Pernambuco Renasce Como Polo Estratégico Da Indústria Farmacêutica - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco
Pernambuco renasce como polo estratégico da indústria farmacêutica

Revista Algomais

*Por Rafael Dantas

A indústria farmacêutica cresceu 11,5% no Brasil no primeiro semestre de 2025, em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da consultoria IQVIA. Com o envelhecimento da população e os estímulos à produção nacional, as estimativas para o setor são de avanço contínuo, entre 8% e 12% até 2029. Pernambuco tem uma história no setor, com empresas locais com décadas de operação, mas também um novíssimo tecido industrial composto com investimentos de ordem bilionária. Tanto o setor público, como o privado estão ampliando suas instalações e seu portfólio de produtos.

De acordo com dados da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), elaborados pela Ceplan (Consultoria Econômica e Planejamento) foram investidos em Pernambuco R$ 3,4 milhões por indústrias nacionais como a Aché e a Blau, além de locais como o Lafepe, Vidfarma, entre outras como a Hemobrás que aportou R$ 1,9 bilhão no seu parque fabril em Goiana.“Temos um complexo econômico industrial da saúde instalado. Seja por meio de investimentos privados ou da recentemente inaugurada Hemobrás. Um projeto complexo, que teve a sua conclusão com uma fábrica estratégica para o Brasil, não só para Pernambuco”, destacou o economista Paulo Guimarães, da Ceplan.

Pernambuco em Parspectiva 21 08 2025 Foto Beto Figueiroa Paulo Guimaraes

Paulo Guimarães ressalta que o setor no Estado já forma um complexo econômico industrial da saúde com investimentos privados e públicos, como a Hemobrás. “É uma fábrica estratégica para o Brasil, não só para Pernambuco”, destacou.

Apesar dos novos investimentos estarem mais próximos ou na Região Metropolitana do Recife, o setor tem importantes players no interior do Estado. No Agreste, por exemplo, estão a Lapon (Limoeiro) e a Hebron (Caruaru). No Sertão, há o destaque para o Imec, instalado no município de Custódia.

O presidente do Sinfacope (Sindicato das Indústrias de Produtos Farmacêuticos, Medicamentos, Cosméticos, Perfumaria), Renato Dutra, comemora o momento do mercado. “O setor está num período interessante de crescimento, embora haja forte concorrência e muitas mudanças estão acontecendo no mercado de uma forma como nunca antes”, afirmou o empresário, que também dirige a Lapon.

Ele recorda que há aproximadamente 50 anos, Pernambuco já foi o segundo polo farmacêutico no Brasil. “Só da Região Metropolitana do Recife eram em torno de 50 indústrias farmacêuticas, a maioria de pequeno porte”. Em contraste com esse período do passado, dominado por empresas locais, o momento atual de aquecimento é muito forte com a vinda de investimentos nacionais.

FÁRMACOS EM SUAPE

O Complexo Industrial de Suape é conhecido por sua Refinaria e Petroquímica mas, também, pela fabricação de medicamentos. Nesta semana, por exemplo, o Aché Laboratórios Farmacêuticos anunciou a expansão de sua fábrica 4.0 em Suape, no Cabo de Santo Agostinho, com investimento de R$ 267 milhões. O valor investido se soma aos R$ 800 milhões já aplicados pela companhia Estado, totalizando R$ 1,067 bilhão.

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A nova etapa da indústria adiciona uma área de 13.565 m² dedicada à produção de medicamentos estéreis, elevando o potencial de produção para cerca de 40 milhões de unidades por ano. O novo setor tem a expectativa de gerar até 3 mil empregos diretos e indiretos, após essa expansão.

A Blau Farmacêutica é outra gigante que vai instalar uma fábrica em Suape, com investimento estimado em R$ 1 bilhão. O empreendimento ocupará um terreno de 77 hectares e deverá gerar cerca de 1.400 empregos. A Blau já possui cinco unidades fabris no Brasil e presença em países como Chile e Colômbia.

Na primeira fase, a fábrica de Suape produzirá apenas medicamentos acabados, voltados principalmente para hospitais, incluindo produtos biotecnológicos e sintéticos usados em áreas como oncologia, nefrologia e hematologia. Em uma segunda etapa, a empresa avalia também fabricar IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) – matérias-primas utilizadas na produção dos medicamentos – atualmente produzido em São Paulo.

