Pernambuco, Terra De Café Especial. Uma Bebida Nobre E Popular - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco
Pernambuco, terra de café especial. Uma bebida nobre e popular

Geraldo Eugenio

*Por Geraldo Eugênio

Estudar a origem e domesticação das espécies cultivadas de plantas é uma viagem agradável pela história natural, econômica e social da humanidade. Conhecer um pouco do trabalho monumental do cientista russo Nikolai Vavilov que, na primeira metade do Século 20, estabeleceu as bases para o que se conhece como centros de origem das plantas é indispensável a quaisquer profissionais que se dediquem à agricultura. A parte horrenda dessa história é que Vavilov terminou seus dias em um campo de concentração soviético, tratado como um criminoso responsável por crimes contra sua pátria. Uma mancha na história da ciência e da humanidade.

É dentro desta narrativa que surge a origem do café, uma espécie arbórea, originárias das montanhas da Etiópia, que se deslocou ao Iêmen, à Indonésia e Malásia, do Sudoeste da Ásia à Europa, às Guianas e da Guiana Francesa ao Brasil. Portanto, percorrendo um longo caminho. No caso brasileiro, a introdução se deu em Belém do Pará, por um adido militar brasileiro cujo nome é Francisco de Melo Palheta, um personagem que prestou uma das maiores contribuições a sua nação.

cafe pe

Por mais de um século, o café foi se deslocando lentamente pelo litoral até chegar na capital, Rio de Janeiro, e se iniciar uma outra história sobre sua difusão e a importância para o Brasil, país que se orgulha de ser o principal produtor e exportador mundial. Duas espécies representam a produção comercial dessa bebida: o café arábica (Coffea arabica) e o café conilon ou robusta (Coffea canephora). O primeiro, amplamente cultivado em Minas Gerais, São Paulo e nas Serras do Espírito Santo, enquanto o segundo, mais rústico, pode ser plantado em altitudes mais baixas, tendo o estado do Espírito Santo como maior produtor nacional.

No momento, a cafeicultura passa por uma transformação radical, o café se tornou uma bebida valorizada, nobre, de mercado e consumidores especializados, embora não deixe de ser a principal bebida entre todas, em todo o mundo. Por falar nisso, a revista Algomais publicou uma análise, em 12 de abril de 2018, sobre a situação do café em Pernambuco, na qual a analista do Sebrae PE, Valéria Rocha, previa a expansão do consumo do café e da valorização da cafeteria como um ambiente social, de negócios e de prazer.

O cultivo do café em Pernambuco

Historicamente a produção de café no Estado se concentra nas áreas mais altas do Agreste e do Sertão. Brejão, por exemplo foi o principal centro de produção, hoje quase irrelevante face ao crescimento ocorrido nos municípios de Taquaritinga do Norte, Saloá e Triunfo. Taquaritinga e Triunfo têm se destacado na difusão da cultura, focando na qualidade do produto e no seu apelo turístico.

Em se tratando de Taquaritinga, há a peculiaridade de contar com um tipo especial da bebida, o café arábica typica, considerado uma iguaria no mundo cafeeiro. Aquele produto sui generis, conforme descrito pelo poeta Mário Quintana: “o café é tão grave, tão exclusivista, tão definitivo que não admite acompanhamento sólido”. Esta referência tirei de uma palestra proferida pelo também produtor Álvaro Eugênio, quando, na mesma lâmina, traz a reprodução da belíssima obra de Portinari, Café, pintada em 1935, hoje, no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.

O município de Saloá, localizado no Agreste Meridional, é uma surpresa. Atualmente conta com a segunda maior produção do Estado, faltando-lhe, ao que parece, um maior esforço em mostrar o que representa a cultura e o fato de haver substituído municípios outrora produtores como Garanhuns e Brejão. Durante esta semana ocorrerá o Festival de Café de Taquaritinga do Norte, algo que deve ser realizado periodicamente nos municípios com maior produção e presença no mercado.

Uma tendência de crescimento

Há de se reconhecer o esforço e a energia que tem sido investida na articulação dos atores que fazem a cadeia produtiva do café em Pernambuco. Algo extremamente bem-vindo. Sempre fiquei admirado pelo papel do comentarista político e barista Romualdo de Souza que faz um belo trabalho trazendo os principais fatos da política brasileira a partir de Brasília e as notícias sempre agradáveis e boas de se ouvir sobre os cafés pernambucanos. Ele, por si só, tem feito um ótimo trabalho de divulgação. Agora, várias forças estão se mostrando interessadas em participar dessa coalização, a partir das prefeituras municipais, das agências de fomento e de crédito, dos agricultores e empresários envolvidos e, nada menos, do que a UFRPE, a UFPE e o IPA – Instituto Agronômico de Pernambuco.

Alguns desafios merecem ser destacados. O primeiro deles é um trabalho de pesquisa que vise atualizar as regiões produtoras do Estado com o que existe de mais moderno em termos de material genético e novas cultivares do café arábica, cabendo um esforço conjunto das instituições e pesquisa e ensino. Não menos importante é a qualidade da bebida e sua caracterização. Já que Pernambuco conta com uma área restrita, o fundamental será investir num produto superior às demais regiões produtoras. Nesse sentido, entra o papel das instituições de extensão, a exemplo do IPA e das secretarias de Agricultura e Turismo dos municípios, bem como entes como as universidades, o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural).

Criar um circuito turístico para o café, valorizando a beleza regional, o artesanato, a música, a dança e a bebida como principal atrativo será uma iniciativa que trará resultados dentro de um prazo muito curto. Para que fiquem atentos a Empetur e o governo estadual na promoção de produtos e nichos que incentivem o deslocamento do turista para o interior do Estado. Um bom café Pernambuco tem a oferecer.

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