O brasileiro segue enfrentando dificuldades para terminar o mês com sobras de dinheiro. Dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revelam que 73% dos consumidores não conseguiram guardar nenhuma parte de seus rendimentos no último mês de agosto. Apenas 20% dos entrevistados foram capazes de poupar ao menos parte do salário que recebem. Entre os consumidores das classes C, D e E, o índice é ainda menor e cai para 15% das pessoas consultadas. Nas classes A e B, a proporção de poupadores cresce para 36%, mas ainda assim, é a minoria.
De acordo com o indicador do SPC Brasil, o número de poupadores tem se mantido estável em um baixo patamar nos últimos meses. Em julho, o percentual de poupadores havia sido de 19% e em junho, de 21%. Entre os que conseguiram poupar no último mês de agosto e se recordam do valor, a média dos recursos guardados foi de R$ 516.
Entre os brasileiros que não pouparam nenhum centavo, 49% justificam receber uma renda muito baixa, o que inviabiliza ter sobras no fim do mês. A falta de renda, em meio a um cenário de desemprego, também pesa, sendo mencionada por 17% desses entrevistados. Há ainda 15% de consumidores que disseram ter enfrentado imprevistos e 12% que reconhecem ter dificuldades para controlar gastos e manter a disciplina de poupança. “Mesmo que não se poupe grandes quantias, o hábito de guardar dinheiro ajuda o consumidor a não extrapolar os ganhos e manter um maior controle de suas finanças. Mais importante do que o valor que se guarda, é a regularidade com que se faz a poupança”, afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
36% dos poupadores guardam dinheiro para lidar com imprevistos e 51% tiveram de sacar recursos em agosto
Segundo o indicador, o principal propósito para aqueles que têm como hábito poupar, é a proteção contra imprevistos, mencionada por 36% dos entrevistados. Em seguida, aparece a intenção de garantir um futuro melhor para a família (25%), se prevenir caso fiquem desempregados (25%) e a realização de algum sonho de consumo (20%). Já a aposentadoria foi lembrada por apenas 11% desses poupadores.
Outro dado que o levantamento mostra é que mais da metade (51%) dos brasileiros que possuem reserva financeira tiveram de sacar ao menos parte desses recursos no último mês, sendo que para 13% a necessidade foi ter de pagar alguma dívida, 12% para pagar contas básicas da casa e 11% para cobrir despesas extras. “Cada reserva deve ter uma finalidade. Ela pode ser para imprevistos, para conquistar um sonho ou para aposentadoria. O ideal é que não se misture esses recursos e que só se faça o resgate no período adequado”, explica a economista do SPC Brasil.
62% recorrem à caderneta de poupança; 42% dos que guardam dinheiro em casa, veem liquidez como vantagem
Mesmo entre os poupadores, o levantamento descobriu que há falta conhecimento sobre opções mais rentáveis de investimento. A maioria (62%) desses entrevistados recorre a velha caderneta de poupança para guardar seus recursos. Outros 19% deixam o dinheiro guardado na própria casa. Em seguida, aparecem de forma mais pulverizada os fundos de investimento (9%), previdência privada (7%), tesouro direto (7%), CDBs (5%) e ações em bolsas (4%). “A preferência majoritária pela poupança ou por guardar dinheiro na própria casa demonstra que até mesmo entre aqueles que têm o hábito de guardar dinheiro, há inércia na busca de informação de modalidades disponíveis e cuidado em buscar aplicações adequadas para cada tipo de objetivo financeiro”, afirma a economista Marcela Kawauti.
A poupança também acaba sendo o destino mais usual para os recursos financeiros porque é a modalidade mais conhecida dos investidores: 75% dos que não se utilizam dela pelo menos já ouviram falar a seu respeito. No caso da previdência privada, 49% já ouviram falar nessa modalidade. Outras opções que são conhecidas apenas pela minoria dos consumidores são os fundos de investimento (36%), ações (35%), CDBs (25%) e tesouro direto (24%).
Quanto aos brasileiros que guardam o dinheiro em casa, a principal razão mencionada, por 42% desses entrevistados, é a liquidez – ou seja, a facilidade para dispor desse dinheiro quando precisam usá-lo em momentos de necessidade. Também se destacam a percepção de que não vale a pena deixar pouco dinheiro investido em banco (35%) e a sensação de segurança (15%). O educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’ orienta que nesses casos, se a preocupação do consumido for a liquidez, “o dinheiro pode ser mantido em uma conta poupança, de onde pode ser retirado com facilidade. Dessa forma, o dinheiro não fica parado, pode ser sacado a qualquer momento e não deixa o consumidor vulnerável, uma vez que os recursos guardados na própria casa podem ser roubados ou perdidos”, afirma Vignoli.