Ler uma reportagem no Jornal do Commercio em novembro de 2011, intitulada “Couro de tilápia vira artesanato”, despertou o interesse do cirurgião plástico Marcelo Borges, coordenador do SOS Queimaduras e Feridas, localizado em Pernambuco. O médico vislumbrou a possibilidade de utilizar a pele desse peixe como curativo biológico temporário no tratamento das queimaduras e feridas. As informações sobre como descontaminá-la de forma segura para o uso em humanos vieram com o decorrer do tempo, por meio da experiência do cirurgião plástico como responsável técnico por quase dois anos do Banco de Pele do Imip. Delineava-se então o esboço da pesquisa científica, inédita no mundo.
A pesquisa agora está em andamento, graças a um convênio firmado com o Instituto de Apoio ao Queimado (ONG do Ceará), por meio de seu presidente e pesquisador, o cirurgião plástico Edmar Maciel. Ainda com seu auxílio, o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da Universidade Federal do Ceará (UFC) também aderiu ao projeto, trazendo o pesquisador e professor Odorico Moraes. Além desses médicos, a investigação científica conta com a participação de Nelson Piccolo, experiente cirurgião plástico de Goiás. Coube ao Instituto também viabilizar o financiamento da pesquisa, através de parceria estratégica firmada com a Companhia Energética do Ceará (Coelce/ANEEL).
Até o momento, no NPDM, foram realizadas dez fases da primeira etapa pré-clínica, todas com bons resultados. Dentre os aspectos avaliados estão a histologia e microbiologia da pele de tilápia, teste de resistência à tração e estudo comparativo com a pele humana. O projeto foi apresentado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com o objetivo de obter orientações e aprimoramentos sobre o estudo.
Os primeiros resultados serão publicados no início deste ano na Revista da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ). Eles também serão apresentados no Congresso Anual da American Burn Association, que ocorre em maio, em Las Vegas. “Nosso intuito é que a pesquisa, pioneira na área de queimaduras, seja apresentada a um maior número de publicações e eventos da especialidade no Brasil e no exterior”, conta Marcelo Borges.
Os pesquisadores estimam que a etapa clínica em seres humanos deva acontecer no segundo semestre de 2016, após aprovação formal do Comitê de Ética e Pesquisa (Conep). Nessa fase, haverá participação dos maiores centros de queimados do Brasil, para que possam ser colhidos os resultados e a evolução do tratamento utilizando a pele da tilápia.