Por que é tão difícil emagrecer?

Quem enfrenta a batalha contra a balança sabe que não é fácil ter a felicidade de ver seus ponteiros em direção à perda de peso. Se você é um desses guerreiros, não perca as esperanças. Pesquisadores têm se debruçado sobre essa dificuldade de emagrecer e chegaram a resultados surpreendentes que podem ajudá-lo nessa luta.

Estudos indicam que alimentos processados (industrializados e com aditivos artificiais) são tão viciantes quanto uma droga. Entendeu porque é tão complicado resistir à batata frita ou ao refrigerante? “São substâncias que levam à ansiedade e à compulsão de comer mais desses produtos”, explica a nutricionista do Hospital das Clínicas da UFPE Jerluce Ferraz. A irresistível vontade de comer doces também tem explicação. O açúcar, segundo o endocrinologista Ney Cavalcanti, aumenta no cérebro o nível de serotonina, substância que tem ação tranquilizadora. “Isso explica porque algumas pessoas sentem a necessidade de comer alimentos adocicados, quando submetidas a estresses”, esclarece o médico

Nos anos 90 foram feitos estudos que lançaram por terra a concepção que basta o obeso ter força de vontade para emagrecer. Nessa época descobriu-se o hormônio leptina, responsável por enviar ao cérebro a sensação de saciedade quando estamos comendo. Ele, portanto, nos ajuda a reduzir a ingestão de alimentos. Mas pesquisadores surpreenderam-se ao descobrir o que parecia uma contradição: obesos possuem grande concentração de leptina. Acontece, porém, que neles o hormônio da saciedade é pouco sensível a sua atuação”. “Também se constatou que ao emagrecer o obeso reduz a quantidade de leptina”, acrescenta Cavalcanti.

A ghrelina é outra descoberta importante. Trata-se de um hormônio produzido pelo estômago que estimula o apetite. O curioso é que nas pessoas obesas a concentração hormonal da ghrelina é baixa, porém quando elas perdem peso, ocorre uma elevação. Com essas descobertas ficou fácil entender porque ocorre o efeito sanfona. “Quando o obeso emagrece fica com menos concentração de leptina (portanto demora a se sentir saciado e por isso come mais). Além disso, tem o apetite aumentado, porque o nível de ghrelina se eleva. Daí vem a dificuldade de manter o peso”, diz Cavalcanti. “Ou seja, quando o gordo emagrece ele não vira um magro. Ele é ‘um gordo emagrecido’ propenso a voltar engordar”, distingue o médico.

A obesidade provoca, ainda, alterações que prejudicam o funcionamento de outro hormônio, o GLP1, também responsável pela saciedade. “Ele é produzido no fim do intestino delgado e é estimulado pela quantidade de comida que chega a essa região”, esclarece Cavalcanti. “Como o intestino dos obesos é maior, o alimento demora mais de fazer esse percurso prejudicando a ação do GLP1”, acrescenta.

Outra surpresa foi levantada em estudos apresentados no último Congresso Americano de Endocrinologia que rechaçaram a ideia de que fracionar refeições ao longo do dia emagrece durante. “Pesquisa compararam 2 refeições ao dia com 6 vezes, houve uma maior perda de peso e melhora metabólica no grupo de 2 refeições/dia” diz o endocrinologista Luiz Griz, professor adjunto da UPE. “Isso porque com o jejum prolongado há um aumento do GLP-1 (hormônio que diminui o apetite) e redução da ghrelina (hormônio que aumenta o apetite)” conclui.

Por todas essas questões a obesidade é considerada uma doença multifatorial e das mais perigosas porque aumenta as chances de desenvolver outras patologias como: hipertensão, doença cardiovascular, níveis de colesterol e triglicerídeos elevados, diabetes, artrite e até câncer. Obesos também são acometidos por inflamações em todo o corpo. “Excesso de gordura produz substâncias pró-inflamatórias indesejáveis para a saúde”, alerta Jerluce, que também é nutricionista das clínicas Santevie e Coenzima.

