Quem são os candidatos à vice-prefeito da cidade do Recife? – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Quem são os candidatos à vice-prefeito da cidade do Recife?

Victor Marques, Mariana Melo, Leninha Dias, Alice Gabino e Kelly Souza falaram de suas trajetórias, perspectivas de atuação e planos para a capital pernambucana.

Os vices podem ter sido por longos anos figuras mais decorativas, que não tinham muita visibilidade ou atuação na gestão. Ao observar os acontecimentos políticos do Brasil e mesmo do exterior, essa é uma realidade que mudou. No Governo Federal, por exemplo, Geraldo Alckmin tem um trabalho de liderança no campo da indústria. Nos Estados Unidos, Kamala Harris assumiu a cabeça de chapa do Partido Democrata às vésperas da eleição. Impeachment, falecimentos e renúncias para concorrer a outros cargos tem levado à liderança dos governos, prefeituras e até da presidência vários parceiros de chapa. Diante desse protagonismo, cada vez mais frequente, apresentamos e ouvimos os candidatos a vice-prefeito do Recife.

Victor Marques (vice de João Campos), Mariana Melo (vice de Daniel Coelho), Leninha Dias (vice de Gilson Machado), Alice Gabino (vice de Dani Portela) e Kelly Souza (vice de Técio Teles) falaram de suas trajetórias políticas e das perspectivas de atuação no poder municipal. Os candidatos foram questionados também sobre as prioridades do Recife no curto prazo, que poderiam ser atendidas no ciclo de uma gestão, bem como suas visões para o que deve estar no horizonte de longo prazo da cidade.

TRAJETÓRIAS

Integrante da chapa que lidera todas as pesquisas de intenções de voto, Victor Marques, filiado ao PCdoB, estudou engenharia civil ao lado do prefeito João Campos na Universidade Federal de Pernambuco. Ele morou na infância em São José do Belmonte, vindo para a capital aos 14 anos para estudar. Seu pai era agricultor, tendo chegado à vereança da cidade, e sua mãe, professora. Com pouco tempo de formado, ele acompanhou o socialista em todos os postos do poder público.

Ele foi assessor de gabinete no Governo Paulo Câmara, atuou como chefe de gabinete no período em que João Campos foi deputado federal e nos últimos quatro anos foi chefe de gabinete da Prefeitura do Recife. Nessa última função, Victor tinha a missão de articular a comunicação entre o prefeito e os diversos setores da administração pública. “Eu busquei sempre ser um facilitador das demandas, garantindo que as necessidades da população fossem priorizadas e que a gestão se mantivesse próxima de quem realmente importa: o povo.” Mesmo pouco conhecido da população, ele é bem conhecido na máquina pública, bem como conhece a operacionalização da gestão.

A chapa do PL tem Leninha Dias como vice do ex-ministro do turismo Gilson Machado. Ela se preparava para uma disputa à Câmara dos Vereadores pelo partido, quando foi convidada para concorrer ao cargo executivo. Antes de ser candidata, ela, que é viúva, teve uma trajetória marcada por sua conexão com a política por meio do seu marido, Cleurinaldo de Lima, ex-vereador no Recife. Ela começou a se envolver na política ajudando-o em suas atividades, especialmente durante pleitos eleitorais.

Além dessa parceria política na família, Leninha também teve uma atuação na comunicação. Evangélica, foi diretora comercial da Rádio Maranata e chegou a ser apresentadora na Rádio Canaã. Sua experiência enquanto mãe de uma filha com espectro autista foi a motivação que a levou para o projeto de se candidatar à vereança com a intenção de atuar em prol das crianças neurodivergentes e de seus familiares. Nascida em uma família carente, ela começou a trabalhar aos 10 anos de idade.

O terceiro nome é da professora Mariana Melo. Formada em administração, antes de se tornar vice na chapa de Daniel Coelho, ela é docente concursada no IFPE (Instituto Federal de Pernambuco) e anteriormente trabalhou por 10 anos em uma multinacional holandesa, onde desenvolveu habilidades em logística e gestão de processos. Ela foi secretária executiva de relações internacionais do Governo Raquel Lyra, sendo posteriormente nomeada como secretária da Mulher.