EMPRESAS LOCAIS TAMBÉM ESTÃO EM CRESCIMENTO NO INTERIOR

A Imec, sediada em Custódia, no Sertão de Pernambuco, é líder de mercado no Brasil na produção de ácido acetilsalicílico, com o seu carro-chefe, o Dormec. A empresa atua em todo o território nacional, contando com 24 representantes e mais de 400 clientes, incluindo grandes distribuidores e redes de farmácias. Além dos medicamentos, a corporação, que é familiar, também expandiu seus negócios para o segmento de suplementos alimentares, com produtos como vitaminas C e D.

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Atualmente, a companhia mantém um portfólio de 34 produtos entre as duas empresas do grupo, empregando cerca de 300 profissionais, a maioria oriunda da própria região. Apesar dos desafios logísticos e da escassez de mão de obra especializada no Sertão, a Imec conseguiu formar uma equipe qualificada para atender às rigorosas normas do setor regulado pela Anvisa. “Apesar das dificuldades, temos conseguido superar os desafios e manter a qualidade e segurança dos nossos produtos”, afirmou Djalma Bezerra, presidente da empresa, que foi fundada pelo seu pai, Gilson Castelo Branco Araújo.

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Sediada em Custódia, a Imec é líder no Brasil na produção de ácido acetilsalicílico, por meio da marca Dormec. Atua no mercado nacional e tem 300 empregados. Djalma Bezerra é o presidente da empresa, que foi fundada pelo seu pai, Gilson Castelo Branco Araújo

Com perspectivas de crescimento moderado para os próximos anos, a Imec planeja fazer lançamentos anuais de três a quatro novos produtos consolidando sua presença no mercado nacional. Para Djalma Bezerra, a chegada de grandes indústrias ao Estado representa uma oportunidade para o setor se especializar e elevar os padrões de qualidade e competitividade de todas as empresas locais.

Também no interior, a Lapon Indústria Farmacêutica, fundada em 1990 e instalada em Limoeiro, tem se destacado na produção de suplementos vitamínicos, produtos com cálcio e probióticos, além de atuar com terceirização para grandes redes e indústrias nacionais. Após crescer 22% no ano passado, a previsão é de avançar mais 30% no faturamento em 2025. A localização estratégica no Vale do Capibaribe permite o aproveitamento de um microclima favorável para cultivo de espécies medicinais, fortalecendo a base de produção local.

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A empresa atualmente conta com cerca de 170 funcionários. Além da fabricação de medicamentos, mantém parcerias com universidades como a UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), UFPB (Universidade Federal da Paraíba) e UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco) para pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Para os próximos anos, a Lapon planeja expandir suas instalações com a construção de um novo galpão no polo industrial do município, ampliando a capacidade de produção. “Com essa expansão, pretendemos duplicar a produção e atender novas linhas de produtos, mantendo sempre o foco em inovação”, afirmou Renato Dutra. Além disso, a empresa está adquirindo um novo caminhão para reforçar a sua logística.

SALTOS DO LAFEPE

O Estado tem uma grande tradição de investimentos no setor com o Lafepe (Laboratório Farmacêutico de Pernambuco Governador Miguel Arraes). Com um investimento de R$ 259 milhões aprovado pelo PAC Saúde, o laboratório público pernambucano vai duplicar sua capacidade produtiva, adquirindo equipamentos de última geração e ampliando seu parque fabril. Atualmente, a instituição produz 250 milhões de comprimidos por ano, com foco em medicamentos estratégicos para o SUS, como tratamentos para saúde mental, AIDS e doenças negligenciadas.

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O Lafepe vai duplicar sua capacidade produtiva com o investimento de R$ 259 milhões do PAC Saúde. Hoje produz 250 milhões de comprimidos/ ano, com foco em medicamentos estratégicos para o SUS, como tratamentos para saúde mental, AIDS e doenças negligenciadas.

Além do aumento da produção, o Lafepe vem consolidando sua atuação em pesquisa e inovação. Projetos estratégicos em parceria com universidades, como o desenvolvimento de medicamentos para hanseníase e produtos à base de cannabis medicinal, estão sendo implementados com financiamento da Finep. "Temos uma fábrica dedicada a doenças negligenciadas, que não interessam ao setor privado, mas são essenciais para o SUS. Além disso, o Lafepe vai fazer a extração dos fitocanabinoides aqui dentro. Essa produção atenderá a política do Estado de Pernambuco para a distribuição de produtos de cannabis para a população”, explicou Bety Senna, diretora técnica do Lafepe.

