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Rumos da UFPE

Claudia Santos

Tem havido expressivas mudanças no ensino superior brasileiro. As matrículas nos cursos de graduação cresceram significativamente no País entre 2010 e 2015 (+ 25,8%), as unidades privadas ganharam mais espaço (+1,5%) no conjunto das instituições de ensino e houve reposicionamentos na hierarquia das principais universidades brasileiras. Do ponto de vista qualitativo, em algumas universidades, como a UFPE, estratégias equivocadas de gestão, ocupações, greves e vandalismos de motivação ideológica evidenciaram sinais de crise que foram percebidas com preocupação pela sociedade.
A despeito do crescimento relevante nas matrículas, o percentual de estudantes no ensino superior brasileiro em relação à população com idade entre 18 e 29 anos, grupo etário que abriga a maioria das pessoas cursando a universidade, foi 21,3 %, em 2015 (Censo do Ensino Superior/INEP e PNAD/IBGE). Ademais, no mesmo ano, a importância relativa das pessoas com ensino superior completo no conjunto da população ocupada com carteira de trabalho assinada foi de 19,5% (RAIS/MTE). Esses dados evidenciam que há ainda uma grande demanda insatisfeita por cursos de graduação no País.
Em 2015, um pouco mais de três quartos (75,7%) das matrículas nos cursos de graduação ocorreram em instituições privadas, com e sem fins lucrativos. E esse percentual vem crescendo ao longo dos anos. Os cursos de graduação públicos vêm perdendo espaço para os da esfera privada. Esse fenômeno traz em si um mecanismo consolidador de desigualdades a despeito dos avanços dos últimos anos com o sistema de cotas, bolsas (Prouni) e financiamento (Fies), entre outras medidas.
As universidades públicas são de melhor qualidade e gratuitas. Nelas ingressam os melhores estudantes originados, em sua maioria, de escolas privadas onde o ensino médio – como comprovado pelos resultados do Enen – é superior. Os estudantes menos preparados e de menor posicionamento na hierarquia de renda do País ou frequentam escolas pagas ou enfrentam muitas dificuldades para acessarem a universidade pública. Ou seja, o sistema de ensino superior brasileiro ratifica e reforça as desigualdades geradas antes dos estudantes ingressarem nos cursos de graduação. Isso sugere que a melhor forma de democratizar e de facilitar o acesso à universidade pública é investir no ensino básico: educação infantil, fundamental e médio. A melhoria terá que ser nos três níveis para evitar retenções e desequilíbrios entre eles.
As universidades federais estão entre as melhores do País. No ranking universitário Folha de S. Paulo, sete das dez melhores universidades do Brasil, em 2016, são federais. Entre as dez melhores não consta nenhuma privada. A UFPE ficou em 12º lugar perdendo duas posições no ranking em relação a 2015 quando ocupou a décima posição. Como a melhor instituição de ensino superior do Nordeste situa-se agora a Universidade Federal do Ceará (UFCE) que se posicionou em 10º lugar. A pontuação é o resultado ponderado de notas para o ensino, pesquisa, mercado, inovação e internacionalização. Claro que há diferenças de desempenho entre os diversos Centros e Departamentos, mas, na média, houve retrocesso. Cabe questionar as razões pelas quais a UFPE perdeu posição relativa, mas isso é um desafio que não cabe analisar neste espaço. A gestão da UFPE, em todos os seus níveis, deve identificar as causas e atuar para reposicionar a instituição no conjunto das dez melhores universidades federais brasileiras.
Os recentes atos de vandalismo e de intolerância política que transformaram ocupações pacíficas em palco de inaceitável espetáculo de barbárie e de incivilidade, especialmente nos Centros de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) e de Artes e Comunicação (CAC) da UFPE, não estão associados à perda da instituição no ranking, mas sinalizam uma alteração preocupante no ambiente político e na estratégia de gestão da universidade. Os lamentáveis fatos ocorridos revelam que a direção da universidade foi leniente com as ocupações e que confiou ingenuamente em negociações com grupos radicais e descompromissados que não têm nenhuma representatividade institucional, até mesmo porque não foram legitimados por nenhuma eleição. Além do mais, o direito fundamental de ir e vir de estudantes, professores e funcionários foi cerceado de forma acintosa e violenta, rompendo um dos princípios fundamentais do nosso ordenamento jurídico. O direito de protestar de alguns não pode se sobrepor aos direitos da maioria de cumprir atividades acadêmicas e profissionais pelas quais é paga com dinheiro público. O diálogo é necessário, mas pressupõe que o outro lado deseje ouvir, negociar e cumprir o que foi acordado.

Insistir neste caminho depois de renovadas confirmações de má fé põe em risco a integridade das pessoas, do patrimônio público e abala o respeito e a credibilidade que a sociedade deve ter pela instituição universitária.
Fatos como esses contribuem para criar uma imagem negativa da universidade e se somam aos que têm conduzido a UFPE a perder importância relativa no conjunto das universidades brasileiras.

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