Prefeituráveis opinam sobre mobilidade urbana

Mais carros nas ruas e menos mobilidade para as pessoas. Essa experiência desgastante nos deslocamentos diários da população colocaram esse tema com um dos mais relevantes no processo eleitoral. Nos últimos anos houve um movimento pela humanização das cidades em todo o mundo. Uma tendência que já impactou as propostas dos candidatos.
A precariedade dos serviços de transporte coletivo, o incentivo aos veículos individuais e a má qualidade da infraestrutura urbana são os principais entraves da mobilidade na opinião do ex-prefeito João Paulo. Ele critica o sistema de integração do Recife, que segundo o candidato aumentou o tempo das viagens. Ele propõe ainda mais cuidados com as calçadas e ciclovias. “É preciso levar em consideração os pedestres e os ciclistas, incluindo as calçadas e as ciclovias como equipamentos de mobilidade. É preciso um plano efetivo de recuperação de calçadas nos principais corredores viários da cidade e ampliação da malha de ciclovias do Recife, encarando a bicicleta mais como meio de transporte do que como equipamento de lazer”.
Os investimentos em navegabilidade do Capibaribe foram criticados pelo candidato Carlos Augusto. “Os projetos que previam o uso do rio para transporte de passageiros nunca deram certo porque tentaram enveredar por soluções megalomaníacas. Vamos retomar essa ideia, mas sua implementação será gradativa, usando inicialmente apenas alguns trechos do rio. Achamos que a utilização do Capibaribe, como meio para o transporte de carga seria uma boa saída para desobstruir as ruas e reduzir o uso de caminhões.” Ele afirma que para discutir mobilidade é preciso tratar também de questões como paisagismo, iluminação e segurança.
A priorização dos automóveis na cidade é criticada por Edilson Silva. “É preciso implantar faixas exclusivas para bicicletas e transporte coletivo. Uma mobilidade urbana socialmente justa precisa reservar a maior parte das vias para o transporte de maior capacidade, incentivar meios mais econômicos e sustentáveis, como a bicicleta, e ser acessível e segura para pessoas idosas, crianças e pessoas com deficiência”. Ele cobra também que os órgãos de planejamento urbano elaborem estudos e propostas para o fortalecimento de centralidades urbanas que funcionem em rede, diminuindo a necessidade de longas viagens.
Priscila Krause alerta para a urgência em combater os problemas de mobilidade com planejamento a partir da metrópole, com uma articulação com os demais prefeitos da RMR. Ela também fala em promover a integração efetiva dos modais, evitando o paralelismo entre eles e adotando a integração temporal. A candidata aponta três frentes de atuação: o projeto Trânsito Livre (para desobstrução dos corredores de transporte de massa), o uso de tecnologias a serviço do trânsito e no avanço da mobilidade dos ciclistas.
O prefeito Geraldo Julio fez um balanço das ações na área de mobilidade, citando a implantação de  32 km de Faixas Azuis, a aquisição de 77 equipamentos de fiscalização, que ajudam a controlar a velocidade no trânsito, a construção de cerca de 80 km de calçadas e o ordenamento do comércio informal. Ele comemora também a conclusão da Via Mangue. “Há anos e anos ela vivia apenas no imaginário da população do Recife e hoje é responsável pelo alívio no fluxo da Zona Sul da cidade, recebendo 64 mil veículos por dia”. Outra novidade elencada pelo socialista é a experiência da Zona 30 no Bairro do Recife.
A acessibilidade foi a preocupação destacada pelo candidato Daniel Coelho. “Uma mobilidade inclusiva precisa ser pensada primeiramente no pedestre e também na pessoa com deficiência. Se a calçada não existe ou está degradada, destruída, temos então o primeiro grande problema de mobilidade da cidade. Há uma frase que resume bem: uma cidade boa para o cadeirante é uma cidade boa para todos”, afirmou.

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Confira a íntegra o posicionamento que cada candidato nos enviou por email sobre o tema Mobilidade para todos:

DANIEL COELHO
Mobilidade é sempre um tema muito debatido e, se está sempre em pauta, é porque se trata ainda de um problema grande do Recife. E não se pode falar em mobilidade sem levar em consideração a situação das calçadas na cidade. Uma mobilidade inclusiva precisa ser pensada primeiramente no pedestre e também na pessoa com deficiência, no cadeirante. A primeira coisa que qualquer pessoa faz ao sair de casa, seja para caminhar, seja para pegar o ônibus, é andar pela calçada. E se ela não existe ou está degradada, destruída, como a maioria das calçadas no Recife, temos então o primeiro grande problema de mobilidade da cidade. Há uma frase que resume bem nosso pensamento: “uma cidade boa para o cadeirante é uma cidade boa para todos”. Este é o ponto: se o cadeirante tem qualquer dificuldade de mobilidade na cidade por culpa do poder público, então esta não é a cidade que queremos.

