Da Semas
A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco (Semas) anunciou uma série de ações para conter o avanço do coral-sol, uma espécie exótica-invasora que ameaça a biodiversidade nativa aonde chega. O animal marinho foi identificado, no ano passado, em navios naufragados no Recife. Com investimento inicial de cerca de R$ 530 mil, o plano de combate prevê a realização de 59 campanhas de mergulho para remover a espécie e monitorar a costa do estado, Fernando de Noronha e áreas portuárias. A iniciativa foi detalhada durante o webinário Coral-sol e Naufrágios, que integra a programação da Semana do Meio Ambiente.
O secretário da pasta ambiental do estado, José Bertotti, ressaltou que a espécie chegou ao Brasil há muito tempo, mas só agora em Pernambuco. A presença dela é um alerta por sua capacidade de comprometer a vida marinha nativa. “Temos um chamado pela restauração dos ecossistemas e isso inclui o bioma Marinho-costeiro. O coral-sol nos desperta preocupações. Mas, estamos prontos para agir e tomar as medidas necessárias em tempo para conter a disseminação dele. Essa é uma ação conjunta do governo, academia e sociedade civil, e acreditamos que ela é um motor importante para garantir a conservação dos nossos ambientes recifais”, afirmou.
Segundo o levantamento feito pela Semas com o apoio de instituições não governamentais, até o momento, foi identificada a presença de indivíduos dessa espécie em cinco pontos de naufrágios. Trata-se das embarcações Walsa, Bellatrix, São José, Phoenix e Virgo, localizadas na costa do Recife. Também foi observada a existência do animal em estruturas do Porto de Suape. Para enfrentar o desafio de erradicar o coral, o plano prevê cinco etapas: Diagnóstico; Remoção; Monitoramento; Comunicação e Normas. Essas etapas serão realizadas simultaneamente como forma de garantir um controle mais efetivo do animal.
Para o diagnóstico, serão realizados 28 mergulhos em pontos de naufrágios e também de ambientes naturais distribuídos na costa pernambucana, sendo três deles no Arquipélago de Fernando de Noronha. A ideia é ter uma visão do status da contaminação dos ambientes marinhos consolidado num relatório com mapa e medidas mitigadoras a serem adotadas. “Na nossa costa, existem mais de 100 naufrágios. Contudo, escolhemos os pontos a partir da análise de especialistas que indicaram os locais com maior probabilidade de aparecimento do coral-sol frente ao cenário hoje já posto”, explicou Sidney Vieira, analista da Semas/PE.
Já a etapa de remoção deve começar ainda este mês, quando está prevista a primeira atividade de retirada de colônias localizadas no barco “Virgo”. A embarcação está em 16% de sua superfície contaminada, de acordo com o Projeto de Conservação Recifal. Além dessa, é certa a extração de indivíduos nos outros quatro naufrágios que abrigam o animal. Parte do material coletado será encaminhado às universidades e aos pesquisadores parceiros. O restante seguirá para destinação adequada.
Após as ações de retirada, a Semas seguirá fazendo o monitoramento tanto de áreas já afetadas como de outros pontos estratégicos da costa. O plano contempla a realização de outras 25 campanhas de mergulho, além de um reforço na comunicação com as autoridades portuárias, mergulhadores profissionais, pescadores e instituições que atuam em ambientes recifais. A ideia é que esse acompanhamento gere dados para compor linhas de ações efetivas tanto no que diz respeito a melhor forma de erradicação da espécie, como no controle de uma eventual dispersão.
O professor e pesquisador da UPE, Múcio Banja, que participou do debate, reconheceu a efetividade do decreto estadual sobre ações de prevenção e erradicação de espécies marinhas invasoras. Publicada este ano, a legislação foi construída a partir dos debates do plano de combate ao coral-sol, juntamente com a sociedade. “Já fui procurado por empresas devido à necessidade de se cumprir exigências previstas no decreto. Então, já estamos vendo medidas importantes se configurando nos portos, sendo respeitado o que foi definido em prol da preservação do ecossistema marinho. Esperamos que todas as iniciativas levem em conta o definido no decreto e nosso plano de ação”, disse.
O diálogo online contou ainda com a presença de Pedro Pereira, coordenador do Projeto Conservação Recifal; Ninha Santhiago, mergulhadora tech; e do superintendente de Conservação da Biodiversidade, Maurício Guerra. O evento faz parte da programação comemorativa da Semana do Meio Ambiente, realizada conjuntamente pela Semas, Agência CPRH e Parque de Dois Irmãos.
Coral-sol - Espécie exótica-invasora, originária do Oceano Pacífico Sul, o coral-sol é encontrado principalmente no Arquipélago de Fiji. Os vetores de introdução dele estão relacionados à plataforma e outras estruturas da exploração de petróleo, contudo, os navios também são tidos como vetores, através, principalmente, da incrustação da espécie em seu casco. Os indivíduos se fixam ao encontrar costão rochoso ou materiais artificiais como cimento, granito, aço e cerâmica, podendo ocupar áreas até onde não há incidência de luz. São capazes de se reproduzir em alta velocidade, ocupando o espaço da fauna nativa e provocando um efeito devastador na biodiversidade marinha brasileira.