Reflexões do carnaval (por Edgard Leonardo Lima)

(Escrito em uma terça-feira de carnaval, dia 13/02/2024)

Hannah Arendt, uma filósofa política e teórica social alemã-judaica escreveu no início dos anos 60 o livro: “Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal”, uma obra acerca do julgamento de Adolf Eichmann, um dos arquitetos do Holocausto.

Todavia, minha reflexão e lembrança da obra ocorreu, inusitadamente, após, assistindo a transmissão do carnaval pela televisão, deparar-me com a propaganda de um banco estatal, alertando para que o folião não use o celular nos blocos de carnaval e anunciando que tem um site onde ensina a não cair em golpes.

Fiquei pensando, desde quando o folião está errado em usar seu celular em um bloco de carnaval?

Na TV, uma jornalista alertou (corretamente) sobre o calor que fazia em Olinda e indicou ir para a folia, mas não sem antes vestir uma roupa confortável, levar água e trazer uma “doleira”, para esconder seus pertences, enquanto aproveita a folia de Momo.

Independente de onde você passa o carnaval; seja no Rio de Janeiro, em São Paulo, Salvador ou em meu amado Pernambuco (Onde, preciso comentar, temos inúmeras opções maravilhosas para festejar. Começando com o Galo da Madrugada, depois subindo e descendo as famosas ladeiras de Olinda, ou nos Blocos do Recife Antigo, sem contar o interior do estado). Seja qual for sua escolha, certamente já escutou alguém dizer: “tira esse relógio”, “deixa a aliança”, ou ainda, “esconde o celular”, eu mesmo já disse inúmeras vezes para minha filha, coisas bem parecidas.

E antes que comecem a me xingar, vou logo lembrando que não estou aqui criticando o carnaval, ou mesmo dizendo que indico que não sejam tomadas as devidas precauções. Não é essa a questão, acho o carnaval lindo, minha reflexão é outra.

Minha reflexão foi: quando passamos a acreditar que é errado tirar uma selfie com os amigos? Quando começamos a culpar o turista que foi assaltado por tirar uma foto de um ponto turístico em uma “área” considerada perigosa? Quando passamos a banalizar o mal de tal forma, que comemoramos quando nosso carnaval tem menos “incidentes”, como se aceitássemos que deve ser normal tê-los.

O problema do mal foi muito discutido ao longo da história da filosofia, a partir de várias abordagens possíveis, mas lembrei-me apenas que Hanna Arendt apontava em sua obra que Adolf Eichmann era incapaz de refletir sobre sua atuação e que, havia um mecanismo que normatizava a banalização do mal.

Pergunto-me, até quando, estaremos dentro deste mecanismo, banalizando o mal a ponto de aceitar como normal, que o errado é que alguém deseje registrar em uma foto a alegria do carnaval.

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