O Governo Bolsonaro enfrenta mais uma crise, a mais grave da sua gestão desde a exoneração do ex-ministro Gustavo Bebianno. O atrito envolvendo seu ministro da Justiça Sergio Moro e o presidente da Câmara Federal Rodrigo Maia coloca em risco a Reforma da Previdência, principal desejo do mercado. Na primeira semana pós-racha entre o principal líder do Poder Legislativo e o novo presidente, todos os olhos se voltam para quais serão os próximos passos de Bolsonaro: ele irá buscar uma conciliação com o Congresso e aliviar o discurso ou seguirá tensionando a relação com a oposição e, principalmente, com a sua base?
O Governo foi eleito com três bases principais: o apoio do empresariado (de forma mais evidente com as bancadas do boi e da bala), dos militares e da bancada evangélica. Se os pastores, missionários e "irmãos" parecem já ter uma relação estremecida há algumas semanas com Bolsonaro, sem nenhuma sinalização de afago do Governo Federal, a crise mais recente atinge em cheio o mercado. Pela primeira vez as críticas à falta de articulação de Planalto subiram o tom, pelo desânimo do empresariado com o risco da não aprovação da Reforma da Previdência. O afastamento de Maia e Bolsonaro acontece também em um momento em que as manifestações contra a reforma começam a ganhar mais volume na sociedade, como a que aconteceu no Recife na última sexta-feira (22), que reuniu 15 mil pessoas.
Para discutir essa crise, que se tornou pública há alguns dias - na verdade, desde a prisão de Michel Temer e do ex-ministro Moreira Franco, sogro de Rodrigo Maia - Bolsonaro se reuniu hoje com Paulo Guedes, Onyx Lorenzoni, Augusto Heleno, Santos Cruz (Secretário de Governo). Antes disso, o vice-presidente Hamilton Mourão declarou que a relação entre Bolsonaro e Maia "parece briga de rua, precisa acalmar as bases".
Os próximos dias são cruciais para apontar o futuro da Reforma da Previdência. Lembrando que o Pacote Anticrime já foi excluído da agenda da Câmara Federal. Outro tema simbólico que pode estremecer mais a relação entre o Planalto e o parlamento é a possível suspensão do decreto de dispensa de visto a turistas de quatro países, anunciado por Bolsonaro na recente visita a Donald Trump.
EM PERNAMBUCO
O governador Paulo Câmara considerou preocupante a proposta de Reforma da Previdência para os militares. As regras definidas para as Forças Armadas serão replicadas para policiais e bombeiros militares em Pernambuco. Hoje a alíquota dos militares no Estado é de 13,5%. O recolhimento das forças armadas é muito inferior. A proposta de Guedes é que ele suba até 2022, alcançando 10,5%. Enquanto isso, Governo do Estado faz as contas para calcular a queda na arrecadação.
*Por Rafael Dantas, repórter da Algomais (rafael@algomais.com)