Se obesidade é uma doença, para tratá-la deve-se consultar um médico, no caso um endocrinologista. Abordagens mais recentes incluem consultas com nutricionistas e psicólogos. De antemão, é bom saber existem duas causas: a herança genética e o estilo de vida. Como não é possível interferir no DNA, pode-se modular com correção de hábitos errados adquiridos na vida contemporânea,como alimentar-se com comida industrializada (pobres em vitaminas, minerais, fibras e fitoquímicos) e o sedentarismo provocado pelas facilidades tecnológicas como o automóvel, o celular, o computador.

Razões emocionais, segundo Cavalcanti, embora não causem a obesidade, podem ser um agravante. Que o diga a psicóloga Iana Araújo. Ela participa da equipe que atende pacientes a serem submetidos à cirurgia bariátrica (de redução de estômago) no HC. “Há pessoas que tiveram perdas marcantes, como a morte de um parente, e aliviam o sofrimento na comida”, exemplifica Iana.

Outro agravante é a ansiedade. “Estudos mostram que só pelo fato de estar ansioso, o indivíduo pode engordar. Isso foi comprovado em pesquisas feitas após a Primeira e Segunda Guerras, quando as pessoas foram submetidas a uma grande carga de estresse”, embasa a psicóloga.
Ser gordo também afeta o estado emocional em razão das dificuldades e dos preconceitos enfrentados. “A ansiedade e a depressão estão presentes pelo isolamento social e pelas limitações: é difícil para um obeso amarrar os sapatos, cruzar as pernas, passar na catraca, muitos não vão a eventos porque não encontram roupa que caiba”, detalha Iana.

Saiba como tratar
Segundo dados do Ministério da Saúde, quase 50% dos brasileiros estão com sobrepeso ou obesos. “Obesidade é uma epidemia mundial provocada por um padrão que que veio junto com a industrialização e o surgimento da alimentação processada”, analisa Jerluce. Por isso, quem quer emagrecer deve eliminar esses produtos da lista de supermercado, além de seguir um plano alimentar com comida natural e fazer exercícios físicos.

Mas nem todo obeso chega ao peso ideal com essas medidas, em razão das dificuldades já mencionadas relacionadas ao funcionamento dos hormônios. Menos de 10% deles conseguem emagrecer com a mudança de hábitos. Nesses casos, uma das alternativas é o tratamento com medicamentos. “São medicações que foram aprovadas pela agência norte-americana FDA (Food and Drug Administration) tendo como critério reduzir acima de 5% do peso em pelo menos três meses. Nesse patamar o medicamento já oferece benefícios como melhora do nível de glicose e redução da pressão arterial”, explica Griz.

O tratamento medicamentoso é associado à dieta e atividade física e está indicado para pessoa com IMC (índice de massa corpórea – veja quadro na página 12) acima de 27 com presença de doenças(comorbidades). Ou então com IMC acima de 30. Segundo Griz, essas drogas são efetivas na maioria dos pacientes.

Cavalcanti, entretanto, ressalta que os medicamentos estão longe de ter a eficácia desejada, embora reconheça que existem muitos casos em que são indicados. Mas ressalva que às vezes são usados de maneira permanente, já que, como vimos, muitos obesos que emagrecem tendem a voltar a engordar.

Outro recurso é a cirurgia bariátrica, indicada para os que têm IMC igual ou superior a 35 com comorbidades, ou acima de 40. Segundo Cavalcanti, 80% dos operados não retomam o peso. Além de emagrecer, a cirurgia melhora o quadro de diabetes (porque estimula o pâncreas a liberar insulina) e até a depressão na maior parte dos pacientes. “A sensação de estar em forma, traz felicidade e eles ficam mais confiantes e com autoestima elevada”, constata Iana.

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