“Minha experiência na Secretaria da Mulher foi um marco na minha trajetória profissional e pessoal. Assumir essa pasta, que historicamente enfrenta desafios orçamentários, proporcionou-me a oportunidade de aplicar meu conhecimento em administração e gestão pública de forma a impactar positivamente a vida das mulheres em nosso Estado”, afirmou Mariana. Antes de sua trajetória profissional, filha de uma família da periferia do Recife com dificuldades financeiras, ela precisou se mudar pelo menos 16 vezes até os 16 anos de idade. Sua vivência nas dificuldades enfrentadas como usuária do transporte público e do sistema público de saúde, além da vulnerabilidade na habitação, contribuíram para a construção do plano de governo desenhado pela chapa.

Compondo a única chapa majoritária formada exclusivamente por mulheres, Alice Gabino (Rede Sustentabilidade) divide o palanque com Dani Portela em 2024. Ela já havia sido também vice na Federação PSOL-Rede em 2022, na chapa encabeçada por João Arnaldo, e disputou o pleito de 2018 para a Câmara Federal. Além de sua experiência em candidaturas, Alice também ocupou posições de liderança, sendo a primeira presidente municipal do Partido da Rede no Recife e presidente estadual, além de dirigente da Executiva Nacional, contribuindo para a expansão do partido em nível nacional.

Sua formação é na área jurídica, e ela tem uma atuação em causas sociais, incluindo movimentos pesqueiros, indígenas e agrícolas, além de participação em iniciativas voltadas para questões socioambientais. “Já fui também conselheira municipal de juventude, com atuação em movimentos sociais, sou cofundadora também do movimento Amazônia na Rua – Recife. Sempre militei em causas sociais, sempre estou me movimentando no cenário social e socioambiental. Não cheguei ontem”.

A trajetória de Kelly Souza antes de se tornar vice na chapa de Técio Teles no Partido Novo foi marcada por sua formação e experiência no mundo empresarial. Kelly é administradora de empresas, com mais de 20 anos de atuação no comércio, principalmente no setor de material de construção civil e locação de máquinas e equipamentos. Em 2022, assumiu a presidência do Sindileq (Sindicato de Locação de Máquinas e Equipamentos do Estado) e, atualmente, é diretora da Mulher na Associação Nacio￾nal das Entidades de Locação de Máquinas e Equipamentos.

Kelly entrou na política em 2020, quando ingressou no partido e, em 2023, foi escolhida como embaixadora do movimento Mulheres pelo Novo, conquistando um espaço significativo dentro da legenda. “Comecei como candidata a deputada e a vereadora. Fui galgando esse projeto político até ser nomeada Embaixadora do Mulheres pelo Novo. Consegui esse espaço dentro do partido e tive o convite, o privilégio, de poder compor a chapa majoritária”.

O VICE QUE EU QUERO SER

Nenhum dos candidatos tem um discurso de um vice-prefeito apenas simbólico. Os cinco postulantes à vice-prefeitura do Recife nas eleições de 2024 compartilham suas visões sobre o papel que pretendem desempenhar caso sejam eleitos. Cada um deles destaca algumas prioridades alinhadas com os projetos e compromissos de suas respectivas chapas.

Leninha Dias, do PL, acredita que sua conexão com as questões sociais ligadas à minorias e às mulheres podem agregar muito à gestão da cidade. Seu foco está em atuar de forma prática nas demandas da população, com ênfase nas áreas de saúde e educação. “O que eu pretendo é estar atenta às necessidades das pessoas, principalmente nas questões mais urgentes, como saúde e educação, que são pilares fundamentais para o desenvolvimento da cidade”, planeja Leninha. Ela afirma que o partido aceitou suas bandeiras em defesa das famílias neurodivergentes e o seu desejo de não ser uma vice “decorativa”, mas com atuação de fato no cargo.

Com uma perspectiva de atuar em todas as pautas estratégicas da prefeitura, Victor Marques, afirmou que tem um grande interesse pelas pautas de infraestrutura e o desenvolvimento territorial, utilizando sua formação como engenheiro civil e o conhecimento que adquiriu na PCR enquanto chefe de gabinete. Ele se compromete a atuar de maneira próxima ao território, ouvindo as demandas locais para encontrar soluções mais viáveis. “Eu sou apaixonado pelo território e por infraestrutura, e tenho certeza que podemos transformar realidades locais com ações menores ou maiores, mas sempre com impacto positivo”, declarou Victor, que preten￾de continuar acompanhando projetos que transformem a qualidade de vida da população.

