Por Joca Souza Leão
O cabra é um bufão contumaz. E desembarcou em Osaka para o G-20 chispando fogo pelas ventas. Brabo todo: “Eles tão pensando o quê?”
“Eles” eram Angela Merkel e Emmanuel Macron. Angela tinha prometido ao parlamento alemão peitá-lo sobre o desmatamento da Amazônia e a falta de respeito aos direitos humanos no Brasil. E Emmanuel, ameaçado não assinar acordo algum com o Brasil, caso o bufão confirmasse que iria deixar o Acordo de Paris.
Ah! Ele também disse aos jornalistas (brasileiros, claro) que Putin e Xi Jinping não perdiam por esperar. “Vou propor sanções aos países que apoiam Maduro na Venezuela.”
Mas, cara a cara com os quatro, o cabra afinou. Baixou a crista. Disse a Angela que era tudo mentira (do ministro dele, inclusive), que não pretendia pagar indenizações a proprietários de terra com dinheiro doado pela Alemanha e Noruega para preservação da Amazônia e que “o Brasil é alvo de uma psicose ambientalista”. (Aos jornalistas, no aeroporto, havia dito que a Alemanha não tinha moral para cobrar nada do Brasil porque desmatou suas florestas e usa combustível fóssil como fonte de energia. “Eles é que têm o que aprender conosco”).
A Macron, garantiu que o Brasil iria permanecer no Acordo de Paris. Só faltou dizer que era ambientalista desde novinho. (Apesar de ter anunciado a saída do Acordo reiteradas vezes – inclusive na campanha eleitoral – e ter debochado, à la Trump, do aquecimento global.)
No encontro dos BRICS, finalmente, topou com Putin cara a cara. “É agora” – pensaram os crédulos jornalistas brasileiros que tinham ouvido suas bravatas. “Vai chamar Putin pro pau.” Mas, qual o quê? Aí foi que o cabra afinou mesmo. “Eu estava na presença do nosso (sic) presidente da Rússia, está certo? E vi que não era o momento de ser agressivo nessa questão (da Venezuela).”
“Bem – imaginaram os jornalistas –, vai sobrar pra Xi Jinping.” Mas, que nada! Saiu do BRICS de fininho, rabo entre as pernas e desculpa esfarrapada: “Tudo tem hierarquia (se referindo à China como potência econômica e nuclear), não vejo chineses na Venezuela (...), vejo cubanos.” Sobrou pra Cuba. Isso porque o presidente Díaz-Canel e Raul Castro não estavam por lá. Se estivessem, teriam sido saudados pelo bravateiro com baforadas de um Montecristo.
E o Mercosul, hein? No chamado Grupo de Lima, formado para derrubar Maduro na Venezuela, o bravateiro tinha anunciado o fim do Mercosul e a criação de uma nova entidade (“sem comunistas”). Agora, com o acordo celebrado com a União Europeia, costurado por mais de 20 anos (que ele, rompendo com o Acordo de Paris, teria mandado pras cucuias), dá vivas ao Mercosul.
Como dizia Millôr:
Quando tudo é ridículo, nada pode ser ridicularizado.
P.S. O imperador romano Calígula (41 d.C.) nomeou seu cavalo Incitatus cônsul. Não se sabe ao certo se Bolsonaro tem cavalos. Se tiver, aguardem a indicação do próximo embaixador do Brasil na ONU.