Muitas pessoas costumam falar que o rio corta a cidade, quando na verdade, ele não corta a cidade. O que ocorre é que, ou cidade abraça ou a cidade sufoca o rio. E isso acontece pelo simples fato de que ele já estava naquele lugar bem antes da cidade. O Recife durante um bom tempo abraçou o rio Capibaribe. Entretanto, com um crescimento acelerado, o Recife passou a sufocar o Capibaribe.
O mestre Ariano Suassuna certa vez escreveu: “O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”. Sem fugir da realidade, uma luz de esperança surgiu na margem esquerda do Capibaribe. Era o extraordinário Projeto Parque Capibaribe, que nasceu com o propósito de reintegrar o rio e a cidade do Recife. No primeiro momento, uma experiência que logo se mostrou exitosa, nascia o Jardim do Baobá, uma pequena área, uma espécie de degustação, com a incrível capacidade de mostrar todo o poder de transformação do projeto.
Há pouco tempo, uma nova etapa do Parque Capibaribe começou a sair do papel, mais uma importante intervenção. Nascia assim o Parque das Graças, que transformou uma das áreas mais degradadas do trecho urbano do rio Capibaribe em um ambiente agradável, com a magia de reestabelecer a integração do rio com aquela parte da cidade. O Parque das Graças descortinou o Capibaribe e criou uma preciosa oportunidade para as pessoas encontrarem o rio. Isso me fez lembrar o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, que cravou em um poema Os rios que eu encontro vão seguindo comigo.
Seguindo as pegadas poéticas de João Cabral, é fundamental engajar as escolas (públicas e privadas) com o projeto Parque Capibaribe, para criar novas oportunidades lúdicas de encontros, que possam semear e cultivar a sustentabilidade no coração dos alunos, mostrando a importância socioambiental de cuidar do rio, para que possamos, desde muito cedo, conectar as crianças com o rio, como afluentes límpidos que avivam o Capibaribe. Como resultado já no curto prazo, teremos de maneira perene e impactante, a garotada educando os adultos.
O Capibaribe é, literalmente, o rio das capivaras. O projeto Parque Capibaribe deve ser também uma excelente oportunidade para que possamos discutir e melhorar a relação entre humanos e capivaras no Recife. Segundo alguns biólogos, preservar a vegetação nativa de margens de rios e cursos de água, deixar as gramas de praças e parques sempre baixas, para que não virem um atrativo para as capivaras, e a construção de muretas em áreas em que elas correm perigo são medidas apropriadas para o manejo na zona urbana. Além da colocação de placas, alertando a população sobre a presença das capivaras e orientando para não incomodar ou se aproximar dos animais.
O projeto Parque Capibaribe precisa cumprir sua missão no Recife e crescer, ganhar musculatura para subir firme e forte da foz até a nascente do Capibaribe na serra do Jacarará, localizada no município de Poção, Agreste Pernambucano. Tudo com a mesma determinação de um peixe que sobe um rio no período da piracema para garantir a reprodução da espécie. O projeto Parque Capibaribe precisa seguir recuperando áreas degradadas e reintegrando o rio com todas as cidades banhadas por ele.
Eu acredito que a essência do projeto Parque Capibaribe é criar oportunidades para que as pessoas encontrem o rio Capibaribe, criando assim um encantamento capaz de gerar uma sagrada simbiose com o poder de formar uma nova geração comprometida com o resgate do Capibaribe e com uma cidade melhor, mais humana e ambientalmente responsável.
Bruno Bezerra É administrador de empresas, atual presidente da CDL Santa Cruz do Capibaribe-PE e coordenador do projeto socioambiental Bichos da Caatinga.
Foto de abertura: Márcio Cabral de Moura