"Pesquisa da Amcham com líderes empresariais no País mostrou que 68% já usam IA" - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

"Pesquisa da Amcham com líderes empresariais no País mostrou que 68% já usam IA"

Revista algomais

Alessandra Andrade, superintendente da Amcham para o Nordeste, afirma que estabilidade política do País e avanço tecnológico levam gestores a preverem crescimento de suas empresas acima de 10% em 2024. Também fala das ações da organização e da sua atividade de conscientizar as empresas no apoio às mães atípicas.

Alessandra Andrade é “cria” da Amcham (American Chamber of Commerce). Ela entrou na entidade como estagiária em 2004, em pouco tempo já liderava os estagiários e, em 2009, assumiu a coordenação da unidade regional. Passou um período fora da organização, ao se mudar para o Maranhão. Mas foi por pouco tempo. “Um ano depois, o meu antigo diretor em São Paulo disse que a gerente do Recife estava saindo, que era minha antiga chefe, e ela me indicou. Ele me chamou e não resisti, voltei como gerente da operação do Recife”, conta a executiva. Desde 2018 ela é responsável pela gestão das unidades do Nordeste (Salvador, Recife e Fortaleza) e este ano também assumiu a de Curitiba.

Nesta entrevista a Cláudia Santos, ela relata as ações da Amcham para aumentar a produtividade das empresas, para ajudar os empresários a se organizarem para as boas práticas de ESG, a estimular o benchmarking entre os setores e para detectar oportunidades de negócios, inclusive nos Estados Unidos. Alessandra também analisa a pesquisa da Amcham Brasil com líderes empresariais nacionais, que revela o otimismo deles em relação ao ano que vem: 56% dos entrevistados estimam que o crescimento de suas empresas será superior a 10% em 2024. Uma expectativa ancorada na estabilidade política mas, também, no avanço tecnológico, principalmente da inteligência artificial.

Agenda TGI

Mãe de uma filha autista, Alessandra também fala da sua atividade de conscientizar as empresas no apoio às carreiras das chamadas mães atípicas.

Como tem sido a atuação da Amcham no Nordeste, especialmente em Pernambuco?

Ano que vem a gente faz 25 anos de operação no Recife, 10 em Fortaleza, e 15 em Salvador. A Amcham busca promover conexões entre pessoas e empresas. O principal objetivo é criar networks entre indivíduos, por meio dessa rede de relacionamento para que possam tanto descobrir oportunidades como conhecer outros mercados. Entre as empresas, a Amcham é multissetorial e essa diversidade permite que um setor, que esteja enfrentando um desafio, possa entrar em contato com outro setor, que esteja vivendo o mesmo ou talvez um desafio parecido, mas que tenha um outro olhar sobre esse problema. Isso traz para os empresários insights e referências que no mundo da sua área, com seus pares, talvez não consigam perceber.

No Recife, há um foco especial no diálogo público/privado dentro dos nossos comitês estratégicos, fóruns de discussão e entendendo também vieses de oportunidade a partir de demandas que os associados trazem. Não defendemos pleitos de uma empresa pontualmente mas, se entendemos que um desafio que uma empresa apresenta é o mesmo que outros estão vivendo, então vamos trabalhar em cima disso.

Temos olhado essa formação das pessoas e das empresas no que tange a um conteúdo importante, diferenciado, gerando networking qualificado e, em paralelo, discutindo com o poder público uma melhoria nos incentivos e na política para que tenhamos um Estado e uma cidade mais competitivos, assim como a Amcham Brasil faz na esfera federal e nas relações comerciais com os Estados Unidos.

Pernambuco pulsa inovação, então essa pauta sempre foi transversal na Amcham, tanto que, em 2017, provocados por um então secretário de Desenvolvimento do Estado, começamos a trazer a discussão de como podemos promover Pernambuco como um Estado importante para receber investimentos, por exemplo, na área de tecnologia. Foi quando surgiu o projeto PE Avança que acontece até hoje.

Recentemente, a pauta ESG tem sido bastante discutida por empresas e pessoas e a Amcham sempre olhou com muito cuidado para a pauta de sustentabilidade. Temos o prêmio ECO, que é o prêmio de sustentabilidade mais antigo do Brasil, criado há mais de 40 anos. Temos um olhar mais ampliado para as outras letrinhas do ESG, olhando o social e a parte de governança, trazendo de forma forte na nossa agenda e também de forma transversal. A pauta entra nas discussões dos nossos comitês estratégicos, criamos eventos específicos como a primeira edição do Fórum ESG que fizemos este ano.