Kelly Souza, do Novo, coloca a inovação e o desenvolvimento econômico no centro de sua atuação. Com sua experiência no setor de construção civil e locação de máquinas, Kelly pretende incentivar políticas que fomentem o empreendedorismo e a modernização do Recife. “A cidade precisa de uma vice que saiba atuar com foco em resultados e inovação, especialmente na área de infraestrutura e apoio ao pequeno empreendedor,” destacou a candidata, ressaltando que seu objetivo é tornar o Recife um polo de negócios e tecnologia.

Mariana Melo, do PSD, acredita que o cargo de vice-prefeita deve ser uma extensão ativa e colaborativa da gestão municipal e com uma atuação transversal dentro da estrutura da PCR. Em sua visão, “ser vice é muito mais do que uma função protocolar; é uma oportunidade de contribuir de forma significativa em diversas áreas, trazendo experiências e competências adquiridas ao longo da carreira.” Para ela, a atuação deve ser voltada para a melhoria de processos e a implementação de soluções inovadoras que atendam às necessidades da população, especialmente em setores como educação e saúde. Mariana destaca que sua trajetória profissional a prepara para enfrentar esses desafios, garantindo que a voz dos cidadãos seja sempre ouvida e considerada nas decisões administrativas.

Alice Albino, da Rede Sustentabilidade, acredita que o cargo de vice deve ser um papel de proatividade e colaboração dentro da gestão municipal. Em sua visão, “é fundamental que o vice esteja presente e atuante, não apenas como um apoio ao titular, mas como um agente de transformação na cidade.” Ela defende uma abordagem que permita ao vice participar ativamente da formulação e execução de políticas públicas, assegurando que as vozes da comunidade sejam ouvidas e consideradas. Para Alice, essa participação é fundamental para construir um Recife mais justo, inclusivo e que atenda às necessidades de todos os seus cidadãos.

PRIORIDADES NO CURTO PRAZO E VISÃO DE LONGO PRAZO

Uma frase quase unânime entre os candidatos é que quase tudo tem uma urgência de curto prazo na cidade para melhorar a qualidade de vida da população. Separar as propostas de curto e longo prazo, inclusive, foi um desafio na conversa com os candidatos.

Com várias obras e projetos em andamento na cidade, Victor Marques elencou de forma exemplificativa três metas de curto prazo: a ampliação das vagas de creches, que dobraram nos últimos quatro anos; a construção de um centro de exames e diagnósticos municipal; e a criação de uma nova Radial Leste na cidade, percorrendo o caminho do Rio Beberibe. Essa obra de mobilidade promete desafogar o fluxo de veículos na Avenida Norte. Ainda no horizonte de um mandato, o candidato destacou os investimentos no Promorar. “Teremos uma energia muito grande dentro do Promorar. Vamos ter muita atuação no entorno do rio e para as encostas. Também já temos um recorde de investimento e vamos continuar investindo em urbanização de áreas que hoje são praticamente desassistidas, dando mais moradia, mais dignidade. O programa vai continuar a ser um dos grandes focos da gestão”, declarou.

Sobre o longo prazo, ele destacou as diretrizes do projeto Recife 500 anos, como ter uma atenção da cidade com os seus espelhos d’água. A atuação com o Parque Capibaribe e nas Bacias do Tejipió e do Beberibe, associado à frente d’água marinha, são algumas antecipações para preparar a cidade para o convívio com o aumento do nível do mar e dos eventos extremos de chuvas.

Mariana Melo destacou o foco da habitação como a maior prioridade de curto prazo para a prefeitura do Recife. Ela afirmou que durante sua vida não morou na rua pela solidariedade de familiares, mas que nunca houve políticas públicas que a protegessem. “É urgente. Temos um número altíssimo de pessoas em situação de rua. Precisamos atendê-las e fazer um trabalho forte para as pessoas que vivem nos morros. Temos 237 morros no Recife que, considerando declividade, altura e grau de ocupação, estão no nível máximo de risco. Imagine quantas pessoas moram nesses pontos da cidade. Esses morros precisam ser priorizados, pois é onde pode morrer gente amanhã”. No plano de governo do PSD há um programa para garantir cinco mil habitações emergenciais até as obras serem concluídas. Ela mencionou ainda o avanço em vagas de creches e de atendimentos à saúde, com suporte de teleconsultas.

