OBSERVATÓRIO DO FUTURO

OBSERVATÓRIO DO FUTURO

Bruno Queiroz Ferreira

Propostas eleitoreiras para combater desemprego é busca do futuro no passado

As propostas dos principais candidatos à Presidência na eleição de 2022 para combater o desemprego são apenas retórica eleitoreira para iludir o trabalhador. Desconsiderando fatores como a inteligência artificial no mercado de trabalho, representantes da esquerda, do centro e da direita focam apenas em medidas econômicas e jurídicas, que são insuficientes e não produzem mais os mesmos resultados práticos do passado.

Se nas décadas de 1970 e 2000 promover o crescimento econômico foi suficiente para gerar novos empregos, mudanças no mercado de trabalho atual indicam que apenas esse tipo de medida não surtirá o efeito esperado. O processo de digitalização, a adoção da inteligência artificial e dos robôs nas empresas, por exemplo, proporcionam redução de custo, aumento de produtividade e menor necessidade de mão de obra intensiva.

De forma isolada, o crescimento econômico, portanto, não vai gerar nova vaga de porteiro para o porteiro que foi substituído pela tecnologia. O mesmo vale para o torneiro mecânico que perdeu o trabalho para o braço robótico. Para a atendente de telemarketing que foi trocada pela assistente digital. Essa lógica se aplica também ao vendedor que perderá seu posto para o comércio eletrônico. E até para o médico radiologista que terá sua função feita pela inteligência artificial embarcada nas máquinas de tomografia.

Também não é revogando a reforma trabalhista de 2016 ou reduzindo direitos básicos para alguns tipos de trabalhador, como propõem alguns candidatos, que se vai garantir empregabilidade ou promover criação de novas vagas. Medidas corporativistas para profissões é outra estratégia que não funciona. Isso atrasa o avanço tecnológico e coloca o Brasil em posição crítica na qualidade e nos preços dos produtos no competitivo comércio internacional.

O problema do desemprego é mais complexo do que os candidatos estão conseguindo enxergar. Em seu centro está o descompasso entre a formação técnica e a demanda atual do mercado de trabalho. Enquanto o sistema educacional forma trabalhadores para profissões que deixarão de existir, as empresas possuem vagas abertas para trabalhadores com novas habilidades que não existem. Já se pode notar essa defasagem atualmente em vários setores da economia, incluindo o Porto Digital, aqui no Recife.

Reinserir no mercado de trabalho o porteiro, o torneiro, a atendente, o vendedor e o médico — e profissionais de outras atividades que a tecnologia pode fazer melhor, mais rápido e mais barato — exige treinamento em novas competências para as demandas do futuro. Não apenas as competências técnicas para encarar problemas mais complexos, mas também as emocionais para lidar com o desenvolvimento humano, já que os softwares e as máquinas poderão fazer o trabalho pesado por nós.

A “economia do cuidado”, por exemplo, que dará conta do envelhecimento da população brasileira nas duas próximas décadas, será um dos pilares do mercado de trabalho que se projeta no horizonte. Isso vai exigir mais profissionais treinados e especializados em pessoas, tais como cuidadores, enfermeiros, educadores físicos, fisioterapeutas. A “economia verde” é outra área que vai exigir dos trabalhadores do futuro o aprendizado de novas competências.

Mas não basta apenas treinamento. É preciso pensar também em políticas públicas de proteção social, pois nem todos os trabalhadores conseguiram fazer a transição para o futuro. Programas de auxílio temporários — e até mesmo permanentes — serão necessários. Contudo, não se deve confundir a profissão com o trabalhador. As profissões deixarão de existir, como já vimos. Por isso, o foco deve ser na transição das pessoas para outras atividades.

Por todos esses fatores, buscar no passado soluções para o futuro não vai trazer os empregos de volta. Os candidatos precisam sair do discurso eleitoreiro, que promete o que não será cumprido, e se aprofundar nas soluções que farão a diferença. Precisam também parar de considerar que o eleitor não entende questões complexas. Trazê-los para o debate, com apoio dos empresários e governo, é a única forma de fazer a transição sem grandes percalços para o futuro.

(Foto: Matheus Britto/Prefeitura Municipal do Jaboatão dos Guararapes)

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