Outra novidade da empresa pública que dialoga com o momento de crescimento do setor em Pernambuco é o investimento na formação de novos profissionais. O Lafepe está lançando a primeira residência farmacêutica em indústria do Norte/Nordeste. Esse foco surgiu justamente após a chegada de grandes corporações farmacêuticas no Estado. Além disso, o laboratório tem investido também na criação de um ecossistema local de fornecedores e no estímulo à atuação de startups que apoiem a produção. Os movimentos recentes, com a internalização da fabricação de novos medicamentos, via a política de parcerias para o desenvolvimento produtivo, tem ampliado muito também o faturamento do laboratório. Em 2023, a empresa faturou R$ 426 milhões. No ano passado, saltou para R$ 703 milhões. A expectativa é repetir o desempenho em 2025.

MATURAÇÃO DA HEMOBRÁS

Embalagem hemobras

Um investimento estratégico para o Brasil que foi instalado há 20 anos e que tem avançado de forma consistente é a Hemobrás. Hoje, ela distribui cinco medicamentos ao SUS, sendo quatro hemoderivados provenientes do plasma brasileiro e um fator VIII recombinante produzido por biotecnologia. A empresa está avançando na nacionalização da cadeia de produção, incluindo o envase de produtos, o que permitirá reduzir a dependência do fornecimento externo e fortalecer a indústria farmacêutica nacional.

“O nosso momento hoje é um momento em que a gente deixa de ser um projeto estratégico e passa pouco a pouco a ser uma empresa estratégica. A nacionalização da cadeia, tanto de hemoderivados quanto do recombinante, acontecerá nos próximos 12 meses”, projetou o diretor Antônio Edson de Lucena.

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A Hemobrás avança para nacionalizar a sua cadeia de produção e, após
atender as demandas do SUS, vai exportar produtos de biotecnologia e
beneficiar plasma de países do Mercosul. “Passamos pouco a pouco a ser
uma empresa estratégica”, diz Antônio Edson de Lucena.

A Hemobrás também tem atuado na qualificação de hemocentros de todo o País, transformando-os em fornecedores de matéria-prima estratégica para os medicamentos. Com isso, a empresa conseguiu elevar a captação de plasma – fundamental para a atividade da empresa – de 90 mil litros para 300 mil litros.Financeiramente, a Hemobrás também se tornou superavitária, com receita prevista para 2025 de cerca de R$ 800 milhões e lucro líquido estimado em R$ 250 milhões. Todo o superávit será reinvestido na expansão da fábrica e na modernização de seu parque industrial.

Após atender integralmente às demandas do SUS, a Hemobrás poderá partir para uma atuação regional estratégica. Segundo Antônio Edson de Lucena, os produtos de biotecnologia poderão ser exportados assim que as necessidades nacionais forem totalmente atendidas. No caso dos hemoderivados, a empresa planeja beneficiar o plasma de países vizinhos do Mercosul, processando-o e entregando os medicamentos para essas nações, sem depender do plasma brasileiro. Ele ressalta que já existem tratativas em andamento que posicionaram a empresa como estratégica não apenas para o Brasil, mas para a América do Sul.

Além dos investimentos locais ou nacionais, públicos ou privados, o Estado tem entre suas startups uma série de pesquisas envolvendo insumos do bioma da Caatinga. Com a força dos investimentos bilionários, há ainda oportunidades em curso no adensamento dessa cadeia produtiva, como na produção de embalagens – que já vem sendo atendida pela Cepe – e de outros elos dessa atividade, como transporte e formação profissional.

O movimento atual sinaliza uma nova fase da indústria farmacêutica em Pernambuco, marcada pelo equilíbrio entre a chegada de grandes corporações, a expansão de empresas locais e o fortalecimento da produção pública. Com investimentos robustos, geração de empregos e parcerias estratégicas em pesquisa e inovação, o Estado se reposiciona no mapa nacional do setor, mirando resgatar a sua tradição.

*Rafael Dantas é repórter da Revista Algomais e assina as colunas Pernambuco Antigamente e Gente & Negócios. É doutorando em Comunicação pela UFPE, Mestre em Extensão Rural e Desenvolvimento Local e Pós-Graduado em Gestão Pública pela UFRPE (rafael@algomais.com | rafaeldantas.jornalista@gmail.com)

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