Rumo à poesia de Valda Colares – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Rumo à poesia de Valda Colares

Revista algomais

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*Paulo Caldas

“Rota do Âmbar” – Editora Confraria do Vento – 2018 – livro de estreia de Valda Colares na galeria dos Poetas de Pernambuco, traz no prefácio assinado por Magna Santos, uma espécie de carta náutica que traça com fidelidade a viagem da autora, de velas enfunadas, rumo a poesia. Nessa travessia, ela navega com perícia e durante o curso manobra o leme dos sentimentos. Assim, a cada píer, a cada porto, a bordo, estibordo, bombordo, boreste, oferece mimos de emoções singrados em versos curtidos a suor, vinho e lágrimas, e outros tantos ornados por rimas internas,metáforas bem compostas, símiles criativas.

E já no primeiro ancoradouro, de nome “Não espera”, iça as estrofes: “Seus olhos de fome observam o dia que já vai longe, sol a pino na retina, íris dentro da íris, porque ele reflete nela e só ela sabe que o espera, e ele não sabe nada de sua história, mas sabe bebê-la com os olhos”.

No porto “Flores de Frida Kahlo”, Valda escreve: “Joguei fora os sonhos junto com as flores de Frida e desde então as cores desistiram, amontoavam-se em sépia até a noite era sépia, a sépia como tu não gostas, sépia a comida que passa disputada”.
No píer chamado “Abismo”, onde a palavra não sai, fica presa na garganta, engasgada, estrangulada, a autora clama: “Fecha a cortina, encosta a porta, traz-me a garrafa de água benta de vinho tinto, e o livro com as folhas amassadas, como a saia de cetim que arrancaste de mim, com tua áspera sensualidade”.

Nascida maranhense, Valda Colares homenageia Pernambuco, seu porto abraçado, com a sequência: “Sou Pernambuco sedutor, filha bastarda de uma explosão de amor, o tenho forte em mim, em cada ponte, concreto em mim, em cada rio caudaloso em mim, em cada beco estreito em mim, sombrio em mim, cheios de sombras sem fim”.

Quase ao fim da rota, ao atracar no “Réquiem Aeternam”, decreta: “Também se morre na alma, quando a espada afiada da palavra crava no peito, e decreta a morte de uma intrépida fantasia”. E arremata: “Também se morre no leito,quando a febre da saudade pega de jeito, e sem anunciar se instala atrevida, aquilo que impende do fruto brotar”.

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