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Pesquisa da UFPE: Mulheres do Norte-Nordeste têm mais sintomas da Covid-19

Rafael Dantas

Por Renata Reynaldo (da Ascom da UFPE)

Mulheres do Norte e Nordeste, pardas e com faixa etária mais velha têm maior associação com a categoria das pessoas que apresentam a maioria dos sintomas relacionados à Covid-19. Segundo estudo desenvolvido pelo professor de Medicina Social da Faculdade de Medicina da UFPE Rafael da Silveira Moreira, também pesquisador do Instituto Aggeu Magalhães, essa camada da população forma a maioria entre quem procura por serviços de atendimento em saúde, embora que com diferentes perfis de uso. O resultado da pesquisa foi publicado nos Cadernos de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com o título “Análises de classes latentes dos sintomas relacionados à Covid-19 no Brasil: resultados da Pnad-Covid-19”.

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Outro dado importante revelado pela investigação indica que os atos de ligar para profissional de saúde, fazer uso de medicação – prescrita ou na forma de automedicação – e receber visita de um profissional de saúde particular estiveram associados às classes de maior gravidade dos sintomas. E mais: receber visita por profissional do Sistema Único de Saúde (SUS) esteve associado com possuir tanto todos os sintomas quanto leves sintomas com predominância de dor de cabeça, além de o local de busca de atendimento entre os indivíduos com todos os sintomas foi a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do SUS. “Achados como estes sustentam a importância da investigação dos sintomas, servindo para a identificação epidemiológica de possíveis casos em um cenário com baixa taxa de testagem populacional”, afirma o autor.

Ainda sobre o que aponta objetivamente o estudo, para os pacientes com maior prevalência de tosse e dor de garganta, a Unidade Básica de Saúde (UBS) foi o local mais procurado, enquanto que os hospitais tanto públicos como privados não foram os locais prioritários para busca por atendimento, assim como os consultórios particulares. O levantamento revela, ainda, que os prontos-socorros particulares foram buscados na prevalência alta dos sintomas e que houve um excesso de indivíduos da classe com todos os sintomas que ficaram internados ou que tentaram internação, mas não conseguiram. “O fato de terem sido as UPAs do SUS o local onde se buscou atendimento para aqueles que apresentaram maior prevalência de todos os sintomas indica a UPA como porta de entrada para a maioria dos indivíduos polissintomáticos”, analisa Moreira.

MÉTODO – O pesquisador fez uma Análise de Classes Latentes (ACL) com covariáveis sociodemográficas sobre 11 sintomas relatados por 346.181 participantes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad-Covid-19), realizada em maio de 2020, e relacionou os dados com informações sobre o padrão de utilização dos serviços de saúde, também considerando a localização espacial dos entrevistados a fim de identificar as áreas de risco para os casos de Covid-19. A investigação revelou seis classes de sintomatologia que variam entre todos os sintomas; prevalência alta dos sintomas; predominância de febre; predominância de tosse/dor de garganta; leves sintomas com predominância de dor de cabeça e, por fim, a ausência de sintomas.

Segundo Moreira, a ausência de testagens em massa para o diagnóstico da Covid-19 gera a necessidade de conhecer a dimensão da doença por meio da sua sintomatologia clínica, daí o objetivo do estudo de investigar o perfil de sintomas relacionados a essa patologia e aspectos relacionados. O artigo, publicado em janeiro deste ano, aponta que a experiência de países que conseguiram êxito no controle da epidemia mostrou alta taxa de testagens da população, acompanhamento dos casos e de contactantes, bem como maior engajamento político e social na manutenção das medidas de distanciamento social.

SUPORTE – De acordo com o professor Rafael, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou sistematicamente em 2020 a Pnad-Covid-19, para a qual os entrevistados respondem a perguntas relacionadas aos sintomas autorreferidos da doença, ao perfil de busca por serviços de saúde e à situação ocupacional no mercado de trabalho. O pesquisador entende que a forma como se apresenta esse padrão na população, reforçada pelo conhecimento científico sobre os fatores associados, pode gerar melhor suporte para o manejo focalizado de pacientes com maior probabilidade de confirmação positiva da doença. “Do mesmo modo, propicia o uso racional dos leitos de UTI e de ventiladores pulmonares epidemiologicamente direcionados, além de permitir melhor detecção, diagnóstico e monitoramento oportuno dos casos suspeitos”, reforça.

Em tom de alerta, o artigo científico destaca que o Brasil apresenta uma taxa de testagem bastante inferior ao que seria esperado para o adequado controle da epidemia, flexibilizações de medidas de distanciamento social por pressões econômicas e instabilidades na coordenação setorial no campo da saúde pública. “Como resultado”, observa o autor, “vê-se o avanço da epidemia em diferentes ritmos nas diversas escalas geográficas nacionais, e essa desigualdade é espelho da iniquidade social brasileira, na qual a pandemia encontra já de partida um país debilitado pelo modesto crescimento econômico e por um setor público (ciência, educação e saúde) enfraquecido pela redução dos investimentos em políticas públicas, resultado do modelo neoliberal de austeridade fiscal, realidade compartilhada pelos demais países da América Latina”.

Fonte: UFPE

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