Entrevista com Sandro Prado: “Caso venha a ocorrer, o Brasil será atingido em cheio pela recessão mundial” – Revista Algomais – a revista de Pernambuco
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Rafael Dantas

Entrevista com Sandro Prado: “Caso venha a ocorrer, o Brasil será atingido em cheio pela recessão mundial”

Analistas do mundo todo falam sobre a chegada de uma recessão global em um horizonte muito próximo. Na edição da Algomais desta semana tratamos dos impactos no Brasil e em Pernambuco e hoje publicamos na Gente & Negócios na íntegra a entrevista com o economista do Conselho Regional de Pernambuco e professor da Universidade de Pernambuco (UPE) Sandro Prado sobre esse cenário que assombra a economia internacional.

O que caracteriza uma recessão global e por que tanta gente está com a perspectiva que a enfrentaremos em breve?

A recessão global é quando há uma forte redução nas atividades econômicas nos principais mercados mundiais como na Zona do Euro, nos Estados Unidos e na China. Este fenômeno se alastra rapidamente por todos os países devido à grande interdependência gerada pela globalização econômica, o que é a marca do capitalismo contemporâneo. 

Em termos técnicos e de forma sintética a recessão é quando há uma diminuição no Produto Interno Bruto (PIB), por dois trimestres consecutivos.

Podemos perceber este movimento recessivo na economia real através de alguns índices econômicos como a queda no PIB, o aumento nos níveis de desemprego, a redução da renda das famílias e dos investimentos.

O mundo enfrenta um cenário de crise econômica que pode ser exemplificado com a decisão do FED de aumentar a taxa de juros nos EUA o que norteia o Banco Central Europeu (BCE) a também elevar a taxa de juros na Zona do Euro. Os aumentos devem durar por quase todo o ano de 2022 e este aperto monetário mais longo deve disseminar a crise por todo o globo já que os EUA ainda se sustenta como a grande potência econômica mundial.

O aumento da Taxa de Juros reduz o consumo que por sua vez tem reflexo direto na diminuição da produção e nos investimentos ocasionando a queda no PIB e a recessão. 

Esse cenário é inevitável? Alguma ação poderia ser tomada pelas maiores economias globais e órgãos reguladores para evitá-la?

O cenário é de muita, muita incerteza. A pandemia de Covid-19 e o conflito bélico entre a Rússia e Ucrânia vieram acelerar ainda mais o temor de uma recessão global. Os assuntos que tem dominado o debate econômico mundial são recessão, taxa de juros, desabastecimento e inflação. As medidas de política monetária clássica não são suficientes para evitar a crise do capitalismo de mercado. A intervenção do estado na economia é fundamental neste momento de incertezas e insegurança. Somente desta forma conseguiremos evitar uma grande crise que traria consequências desastrosas para economias como a do Brasil.  Por enquanto é a China a grande âncora que ainda tem conseguido segurar um pouco a chegada da crise global. A crise é evitável, mas para isto, será necessário a orquestração de políticas macroeconômicas globais.

Como o Brasil e Pernambuco devem ser afetados por esse fenômeno global?

A economia brasileira já anda bastante combalida com uma acentuada perda do poder de compra da população, altas taxas de desemprego, de taxa de juros, de endividamento das famílias e de inflação.  A desindustrialização é extremamente preocupante e as respostas do Ministério da Economia a estes graves problemas não tem sido a contento. 

Caso venha a ocorrer, o Brasil será atingido em cheio pela recessão mundial. O modelo equivocado de transformar o Brasil em um mero fornecedor de produtos primários para o mundo remonta políticas de um século atrás e os erros sucessivos na insistência desta estratégia tem trazido grande prejuízo para a economia e para a imagem do Brasil no exterior.  O modelo é altamente degradador do meio ambiente e destruidor dos povos originários pois é baseado na destruição de florestas para aumentar a fronteira agrícola e criatória e a exploração de minérios. Tornar o Brasil novamente dependente da exportação de comodities agrícolas e minerais e um mero importador de produtos industriais é um erro e, nos próximos anos, pagaremos um preço muito caro por esta escolha. 

Essas recessões afetam mais alguns setores do que outros? Olhando para a economia pernambucana, quais seriam os mais prejudicados?

Apesar de Pernambuco ter o 10º maior PIB entre os estados brasileiros os indicadores econômicos e sociais apresentam índices extremamente preocupantes e decepcionantes. A queda na renda e no poder de compra das famílias vem prejudicando sensivelmente a economia, o desemprego é bem acima da média nacional bem como os índices de pobreza e miséria. Pernambuco se tornou dependente e refém das políticas de transferência de renda do governo estadual e federal. Desta forma a indústria e o comércio varejista de bens e serviços devem ser duramente atingidos com o aprofundamento da crise, de forma similar como aconteceu durante a pandemia. Se a recessão mundial ocorrer, a contração das exportações de bens industriais e de comodities deve acentuar a queda do setor industrial pernambucano e desorganizar a cadeia produtiva agrícola.  A restrição do consumo das famílias afetará milhares de pequenos negócios em todo o estado tendo como consequência principal o empobrecimento cada vez mais acentuado da população.

Diante desse risco global, que temas da agenda econômica deveriam estar sendo discutidos neste ano nas eleições nacionais e em Pernambuco?

Não tenho dúvida que a agenda econômica de qualquer sociedade deve estar alinhada com as necessidades das pessoas. Erradicar a fome, a miséria e a pobreza deve ser o foco central de qualquer partido que lance candidato(a) a presidência da República e ao governo do estado de Pernambuco. Em tempos de crise, a agenda deve ser pautada na condução de políticas econômicas robustas onde o estado brasileiro intervenha nas atividades econômicas com políticas anticíclicas e com investimento estatal em setores estratégicos para a retomada do desenvolvimento. A criação de empregos e a garantia da renda mínima, o aumento real do salário mínimo, da renda das famílias e a redistribuição da renda deve ser enfrentados de frente pelo novo governo. Não há como desenvolver sem distribuir, a grande concentração de renda no Brasil tem que ser combatida de imediato, só nos resta saber se elegeremos deputados e senadores, em número suficiente, que tenham competência e vontade de realmente transformar o Brasil em um novo país com mais justiça e igualdade social.

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