Porco não é tão feio quanto se pinta – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Porco não é tão feio quanto se pinta

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Desde os tempos bíblicos, a carne de porco tem sido amaldiçoada pelas escrituras de várias religiões. Judeus e muçulmanos são proibidos de tê-la no cardápio e até a nossa sabedoria popular costuma identificá-la como um alimento “remoso” para a saúde. Mas, recentemente, surgiram várias notícias exaltando as qualidades dessa proteína como benéficas para a saúde. Afinal de contas, carne suína faz bem ou mal ao organismo?

“Ela é uma das opções consideradas de proteína animal mais versáteis e saudáveis, sendo uma grande aliada na construção dos tecidos, músculos e estrutura corporal. Possui também uma boa variedade de vitaminas”, desmistifica a nutricionista Débora Wagner. “É uma excelente fonte de ferro, com baixíssimo teor de sódio, menor inclusive do que o da carne vermelha e o de frango, o que faz com que eu possa indicar aos pacientes que têm restrição no consumo desse mineral, como os hipertensos, pessoas com doença cardiovascular ou renal crônica”.

Débora ressalta ainda que a carne suína tem a maior quantidade de potássio por 100 gramas, ou seja, é muito importante também na construção muscular e na saúde do coração. “Ela tem o perfil muito adequado para os doentes cardiovasculares, o que é interessante e controverso no pensamento de que carne de porco não deve ser consumida por quem tem problemas com colesterol”, esclareceu a especialista.
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Débora afirma que embutidos, presunto de Parma e bacon podem ser consumidos desde que sejam artesanais e ingeridos em pouca quantidade.

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Esse pensamento, segundo Lígia Barros, professora de nutrição da FPS (Faculdade Pernambucana de Saúde) existe no Brasil desde tempos remotos e está muito relacionado à religiosidade. “Há uma parte da bíblia que menciona a carne de porco. Os judeus não consomem esse tipo de proteína, então acabamos absorvendo muitas dessas práticas ao longo de nossa formação”, relaciona. Existe também outro fator cultural. No passado, os porcos eram criados em pocilgas, ambientes sujos e de condições precárias, (isso propiciava a contaminação por Taenia solium, verme conhecido como solitária). Ainda hoje permanece essa noção de que eles vivem dessa forma. “Mas atualmente, os porcos são criados em cativeiro, com alimentação adequada (uma ração específica para os animais), por isso, não oferecem nenhum tipo de risco a quem come”, esclarece.
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Lígia analisa que muitos condenam a proteína por achar que os animais ainda são criados em pocilgas. Mas hoje eles vivem em cativeiros limpos e comem ração.

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Mas é preciso evitar os exageros. As recomendações do seu consumo são as mesmas para outras carnes. “É preferível que se consuma os cortes mais magros”, indicou Lígia. “Mesmo o frango, considerado um alimento pouco calórico, possui algumas partes, como a coxa, que são um pouco mais gordurosas”, comparou. Os cortes mais indicados são, justamente, aqueles em que, facilmente, se consegue eliminar as partes mais gordurosas. “A gordura não sendo entremeada com as fibras musculares do porco temos condição de tirá-la e fazer com que esse preparo tenha sabor e ao mesmo tempo seja indicado para a maioria das pessoas, principalmente o lombo, o pernil e a bisteca”, recomendou Débora.

Porém, os embutidos e produtos de base suína que sejam processados ou acrescidos de substâncias de conservação, de cura e que sejam artificialmente produzidos não são indicados pela nutricionista. Tanto o bacon (barriga) ou o presunto de Parma (perna traseira) podem ser verdadeiros vilões se forem produzidos de forma artificial, utilizando substâncias tóxicas ao organismo, como nitrito e nitrato. “O Parma produzido de acordo com as tradições de origem, de forma artesanal, sem a adição desses agentes, não seria algo a ser evitado”, defendeu. Mas ela ressalvou que devem ser consumidos em quantidades moderadas.

Recentemente, retomou-se uma antiga discussão sobre o uso da banha de porco como gordura para cozinhar os alimentos. Há quem defenda que seja mais saudável do que óleos vegetais ou manteiga. Lígia, porém, é comedida sobre o assunto. “Ela possui muita gordura saturada como todas as carnes, por isso, tem o seu potencial positivo, mas, para fritar alimentos, não é indicada, porque toda fritura é prejudicial”, alerta a nutricionista. O ideal é utilizá-la para refogar, porque não submete a banha a um aquecimento tão alto por um tempo tão longo.

Lígia é adepta de uma visão na nutrição que defende que a restrição alimentar causa mais prejuízo do que a liberação de certos alimentos na dieta, uma discussão que vem sendo travada na literatura científica. “Procuro sempre levar em consideração as memórias alimentares de quem me procura, vai muito de acordo com aquilo que o paciente traz. Se ele faz uso de carne de porco de maneira que não comprometa a saúde dele, eu não vejo porque restringir”, salientou.

Para quem, por algum motivo, ainda estiver desconfiado dos benefícios da carne suína, a nutricionista Débora Wagner relata sua experiência pessoal com a proteína. “Eu sou adepta do consumo da carne de porco e faço questão dessa ingestão frequente para minha família, muito por ser versátil, que atende a diversos tipos de receita. Eu consigo ter um corte extremamente magro e adequado a todo tipo de gente da minha casa, da minha filha de 2 anos até a minha mãe de 65”.

*Por Yuri Euzébio

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