Um estudo realizado no Hospital Agamenon Magalhães (HAM) identificou que 5,8% das crianças com diagnóstico confirmado da Síndrome Congênita do Zika apresentam perda auditiva neurossensorial. O artigo, publicado nesta terça-feira (30/08), na Revista Eletrônica Morbidity and Mortality Weekly Report (MMWR), vinculado ao Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), levou em consideração avaliação realizada com 69 crianças de até 10 meses de idade, e vai contribuir para reformular a triagem auditiva neonatal em todo o mundo,considerando a infecção materna pelo zika vírus como um novo fator de risco para deficiência auditiva em crianças.
“Normalmente, a perda auditiva neurossensorial já está relacionada a uma infecção congênita. No entanto, essa prevalência é de um ou dois casos a cada mil crianças nascidas vivas na população em geral. Ou seja, a partir dessa avaliação, podemos considerar que ter zika durante a gravidez é, sim, um fator de risco para perda auditiva congênita da criança”, explica a chefe do serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Agamenon Magalhães, Mariana Leal.
Inicialmente, 150 bebês passaram pela triagem e avaliação no serviço de otorrinolaringologia do HAM, referência estadual para esse tipo de acompanhamento das crianças com microcefalia. Dessas, 69 foram selecionadas para participar do estudo. Todas tiveram o diagnóstico confirmado de microcefalia por meio de tomografia, assim como apresentaram resultado laboratorial positivo para a presença do zika vírus. Para fazer parte do estudo, os pacientes tiveram que ter excluída a possibilidade de possuírem outras infecções congênitas. Confira o artigo no site da publicação: http://www.cdc.gov/mmwr/.
Dos 69 bebês avaliados durante o estudo, 4 tinham perda auditiva neurossensorial, ou seja, apresentaram perda auditiva tanto sensorial, quando atinge a cóclea; quanto nervosa, quando atinge o nervo auditivo. O estudo, no entanto, não identificou um padrão único da manifestação. Alguns pacientes apresentaram perda auditiva bilateral profunda, enquanto outros apresentam perda unilateral de grau leve.
“Apesar de confirmarmos que as perdas foram neurossensoriais, elas se apresentaram em graus diferentes. Assim, é fundamental continuarmos acompanhando todas essas crianças, visto que é possível, como em outros tipos de infecções, que essas manifestações ocorram de forma tardia ou que sejam progressivas”, complementa Mariana.
Realizado entre os meses de novembro de 2015 e maio de 2016, o estudo reuniu médicos e fonoaudiólogos do Hospital Agamenon Magalhães, assim como profissionais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Além disso, contou com a participação da neuropediatra Vanessa Van Der Linden, que atua no Hospital Barão de Lucena e na AACD, e da infectologista pediátrica Regina Coeli, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz.
“Esse estudo só reforça a importância do trabalho que o Governo do Estado vem desenvolvendo na ampliação e descentralização da assistência às crianças com microcefalia, além da atitude pioneira e corajosa de fomentar a pesquisa cientifica da zika e suas complicações”, comenta a secretária executiva de Atenção à Saúde da SES, Cristina Mota.
O SERVIÇO – Referência em otorrinolaringologia na rede estadual de saúde, o Hospital Agamenon Magalhães é o responsável pelo acompanhamento na especialidade dos bebês com microcefalia. Atualmente, cerca de 200 crianças com quadro suspeito de microcefalia já foram avaliadas e são acompanhadas na unidade. O serviço também é responsável pela reabilitação dos pacientes com alteração auditiva, que engloba desde a colocação da prótese auditiva ou implante coclear até a terapia para estimulação auditiva ou de linguagem.
REDE DE SAÚDE - O Governo do Estado reestruturou a sua rede de atenção para garantir o tratamento às crianças com microcefalia e às suas mães, com o atendimento psicossocial e de reabilitação. No final do ano passado, Pernambuco contava com apenas duas instituições que atendiam as crianças com microcefalia – o IMIP e a AACD, isso devido ao fato de que, historicamente, o Estado registrava cerca de 12 casos da malformação por ano.
Hoje, após pouco mais de nove meses do início dos esforços, 26 unidades em todo o Estado já prestam algum tipo de atendimento relacionado à microcefalia, espalhadas por todas as Regiões de Saúde. E isto já tem um impacto muito importante para estas famílias. Para se ter uma ideia, em outubro do ano passado, uma criança precisava percorrer, em média, 420 quilômetros para ter um atendimento para microcefalia. Atualmente, essa distância foi reduzida para menos de 60 quilômetros de distância.
PESQUISA - Pernambuco tomou uma iniciativa pioneira no Brasil de fomento à pesquisa científica nessa área. Neste sentido, foram investidos R$ 3 milhões, de recursos das secretarias estaduais de Ciência e Tecnologia e da Saúde, via Facepe, para fomento às pesquisas que buscam identificar e conhecer melhor o vírus Zika.