Buscamos ser uma entidade que promove o alicerce para empresas que queiram se capacitar e estar prontas para receber essas oportunidades. Até 2020 a Amcham era 100% presencial. A materialização da Amcham para o associado do Recife ou do Nordeste era muito vinculada ao que essa unidade promovia de entrega de eventos presenciais. Mas não tínhamos o melhor aproveitamento de eventos promovidos pelas outras regionais. A partir da pandemia passamos a conectar essas empresas associadas por meio do universo online. Então olhando Pernambuco e o Nordeste entendemos a questão da regionalização, da cultura, do perfil do empresário que é diferente do perfil das outras regiões. Então, promovemos a interação entre o empresário daqui com os outros do Brasil.

A senhora mencionou que um dos papéis da Amcham é incentivar o contato entre governos e os empresários. Atualmente qual a pauta que vocês trabalham nessa área?

Por ser multissetorial, sem fins lucrativos e apartidária, a Amcham contribui nesse diálogo de forma neutra. Não levantamos nenhum pleito em prol de uma empresa, mas de setores e pensando no aumento da competitividade. No Brasil temos grupos de trabalho que reúnem os empresários que, voluntariamente, têm interesse em discutir determinada pauta, que formulam documentos que se tornam contribuições com trabalho ligados à tributação, à articulação Brasil/Estados Unidos, à transformação digital, à propriedade intelectual. Acabamos de lançar um grupo de trabalho sobre políticas ambientais.

Os grupos redigem os documentos que são entregues na esfera federal ou promovemos eventos aonde a pauta é discutida. Na esfera regional, as discussões acontecem dentro dos nossos comitês estratégicos compostos por pessoas que têm o know-how e a experiência naquele determinado tema para começar um grupo de estudos para redigir um documento e, aí, a Amcham faz a apresentação para uma entidade. Por exemplo, este ano a Amcham participou de um movimento que tinha como organizadores a Fiepe e o Grupo Atitude, mas foram envolvidas diversas outras entidades com o olhar para a Transnordestina. O Comitê de Supply junto com Comitê de TI fez um documento muito interessante que se chama Carta dos Portos que era: Porto de Suape, Porto de Recife e Porto Digital, abordando como fazer a integração da tecnologia em benefício da logística.

Temos o nosso Comitê de ESG, junto com Comitê de Gestão de Pessoas, estudando o “S” do ESG, provavelmente vai surgir daí uma cartilha de como as empresas podem implementar uma melhor forma de ter um olhar para o social. Na pandemia, o Comitê de Marketing fez um documento sobre como ajudar as empresas a entender como poderiam utilizar o online naquele momento de mudança. O grupo de TI também fez um documento há uns dois anos: o Mapa da Inteligência Artificial em Pernambuco.

Na área de ESG, quais os desafios das empresas em Pernambuco para implantar essa agenda?

ESG é uma pauta urgente, as grandes empresas estão cada vez mais voltadas para o cuidado com as três pautas que ficam dentro desse guarda-chuva. Mas algumas de pequeno porte pensam: “a pauta é muito distante para mim, só quem olha esse assunto são esses grandes players”. Na verdade, não, porque esses grandes compradores estão muito rigorosos, inclusive com os serviços e produtos que eles contratam.

ESG é uma sigla nova mas, na verdade, significa olhar as suas boas práticas no que tange o impacto que você causa ao meio ambiente, a contribuição que dá para o entorno onde sua empresa está instalada e como está a gestão do seu negócio. Mas muitas empresas já tinham essas práticas, só não as organizavam. Quando criamos o Comitê Estratégico de ESG, em 2022, entendemos que o primeiro passo era mostrar para as empresas os caminhos e atores que podem auxiliá-las a se organizarem como uma empresa com boas práticas em ESG. Temos, agora, um cuidado na formação das pessoas que compõem essas empresas e na formação das empresas de pequeno porte que querem estar aptas para fornecer.

Trouxemos Rafael Dubeux, que era secretário de desenvolvimento e hoje está como assessor especial do ministro Haddad, que mostrou o olhar do ministério para as questões ligadas à energia verde. Existe o projeto da Amcham Brasil pelo Meio Ambiente, em que temos uma reunião de empresas dispostas a fazer investimentos em prol do cuidado ambiental. É esse projeto que a Amcham leva agora em novembro para COP em Dubai. É o terceiro ano que vamos participar de um painel com o ICC (International Chamber of Commerce) e a CCAB (Câmara de Comércio Árabe-Brasileira).

Recentemente lançamos o Hub Descarbonização, que tem cinco empresas mantenedoras e outras que são participantes. Eles têm toda uma pauta de conteúdo que é gerado sobre descarbonização, uma pauta público/privada em relação aos incentivos, além da troca de experiências entre essas empresas.

Como está a relação comercial dos Estados Unidos com o Nordeste, em especial, com Pernambuco?