JOÃO PAULO

A mobilidade tem sido um tema presente em minha vida política, especialmente como gestor. Na Prefeitura do Recife, além da retirada dos transportes clandestinos, feitos por vans, e de uma série de outras ações que até hoje beneficiam os recifenses, lembro que, quando exerci mandato de deputado federal, integrei a Comissão de Desenvolvimento Urbano e articulei, no Congresso, a Política Nacional de Mobilidade Urbana, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff. Fui também relator da Comissão Especial de Mobilidade Urbana para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016; e relator da proposta de Emenda à Constituição (PEC), que destina 10% dos recursos arrecadados com a venda de combustíveis para programas de transporte coletivo urbano.
Em minha opinião, os maiores entraves da mobilidade hoje nas grandes cidades brasileiras são a precariedade dos serviços de transporte coletivo, o incentivo ao transporte individual, a má qualidade da infraestrutura urbana e a inexistência de planejamento eficiente voltado para as demandas da população.
Hoje, 61% dos brasileiros utilizam o transporte coletivo e, desse percentual, 42% o tem como principal meio de transporte da casa para o trabalho ou escola. É importantíssimo, portanto, discutir a questão do transporte público de qualidade, pois atualmente o recifense tem muitas queixas. O trânsito e as condições do transporte público ocupam o terceiro lugar entre os principais problemas da cidade e afetam as diferentes regiões. As vias de acesso ao centro são um caso ainda mais complicado.

Os usuários do sistema público de transporte têm relatado, com frequência, a falta de ônibus e de opções de deslocamento, uma vez que o novo sistema de integração nunca foi efetivamente concluído, obrigando todos a utilizarem mais de um ônibus para atravessar de uma zona a outra da cidade. Todos devem se deslocar até um terminal para seguir o seu destino. Apesar de uma só ‘passagem’ permitir circular por toda a cidade, o tempo de deslocamento aumentou pela necessidade de utilizar um terminal como ponto de partida, com uma estrutura insuficiente de corredores e faixas exclusivas. A situação é agravada ainda pela ausência de uma pesquisa atualizada de origem e destino, que ajude a identificar as demandas de deslocamento e oriente o planejamento de linhas, frequências, integrações e, até, de modal ou veículo a ser utilizado, como ônibus convencional, articulado, BRT ou outro que venha a ser definido.
Em síntese, o projeto de remodelação do transporte público precisa ser reavaliado e melhor projetado para que represente um benefício real para o usuário. Por ora, oferece mais transtorno que bem estar.
O projeto de mobilidade urbana da cidade precisa ainda levar em consideração os pedestres e os ciclistas, incluindo as calçadas e as ciclovias como equipamentos de mobilidade. Atualmente, cerca de 30% da população do Recife se desloca a pé ou de bicicleta e essa realidade precisa também ser contemplada, com um plano efetivo de recuperação de calçadas nos principais corredores viários da cidade e ampliação da malha de ciclovias do Recife, encarando a bicicleta mais como meio de transporte do que como equipamento de lazer. Hoje, o Recife conta apenas com 38 km de ciclovias, sendo uma das capitais com menor extensão de vias destinadas aos ciclistas. Entre as capitais do Nordeste, estamos atrás de Fortaleza, João Pessoa e Aracaju.

A questão da Mobilidade Urbana tem peso significativo na qualidade de vida das pessoas e sua importância cresce à medida que aumentam as dificuldades para os deslocamentos dos indivíduos dentro da cidade. Até os dias atuais, o município do Recife ainda não entregou o plano de mobilidade exigido de acordo com a Lei de Mobilidade Urbana 12.587/12, que estabelecia como limite o dia 30 de abril de 2015. É preciso um projeto que contemple a necessidade das pessoas, garantindo o direito de ir e vir com qualidade e segurança.
O primeiro passo para resolver esse problema é um debate com ampla aderência entre o público e a sociedade civil. É um ponto de partida tanto para a questão dos táxis e Uber, quanto para carros, bicicletas e outras formas de mobilidade urbana.

GERALDO JULIO

Uma das primeiras coisas que fizemos quando assumimos a Prefeitura do Recife foi dar ao tema da mobilidade a importância que esse merecia com a criação de uma Secretaria na estrutura administrativa voltada exclusivamente para o tema, que tem uma relevância fundamental para o dia a dia e qualidade de vida da população, e estava subdimensionado dentro da gestão. Era preciso uma inversão de prioridades dentro das vias do Recife para que o transporte público, os pedestres e os usuários dos modais alternativos fossem os principais alvos das políticas públicas de mobilidade. Ficou claro que obras estruturantes, sem uma efetiva política que priorizassem esses eixos, não davam conta de reverter a curva dos problemas de mobilidade do Recife.

