Quando 2020 começou ninguém imaginava que as pessoas passariam a maior parte do ano em distanciamento social, com as residências tornando-se o centro social e profissional. Em meio ao processo de adaptação, uma das consequências da pandemia da Covid-19 foi a paralisação da atividade econômica em escala mundial. Assim como em outros países, no Brasil surgia uma dúvida: Como reagir à crise?
Foi esta a pergunta feita pela PwC, em uma pesquisa realizada em julho, a 134 representantes de diferentes indústrias em todo o país. Entre as prioridades, foram identificadas ações em prol do bem-estar dos colaboradores: logo no início da crise, 85,1% das empresas criaram um comitê específico para administrar os casos de Covid-19. Houve também outras iniciativas, como a manutenção da força de trabalho, a adoção de processos automatizados e o amadurecimento do trabalho e da experiência digital. “A pandemia e a crise econômica pegaram a todos de surpresa”, afirma Flávia Fernandes, sócia da PwC Brasil. “Mas aos poucos o mercado percebeu que não era possível parar por vários meses, e era necessário reagir. Porém de que forma? O que tentamos descobrir foi como as empresas estavam trabalhando para enfrentar este cenário”, explica.
Identificado o principal problema a ser enfrentado – a Covid-19 – era necessário, em seguida, pensar em como proteger a empresa: 60,4% afirmaram ter postergado os recolhimentos sobre FGTS e INSS. 50% também utilizaram o saldo de banco de horas a fim de que os empregados pudessem ficar em casa, enquanto 37% fizeram uso de créditos tributários/previdenciários (além de empréstimos bancários) a fim de proteger o fluxo de caixa. Na etapa seguinte, 99,3% das empresas adotaram o trabalho remoto. 70,1% também disponibilizaram equipamentos em regime de comodato, para que os profissionais pudessem ter seus instrumentos de trabalho em casa, e 52,2% adotaram um sistema de rodízio nos escritórios. Pensando no futuro e no retorno às atividades presenciais, 67,0% das empresas adotaram o controle de acesso das pessoas ao ambiente de trabalho, 52,2% implantaram um sistema de rodízio de profissionais e outros 15,7% afirmaram estudar reembolsar despesas com internet e telefone em decorrência do trabalho remoto.
Para além dos números, as respostas demonstram as necessidades das empresas de se adaptar à nova realidade, bem como as tendências que daí surgiram – como a adaptação imediata ao trabalho remoto, investimentos em tecnologia e novos procedimentos de segurança, a fim de que as atividades primárias das empresas não fossem interrompidas. Nesse processo, muitas das mudanças que inicialmente aparentavam ser passageiras tornaram-se definitivas – incluindo estratégias de desenvolvimento e crescimento das empresas, como a redefinição do pacote de remuneração em alinhamento com a estratégia e a adoção de novas possibilidades de readequação e redistribuição da força de trabalho, agora espalhada por outras cidades ou até mesmo países.
Embora a adaptação tenha sido repentina para todos, as empresas não podem deixar de observar as regras trabalhistas, fiscais e previdenciárias. “Existem vários fatores a serem observados pelos empregadores, desde o fornecimento de condições apropriadas para a execução das atividades laborais até o ajuste das políticas e processos internos, incluindo os procedimentos para preservação da segurança e saúde dos trabalhadores”, diz Flávia Fernandes. Cada regra que não seja observada pode gerar consequências financeiras às empresas – de custos adicionados à folha de pagamento a imposição de penalidades.
Muitas empresas também se viram forçadas a fazerem adaptações em suas dependências ou mesmo reforçarem o fluxo de caixa, no intuito de não paralisar as operações. Mesmo em tempos de pandemia, é necessária a correta captação de recursos ou postergação de recolhimentos autorizada pelo Governo. “As empresas têm retomado projetos de apuração e compensação de créditos tributários e previdenciários como forma de monetização imediata, para poder viabilizar os investimentos necessários. Desta maneira, elas buscam evitar que as ações de caráter emergencial adotadas durante a pandemia se tornem um outro problema”, conclui Flávia.