor e palestrante.