Dessa forma, implantamos mais de 32 km de Faixas Azuis – corredores prioritários para os ônibus – nas avenidas do Recife, mais do que dobrando o espaço para transporte público nas nossas vias e beneficiando diretamente 635 mil usuários por dia. Setenta e sete equipamentos de fiscalização ajudaram a controlar a velocidade no trânsito no Recife e são diretamente responsáveis pela redução de 25% nos acidentes com vítimas fatais na cidade. O ordenamento do comércio informal liberando espaço nas calçadas do Recife, com a construção de cerca de 80 km de calçadas por parte da Prefeitura ajudaram na circulação de pedestres.

Isso aliado à conclusão da maior obra viária das últimas décadas, a Via Mangue, que há anos e anos vivia apenas no imaginário da população do Recife e hoje é responsável pelo alívio no fluxo da Zona Sul da cidade, recebendo 64 mil veículos por dia. Mais importante do que isso, a Via Mangue permitiu a plena execução de Faixas Azuis nas avenidas Conselheiro Aguiar e Domingos Ferreira e facilita a circulação nas faixas exclusivas da Mascarenhas de Morais e Avenida Recife.
Nesses últimos anos, o recifense também tem experimentado uma novidade, a Zona 30 no Bairro do Recife. A medida permite o convívio mais harmonioso entre pedestres, ciclistas e motoristas.

CARLOS AUGUSTO COSTA

Além dos deslocamentos obrigatórios, do tipo ir ao trabalho, à escola ou à faculdade, as pessoas em geral sentem prazer em circular, passear, fazerem visitas. Isto é saudável para o corpo e para a mente. Entretanto, sair de casa hoje em dia tornou-se um pesadelo e pensamos duas vezes antes de sair da garagem ou por os pés na rua. Também não é fácil o uso da bicicleta. Mobilidade para nós do PV tem um significado muito abrangente, que vai desde a melhoria das condições do trânsito, transporte público de qualidade e melhoria do sistema viário, até questões de paisagismo, iluminação das ruas e segurança pública, principalmente desta última.
Os projetos que previam o uso do rio para transporte de passageiros nunca deram certo porque tentaram enveredar por soluções megalomaníacas, sem análise de viabilidade econômica. O PV vai retomar esta ideia, mas sua implementação será gradativa, por meio de embarcações, estações e pontilhões de pedestres, usando inicialmente apenas alguns trechos do rio. Achamos que a utilização do rio, como meio para o transporte de carga seria uma boa saída para desobstruir as ruas e reduzir o uso de caminhões.

EDILSON SILVA

Uma pesquisa recente indicou que o Recife tem o 8º pior trânsito do mundo, reflexo de uma política de mobilidade que privilegia o automóvel individual em detrimento de outros meios mais econômicos em termos de espaço e recursos. É por isso que, primeiramente, é preciso implantar faixas exclusivas para bicicletas e transporte coletivo. Uma mobilidade urbana socialmente justa precisa reservar a maior parte das vias para o transporte de maior capacidade, incentivar meios de transporte mais econômicos e sustentáveis, como a bicicleta, e ser acessível e segura para pessoas idosas, crianças e pessoas com deficiência.

Por outro lado, a mobilidade também é afetada pela distribuição dos usos na cidade. Onde as pessoas moram, onde trabalham, onde compram e onde se divertem tem impacto direto sobre como e quanto se locomovem. Os órgãos de planejamento urbano devem elaborar estudos e propostas para o fortalecimento de centralidades urbanas que funcionem em rede, diminuindo a necessidade de longas viagens.

PRISCILA KRAUSE

Na Região Metropolitana do Recife, os números do Sistema de Transporte Público de Passageiros demonstram a escala do desafio de ordenar e ofertar a mobilidade adequada. São transportados 2,2 milhões de passageiros/dia em 26 mil viagens por 3 mil ônibus e duas linhas de metrô. A cidade do Recife, como muitas outras no Brasil, já atingiu elevada condição de desequilíbrio na distribuição territorial das suas atividades, fato que torna mais desafiadora a função mobilidade. Essas questões serão enfrentadas a partir do planejamento da metrópole, que devo buscar com os demais prefeitos da Região Metropolitana do Recife, para gerar uma metrópole policêntrica, onde as relações entre casa-trabalho/casa-escola/casa-lazer guardem distância mais apropriada, permitindo deslocamentos menores e menos tempo de viagem. Promover a integração efetiva dos modais, evitando o paralelismo entre eles e adotando a integração temporal.

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