No horizonte de longo prazo, Mariana destaca ser preciso incluir as ações de drenagem, que não se resolvem em apenas uma gestão. “O sistema de drenagem da nossa cidade data da década de 1970. Quantos anos se passaram sem haver uma atualização desse sistema? É preciso um conjunto de ações, avaliando os 99 canais da cidade, dos mais de 170 pontos de alagamento, trabalhando com foco na revitalização dos rios Capibaribe, Beberibe, Tejipió, Jiquiá e do riacho do Parnamirim. E tornando algumas regiões permeáveis. ”

Kelly Souza apresenta uma série de propostas focadas em curto e longo prazo para sua gestão de 2025 a 2029. Entre as ações imediatas, destaca a capacitação e armamento dos guardas municipais como medidas fundamentais para reforçar a segurança pública, além da promoção de parcerias entre os setores público e privado para otimizar a saúde, como a redução das filas de exames. “Precisamos ajudar a população. A união entre o público e privado é essencial para alcançar avanços necessários para atender os recifenses de forma mais rápida”. Ela defende também a redução de carga tributária para estimular as atividades da iniciativa privada.

Já para o longo prazo, a candidata enfatiza a importância do saneamento básico, reconhecendo que a melhoria nesta área é fundamental para a qualidade de vida da população e a saúde pública. Ela propõe um planejamento voltado para a reestruturação da cidade, incluindo a conclusão de obras inacabadas e a revitalização do comércio, buscando atrair mais pessoas para viver e trabalhar no Centro do Recife. “Revitalizar o Centro da cidade não é apenas uma questão de estética, é fundamental para reaquecer a economia local e criar um espaço onde as pessoas queiram viver e trabalhar.”

Alice Gabino enfatiza a urgência em resolver problemas estruturais do Recife, destacando habitação, saúde, emprego e segurança como prioridades. Ela menciona que a cidade enfrenta um déficit habitacional de 71 mil moradias e propõe a reforma de 50 mil unidades habitacionais em imóveis abandonados, garantindo que essas ações sejam feitas com um foco em justiça social e inclusão. Alice também pretende criar 80 unidades de saúde da família para atender as áreas desassistidas, ressaltando a importância de oferecer serviços de saúde acessíveis para a população.

Para o longo prazo, Alice Gabino defende um Recife mais igualitário e menos desigual, com ênfase na geração de empregos permanentes e sustentáveis. Ela destaca a importância de não apenas construir infraestrutura, mas de garantir que as oportunidades de trabalho sejam acessíveis a todos. Alice propõe atrair mais investimentos e indústrias, além de revitalizar o Centro da cidade. “É preciso fazer com que as pessoas que movem o dia a dia da cidade tenham oportunidade de emprego, de renda, e que esses postos de trabalho sejam permanentes, não informais. Nossa gestão precisa atacar esses problemas emergenciais, sempre com uma visão de longo prazo para que esses avanços sejam sustentáveis.

Leninha Dias enfatiza a urgência em priorizar a saúde e a geração de empregos no Recife. Ela destaca ser inadmissível que mulheres morram por cânceres curáveis e que crianças autistas enfrentem longas esperas para tratamento. Entre as ações práticas para atacar esse problema, defende o avanço do uso da telemedicina no sistema de saúde pública. Para combater o desemprego, outro problema apontado como urgente pela candidata, ela destacou a necessidade de fomentar de volta o dinamismo do Centro da cidade. Ainda no curto prazo, o armamento da guarda municipal é uma bandeira defendida pelo partido.

Em uma visão de longo prazo, a candidata do PL acredita ser necessário haver uma reestruturação do trânsito, especialmente em algumas das principais vias do Recife, como a Avenida Agamenon Magalhães e a Avenida Antônio de Góes e Domingos Ferreira, onde ela sugere a retirada do canteiro central. “O trânsito pode ser encarado como um problema de longo prazo, apesar de a gente precisar dele a curto prazo. Pois, talvez, precise de mais de uma gestão para organizar. Precisamos diminuir a poluição, que está em alta também pelos engarrafamentos”. Numa conjuntura de mais de uma gestão, ela avalia que o enfrentamento da questão das enchentes e dos alagamentos deve ser alcançado com investimentos na macrodrenagem da cidade.

Várias pautas e até algumas propostas entre as candidaturas se aproximam, mas cada candidato(a) a vice-prefeito(a) pontuou também diferenças entre os projetos, alinhados aos perfis das chapas. Mesmo diante de um debate com alguns momentos de tensão e críticas cruzadas, as eleições do Recife se aproximam dos últimos dias com mais propostas do que ataques, como visto especialmente em São Paulo, e com reflexões importantes para a capital pernambucana.

*Rafael Dantas é repórter da Revista Algomais e assina as colunas Pernambuco Antigamente e Gente & Negócios (rafael@algomais.com | rafaeldantas.jornalista@gmail.com)

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