Nesta época quando se ressalta o espírito natalino, chama a atenção os esforços que um grupo de pernambucanos tem feito para ajudar os refugiados sírios que sofrem com guerras e as ameaças do Estado Islâmico. Nada mais compatível com a filosofia do Natal. Afinal, o Menino Jesus e seus pais também podem ser classificados como refugiados, por terem partido para o Egito, fugindo das ameaças do rei Herodes. A iniciativa para auxiliar os sírios foi da bancária Bruna Guedes, que acolheu em sua casa, em Igarassu, o casal Mouammar e Mermin e filho Ameer, de menos de um ano. “Como sou espirita, sempre busquei ajudar as pessoas”, conta Bruna. “Estava acompanhando no noticiário a triste situação dos refugiados, com aquelas imagens chocantes e quando vi o menino Aylan morto fiquei angustiada, porque lembrei do meu filho”, recorda-se. A partir do impacto dessas cenas, ela decidiu que ajudaria de alguma forma essas pessoas. “Havia um quarto sobrando na minha casa e pensei que poderia acolher alguns sírios que fugiam da guerra”, justificou. A partir do contato com uma refugiada em São Paulo, ela soube da situação de Mouammar e sua família. Em outubro eles ficaram na residência de Bruna e hoje já estão instalados num apartamento no Recife. De lá para cá, formou-se uma rede de solidariedade em torno deles. A ponto de hoje essas pessoas planejarem a criação de uma ONG chamada Mãos Unidas. Ao saber da iniciativa de Bruna, sua amiga Dani Lins, proprietária da Casa Mecane, uma escola de artes, ofereceu a Mouammar a oportunidade de dar aulas de violão no local. “Ele é professor de música”, explica Bruna. As imagens dos refugiados na mídia também sensibilizaram Dani a ponto de querer fazer algo em prol dos sírios. “Acredito que é uma questão de humanidade”, fundamenta Dani. “Como eu não podia recebê-lo em minha casa essa foi a forma de ajudar”. Dois alunos já se matricularam para receber as aulas de violão que são realizadas uma vez por semana a um custo de R$ 130 por mês. Essa rede de solidariedade conta ainda com a participação do revisor de texto Victor Souza, que está dando aula de português para o casal. “Você não precisa estar no front de guerra para ajudar. O importante é entender o nosso papel, porque se nos esquivarmos da realidade, contribuímos para que se perpetue esse tipo de violência”, defende Victor. Nesse acolhimento dos sírios tem ocorrido uma interessante troca de conhecimentos culturais e muitos preconceitos têm sido derrubados. Bruna, por exemplo, está encantada com a relação de respeito e carinho do casal, em que Mouammar muitas vezes toma conta do filho. Uma imagem distante do estereótipo do árabe machista. “É uma união bem-sucedida e sincera", constata Bruna. "Por outro lado, eles acham que as mulheres aqui sofrem e trabalham muito”, coloca Bruna, que é uma figura feminina muito diferente de muitas muçulmanas, já que tem cabelos curtos e é mãe solteira. “Na cultura deles uma mãe não pode registrar o filho sem o nome do pai”, compara a bancária. Já Victor é gay assumido. “Apesar de serem muçulmanos, isso nunca os incomodou. Acho que há mais preconceito por parte de muitos brasileiros”, considera o professor. Opinião compartilhada por Bruna que vem recebendo mensagens agressivas nas redes sociais por estar ajudando os refugiados. “Outro dia uma pessoa me abordou dizendo que eu estava colocando minha vida em risco por abrigar terroristas”, conta Bruna, indignada. O grupo volta-se, agora, para ampliar a ajuda a outros sírios que precisam de asilo. Algumas pessoas se disphttp://portal.idireto.com/wp-content/uploads/2016/11/img_85201463.jpgam a oferecer a casa para acolhê-los. Porém não há recursos para comprar as passagens de avião para trazê-los. Interessados em ajudar podem transferir milhas aéreas. “São necessárias 80 mil milhas” informa Bruna. Para os que apreciam a comida árabe, existe uma outra forma, digamos, saborosa de auxílio. Breno Melo, que fez cursos de gastronomia na Argentina, no Peru e em São Paulo, uniu-se à rede de solidariedade e promove um jantar típico na Casa 12, um espaço que ele está montando no bairro de Casa Forte. “Haverá show de dança do ventre e música”, planeja Breno. A intenção dele é fazer um evento beneficente que divulgasse o nome da casa. “Precisamos ter paixão pelo que fazemos e ajudar é algo muito motivador”, constata o chef, que já tem novos planos para a Casa 12. “Em fevereiro devemos fazer um curso de extensão de técnicas básicas de cozinha junto com a Unicap para refugiados senegaleses. A ideia é ajudá-los a conseguir o primeiro emprego”. Em meio a tantos conflitos e preconceitos mundo à fora, é bom saber que existem pessoas que pensam de forma solidária e não apenas no período do Natal.
COMO AJUDAR
1. Você pode doar milhas para passagens aéreas no cartão Smiles, da Gol, nº 442897372 em nome de Bruna Guedes. Tel.97312-3677 2.
2. Receber aulas de violão do sírio Mouammar na Casa Mecane: Av. Suassuna, 340, Boa Vista. Tel.: 3038-0543