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Seleção por concurso: um modelo ultrapassado

Revista algomais

*Por Pierre Lucena

Já é comum encontrar um ex-aluno meu e perguntar o que está fazendo da vida, como vai a carreira e receber a resposta: “estou fazendo concurso”. No Brasil, parar de trabalhar para estudar para concurso virou profissão.
Segundo o site Consultor Jurídico, o Brasil possui 12 milhões de concurseiros. Estimativas mais realistas trabalham com o número de 5 milhões de pessoas que, simplesmente, pararam qualquer tipo de atividade produtiva para se dedicar única e exclusivamente a estudar para virar funcionário público.
E concurso para que?
Não importa. O que é relevante é o salário que vai ganhar, a cidade onde vai trabalhar e a flexibilidade do horário. E claro, a tão sonhada estabilidade no emprego. A aposentadoria integral já é um sonho distante, pois é um privilégio de servidores antigos.
A verdade é que este modelo de seleção através de concurso é o que há de mais atrasado em termos de recrutamento de pessoas. Aparentemente ao que tínhamos antigamente, que era a indicação de amigos e parentes, parece ser um grande avanço, mas é muito pouco perto do que pode ser feito e do que realmente o país precisa.
Vejamos...estamos falando de 5 milhões de pessoas sem fazer absolutamente nada de produtivo, já que até o estudo em que estão empenhados se resume em grande parte a decorar leis e regras que só servirão para o exame. Estamos falando de 5 milhões de pessoas que tiveram acesso à educação (muitas delas educação pública em universidade federal) que estão paradas sem gerar absolutamente nada para o país. E pior, cujo único sonho é virar funcionário público para não sofrer qualquer tipo de pressão no emprego que o obrigue a produzir mais.
Não há sonho de ser empreendedor ou mesmo de assumir qualquer risco. O único objetivo é pensar que nunca poderá ser demitido, independente do que aconteça.
E qual a alternativa?
Que tal colocar a prova final do curso, como o Enade, misturado à nota que a instituição tira em seu conjunto, para formar uma lista nacional, tornando o processo bem menos complicado, muito mais transparente e ao mesmo tempo, estimulando o estudante a se esforçar durante o seu período acadêmico na graduação, que é o momento certo para seu desenvolvimento intelectual. Ao mesmo tempo acabaríamos com essa loucura coletiva que envolve milhões de jovens e estimularíamos o aprendizado dentro das instituições, já que estas se veriam forçadas a oferecer ensino de boa qualidade porque a carreira de muita gente, efetivamente, começaria no primeiro dia de aula.
A verdade é que o Brasil não pode se dar ao luxo de ver grande parte de seu capital humano parada sem produzir sequer um alfinete.
Somados aos 40 milhões de beneficiários de programas sociais e aposentadorias precoces, que estão sem trabalhar, e aos 23 milhões de desempregados (13 milhões de desempregados formais e 10 milhões que já desistiram de procurar emprego), temos praticamente metade da capacidade de capital humano do país em idade economicamente ativa com produtividade igual a zero.
E daí surge a pergunta: que país estamos construindo?
Com certeza será muito difícil fazer o país sair do processo atual sem a construção de uma cultura e um pacto de um trabalho real.

Agenda TGI

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Pierre Lucena é Doutor em Administração/Finanças pela PUC-Rio e professor universitário
A opinião deste artigo reflete o pensamento do autor, não da instituição que dirige ou representa

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