Polarização no eleitorado brasileiro está ligado ao sentimento de medo - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Polarização no eleitorado brasileiro está ligado ao sentimento de medo

Revista algomais

Em decorrência das manifestações políticas ocorridas em 2013 e 2015 no Brasil, grande parte da população foi acometida por uma descrença na classe política, com bandeiras reivindicando um “fora todos”. Após as ondas protestos e a separação de manifestantes pró e anti-PT, durante o impeachment de Dilma Rousseff, dados do Latin American Public Opinion Project (LAPOP, 2017) confirmaram uma alta rejeição aos dois maiores partidos políticos do país, o PT e o PSDB; numa escala de 1 a 10, 42,7% das entrevistadas expressaram forte rejeição a petistas e 44,6% a psdbistas. Baseada nesses resultados a dissertação “O que você sente sobre política?: A influência da percepção de ameaça sobre a polarização afetiva no eleitorado”, produzida por Mariana Meneses, analisa como a ideia de ameaça induz à polarização afetiva e aponta que somente a ideologia não é suficiente para explicar discordância no Brasil.

A pesquisa, produzida no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFPE (PPGCP), antecipa que situações onde o indivíduo se sente ameaçado levam a um aumento da polarização afetiva em relação a diversos grupos. O estudo tenta antecipar que situações em que o indivíduo se sente ameaçado levam a um aumento da polarização afetiva em relação a diversos grupos. “Essa expectativa se deve a que contextos de ameaça desencadeiam emoções responsáveis por aumentar a necessidade de isolamento do indivíduo, fortalecendo seus laços identitários e, consequentemente, maior etnocentrismo em relação a grupos do qual o indivíduo participa e discriminação em relação aos grupos com os quais ele não se identifica”, diz a pesquisa.

Agenda TGI

HIPÓTESES | Para testar a veracidade dessa relação, a autora criou quatro hipóteses: 1) a percepção de ameaça econômica aumenta a polarização afetiva em relação aos grupos analisados; 2) a percepção de ameaça física aumenta a polarização afetiva em relação aos grupos analisados; 3) a percepção de ameaça econômica aumenta a polarização negativa em relação aos grupos analisados; e 4) a percepção de ameaça física aumenta a polarização negativa em relação aos grupos analisados.

As hipóteses foram testadas em cinco grupos, sendo eles compostos por pessoas que são a favor da legalização do aborto; que são a favor do regime militar; comunistas; petistas e simpatizantes do PT; e psdbistas e simpatizantes do PSDB. Para chegar aos resultados, Mariana Meneses também utilizou como recorte os perfis que levam em conta a ameaça econômica e física, sexo, idade, conservadorismo, partidarismo, interesse por política, escolaridade, religiosidade e etnia. O trabalho, orientado pela professora Nara Pavão, não consegue testar todas as hipóteses da melhor forma, pois a teoria e os dados disponíveis utilizadas se encontram distantes de alguma forma, mas alguns resultados devem ser salientados.

Segundo a dissertação, a ameaça econômica esteve associada ao aumento da polarização entre os simpatizantes do PSDB, e a ameaça física mostrou-se ligada ao aumento da polarização dos simpatizantes do PT. Ou seja, “o medo de ser vítima de crimes e assassinato esteve relacionado a atitudes mais radicais em relação a pessoas que defendem o PT, enquanto perspectivas negativas sobre a situação econômica individual e do país estiveram relacionadas a sentimentos mais radicais e radicalmente negativos em relação a pessoas que apoiam o PSDB”, detalha a pesquisadora.

ESCOLARIDADE | O estudo também pontua a escolaridade foi um preditor (profetizador) com significância nos modelos de polarização negativa para todos os grupos, com exceção do grupo 1 (pessoas que são a favor da legalização do aborto). “Para os outros quatro grupos, em ambos os modelos de ameaça, indivíduos com maior escolaridade estiveram relacionados a níveis mais elevados de rejeição, ou afeto negativo. Sexo e etnia foram os preditores com menor capacidade explicativa dentre os controles empregados, e a religiosidade, em geral, só pôde ser relacionada à polarização em relação a pessoas que defendem a legalização do aborto (grupo 1)”, aponta a pesquisa.

A pesquisa também oferece perfis com características individuais relacionadas à polarização afetiva no Brasil. Mariana comenta que, “em geral, pessoas mais velhas estão relacionadas a atitudes mais radicais em relação aos grupos, com uma exceção: são os mais jovens que rejeitam mais veementemente defensores do regime militar. Essa é a mesma tendência observada para o interesse por política: em geral, as pessoas com menor interesse em política são as mais polarizadas. Mas isso muda para o caso do grupo 2: quanto maior o interesse em política, maior a polarização em módulo e negativa [ou seja, maior a rejeição] em relação a pessoas que defendem o regime militar”.

A mestra e atualmente doutoranda em Ciência Política também comenta sobre a dificuldade de relacionar a teoria utilizada e o que as variáveis capturaram. “A percepção de ameaça é um conceito de difícil mensuração através de dados secundários e não é possível estimar com precisão o quanto as limitações nessa mensuração impactam sobre os resultados do presente estudo”, afirma. Apesar disso, com base na teoria desenvolvida na dissertação, Mariana e dois coautores vêm trabalhando em um artigo para publicação que olha especificamente para a relação entre o medo de ser vítima de crimes na rua e a polarização afetiva em relação a petistas. Os resultados encontrados, afirma, são promissores e foram discutidos este ano no V Workshop sobre Comportamento Político e Opinião Pública, realizado na Universidade Federal de Goiás, em Goiânia, em março.

(Por Larissa Valentim, do site da UFPE)

Deixe seu comentário

Assine nossa Newsletter

No ononno ono ononononono ononono onononononononononnon