A Amcham tem esse papel do mapeamento e da interlocução, inclusive com algumas publicações que são atualizadas anualmente, identificamos os gargalos e as oportunidades no incentivo dessa relação comercial. Ano que vem serão 200 anos das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, então teremos uma agenda bem interessante que vai ser promovida pela Amcham, tanto de encontros empresariais, que vão discutir as oportunidades, quanto de documentos a serem apresentados. Em Pernambuco temos por histórico uma aproximação muito forte com consulado americano e, em especial, com a equipe comercial do consulado que tem a missão de mapear as oportunidades para empresas americanas investirem aqui e vice-versa. O SelectUSA é um projeto de muitos anos do governo americano, promovido pelo consulado, que dá todo o suporte para empresas que têm essa intenção de abrir a operação nos Estados Unidos.

Existem cases interessantes, como o da indústria farmacêutica Hebron. Há empresas de tecnologia que já estão operando ou abrindo a operação lá. Buscamos promover o acesso à informação para que os empresários entendam o momento da economia, o momento político, o que uma eleição nos Estados Unidos pode interferir no setor da economia do qual a empresa participa.

A nossa área de desenvolvimento de negócios internacionais fica baseada na matriz em São Paulo e ela mapeia oportunidades. Nas missões de empresários americanos que vêm ao Brasil, damos o apoio com agenda e interação. Também promovemos a construção de documentos que reúnem os principais entraves e as soluções propostas para que essas relações possam ser potencializadas.

Uma pesquisa da Amcham Nacional revelou que 56% dos executivos e empresários brasileiros apontaram a expectativa de crescimento de suas empresas superior a 10% no próximo ano. A que você credita esse otimismo?

Em 2022, tivemos um percentual de 44% com esse olhar mais otimista, e este ano houve esse crescimento. Eles pontuaram os motivos de terem essa perspectiva tão otimista: 42% deles relacionam essa previsão com uma estabilidade política, então o olhar de um segundo ano de governo traz para eles um pouco mais dessa segurança. Eles pontuaram também a redução das incertezas globais, uma estabilização dessas relações e do que está acontecendo nas outras economias. Isso tudo traz para eles um pouco mais de confiança nesse olhar para 2024.

Eles mencionaram ainda o avanço tecnológico como fator para impulsionar o crescimento. Quando você destrincha as respostas, a maior parte dessa percepção vem das empresas de tecnologia, em que 72% creditam ao progresso tecnológico essa expectativa de 2024, no geral é 40%. Eles trazem também um olhar do impacto positivo das tendências de inteligência artificial e do ESG contribuindo para esse otimismo.

O que é que eles pontuaram como preponderante nessa questão da IA nos negócios?

Achamos interessante que a pesquisa da Amcham com líderes empresariais mostrou que 68% sinalizaram que já estão usando a inteligência artificial e apenas 32% afirmaram que não usam. Trinta e oito por cento utiliza a IA na automação dos seus processos e 28% na análise de dados, 22% para suporte ao cliente, com os famosos chatbots, e 28% na melhoria da eficiência operacional.

Às vezes pensamos que a inteligência artificial está muito distante ou que é uma coisa muito específica, mas ela já permeia o universo de boa parte das empresas. Nessa pesquisa, tivemos uma representatividade significativa de empresas de médio e grande porte. Então você vê que são empresas que já têm um olhar voltado para as inovações e para o uso dessa tecnologia a seu favor. Você realiza um trabalho de conscientizar as empresas no apoio às carreiras das mães atípicas.

Você podia explicar essa atividade?

É um movimento muito mais pessoal, a Amcham é uma empresa que tem um olhar cuidadoso para diversidade e inclusão. Temos um Comitê Interno de Diversidade e Inclusão que eu pedi para participar, pois é um comitê voluntário. Como mãe de uma criança neurotípica – tenho uma filha autista – enfrentando os desafios da rotina de uma mãe atípica, ter o apoio do lugar onde trabalho faz muita diferença.

Eu não tiro a importância do pai, mas a gente sabe que normalmente a mulher é aquela que abdica da sua carreira para poder cuidar dos filhos em uma família que tem uma criança com algum tipo de necessidade especial. Como as empresas podem ser suporte para essa mãe para que ela não desista dos seus sonhos, se ela quer ser uma executiva de carreira ou empreender?

Conversando com outras mães, comecei a ver as dificuldades que enfrentam, às vezes são ações simples que a empresa faz e que podem oferecer suporte para elas. Se eu sou um líder, por exemplo, e tenho na equipe uma mãe que tem um filho autista (falo do autismo porque é minha realidade mas a gente pode trazer para qualquer outro desafio), e eu tenho essa empatia de pensar que essa criança precisa de uma terapia, eu apoio a minha liderada para que ela saia um pouco mais cedo e volte um pouco mais tarde para levar aquele filho ou filha numa terapia.

Muitas empresas nem sabem se têm colaboradores com filhos ou parentes com algum tipo de necessidade especial. São pequenas ações que as empresas podem fazer com seus colaboradores e que mudam a vida dessas pessoas.

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