Retomada econômica: mas cadê o emprego?

Os indicadores econômicos apontam que a economia brasileira e pernambucana estão em recuperação e com estimativas positivas para 2018. O assunto foi tema da matéria de capa da edição passada da Algomais. Mas enquanto os números oficiais e a análise dos especialistas ressaltam a retomada do País, dezenas de internautas contestaram essa interpretação de virada econômica, mesmo que lenta. Nas redes sociais, recebemos diversos comentários de pernambucanos que afirmaram não sentir nenhuma melhoria na economia em 2017. Para desvendar esse cenário e compreender a diferença entre os números oficiais e o sentimento da população, ouvimos alguns desses críticos e analistas econômicos de diferentes vertentes.

Fotógrafo e assistente social, Daniel Lopes, 30 anos, é um dos leitores que contestou nas redes sociais a visão otimista da economia brasileira para 2018. “O que dá a sensação de melhoria ao País é a volta do emprego. De maneira efetiva, ainda não visualizo nenhuma mudança na economia do Brasil, sobretudo em Pernambuco”. Ele afirmou só acreditar na retomada quando retornarem os grandes investimentos na indústria.

Outro dos dezenas de internautas que comentaram as análises para o próximo ano foi Bruno Mendes, 29, que está desempregado. “Não percebo melhorias na economia. Tudo está muito caro e existe ainda uma alta taxa de desemprego em nosso Estado. Não há saída leve da recessão com a quantidade tamanha de trabalhadores sem emprego. É preciso fazer o dinheiro circular para a economia melhorar, oferecendo mais oportunidades aos cidadãos”. Ele ressaltou ainda a preocupante onda de violência no Estado como um reflexo da crise.

Para o economista da Fiepe Thobias Silva há dois fatores que impedem a população de perceber a recuperação. O primeiro é o fato das pessoas terem como parâmetro de comparação o período antes da crise. “Durante 12 anos vivemos um crescimento econômico vigoroso, que mudava o padrão de consumo das famílias, que passaram a comprar imóveis, carro, viagens. Esse momento era muito diferente do crescimento atual, que circula entre 0,3% e 0,9%, uma variação ainda baixa sobre uma base muito ruim”, afirma.

O outro fator destacado por Thobias é que a queda do desemprego ainda é tímida e as vagas surgidas são as de postos de trabalho com baixos salários. “O emprego é a última variável a se recuperar no processo de retomada. Além disso, vivemos um avanço das tecnologias, com maior eficiência das máquinas e sistemas, que reduz a necessidade de funcionários quando se compara à demanda que as empresas tinham antes da crise. Isso aponta um cenário econômico de desemprego estrutural alto, com muita tecnologia e ganho de eficiência nos processos produtivos, como hoje acontece com a Europa”, estima o economista da Fiepe. Ele avalia, no entanto, que a reforma trabalhista poderá ter uma influência positiva na recuperação do número de vagas no País.

Na análise do economista Tiago Monteiro, do Cedepe Business School, a atual retomada ainda é um fator subjetivo. “Estamos falando da tração na confiança da economia, que é um elemento muito intangível”. Ele lembra que nos últimos dois anos a expectativa era negativa, o que fazia a população segurar o consumo, mas em 2017 é diferente. “Percebemos como a equipe econômica do governo começou a agir por meio das reformas com o objetivo de enviar uma mensagem de que a casa está sendo arrumada, de que estamos entramos nos trilhos, para, assim, atrair mais investimentos, pois o risco de investir por aqui começa a diminuir”. No entanto, ele considera que o varejo já deu os primeiros sinais de melhora no ano passado.

Para retomar aos patamares pré-crise, o economista do Cepede considera que ainda vai demorar cerca de cinco ou seis anos. “Com a ratificação da expectativa positiva, aumentam os volumes de investimentos internos e externos. Com isso, há mais interesse em produzir e em contratar mão de obra. É uma mudança mais focada no longo prazo”. Um fator decisivo para o avanço ou recuo da economia em 2018, segundo o especialista, são as eleições. Ele diz que que o conteúdo populista de determinados tipos de discurso pode deixar o mercado receoso e frear a atração de investimentos.

CONTRAPONTO
Mas há quem pense diferente. O economista e professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo afirma que o cenário recente da economia brasileira não é de recessão, mas de depressão, com danos que ainda estão longe de serem recuperados. “A atual depressão foi determinada por um engano grave da política econômica. Esse ajustamento, na verdade, desajustamento, bloqueou as empresas e provocou um grande dano no emprego e nas famílias. Há uma falsa ideia de recuperação, estamos vivendo no máximo um suspiro, uma pequena flutuação, sobre um nível muito baixo de atividade”, assegura o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

Luiz Gonzaga Belluzzo

Diferente da maioria dos analistas, Belluzzo vê a reforma trabalhista como um fator agravante do atual cenário. “Ela provoca uma precarização do trabalho que vai diminuir a receita da Previdência. Essa foi uma mudança que não foi bem discutida. A Previdência terá que ser estendida para mais gente que não terá emprego ou renda”, afirma.

Ele considera a reforma do sistema previdenciário um ponto essencial da retomada econômica, mas também sob outro aspecto. “No mundo inteiro está se discutindo a composição do financiamento da Previdência diante do envelhecimento da população. Mas é um debate que se agrava com a perspectiva do avanço tecnológico e da robotização das atividades. A proteção social terá também o papel de proteger o cidadão dos azares das mudanças de mercado. É um tema maior que apenas a dimensão da aposentadoria”. Além de considerar o debate sobre esse tema ainda pouco profundo, Belluzzo acredita que diante da proximidade das eleições, a pressão das urnas não deve permitir a votação dessa reforma no parlamento.

*Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com)

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