Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar, destaca as oportunidades que o setor sucroenergético vislumbra dentro do processo em curso no mundo de “descarbonização da economia”. A mais tradicional atividade produtiva de Pernambuco aposta na participação em diversos empreendimentos conectados às novas tendências globais de redução de emissão de gases de efeito estufa.
Diante do desafio global de descarbonizar a economia, quais as oportunidades que se abrem para o setor do etanol?
A biomassa da cana que se transforma em etanol e bioeletricidade que cria biocombustíveis que estão se tornando protagonistas de peso na era da hibridização das fontes de energias limpas. Não se concebe mais um modelo baseado nos combustíveis fósseis ou até em apenas de uma única fonte, como a hidroelétrica, exatamente pelas vulnerabilidades de se planejar o suprimento de energia apenas com uma fonte solteira.
Quais as principais agendas e demandas do setor para 2021?
A meritocracia do carbono está no nosso planejamento e alguns focos merecem relevância, notadamente ligados às metas dos acordos internacionais vigentes, tais como; limitar o aumento médio da temperatura global a 1,5 graus celsius e promover a cooperação entre sociedade civil, setor privado, instituições financeiras, cidades, comunidades e povos indígenas para ampliação da mitigação do aquecimento global. Há recomendações de adaptação para que os países signatários de mudanças climáticas possam reduzir suas vulnerabilidades a eventos climáticos extremos, além de haver a promoção do desenvolvimento tecnológico e de transferências de tecnologias para capacitação nessa adaptação às mudanças climáticas.
O Brasil se comprometeu no Acordo do Clima de Paris a atingir o ano de 2025 liberando 37% menos de gases estufa em relaçao aos índices de 2005. Para 2030, o plano já atinge a uma redução de 43%. O desmatamento ilegal deveria ser zerado até 2030 e as emissões seriam compensadas com a restauração e o reflorestamentos de 12 milhões de hectares de florestas até o fim da década. Diante desses desafios, o setor terá agendas tais como o programa Combustível do Futuro do Governo Federal, lançado pela resolução 7 do Ministério de Minas e Energia, em 20 de abril passado.
Serão tratadas no programa medidas para estímulo ao uso de combustíveis de baixa intensidade do carbono, assim como tecnologias sustentáveis com adequada eficiência energética com vistas a descarbonização da matriz energética brasileira, inclusive com mais previsibilidade de preços, garantias de suprimento de todo o território do país, aproveitando-se de novas tecnologias ambientais e em busca da promoção de livre concorrência. O Brasil tem amplas condições de liderar essa transição de modelos para a era do hidrogênio verde. Os biocombustíveis serão mais levados em conta, numa avaliação que denominamos “do poço a roda”, onde o ciclo de vida limpo é de fato levado em conta, sem aparências e subterfúgios utilizados em algumas equações de outras fontes, geralmente segmentadas por partes, utilizando-se na produção, origens em fontes que acarretam bastante ônus ambiental.
Hoje o secretário de meio ambiente mencionou a possibilidade da indústria do etanol no futuro poder produzir um tipo de biocombustível para a aviação, que atualmente não tem nenhuma produção no hemisfério sul. Isso é uma oportunidade real?
O Bioqav já é uma realidade em alguns países, como os Estados Unidos e na Europa, com a tecnologia do isobutanol. O custo benefício da tecnologia ainda encontra dificuldades no Brasil para a solidificação de uma cadeia produtiva em nosso país.
A aviação responde por pelo menos 2% das emissões no mundo de dióxido de carbono. O segmento possui um esquema mais incentivador e completo de redução, além de um balanço de compensações de emissões da aviação internacional, que está em franco processo de desenvolvimento, inclusive com necessidade de política fiscal atualizada e atrelada a estímulos para esse sistema de produção. Os custos do processo estão em fase de mensuração e é provável que haja mais maturidade dos resultados dentro de mais algum tempo.
Há algum outro mercado ou oportunidade dentro dessa agenda da sustentabilidade que o setor sucroenergetico está apostando?
O setor está bastante atento a participação em corredores verdes para o abastecimento de veículos pesados, produção do metano da vinhaça, Bioqav, Hidrogênio Verde, bioeletricidade de co-geração, prestação de serviços ambientais por Cbios e na modalidade dos créditos de carbono e ainda na consolidação das tecnologias de solução de mobilidade com célula de combustíveis, diante de um mercado com um consumo gigante, atualmente efetuado por cerca de 1,2 bilhão de veículos que operam com motores a combustão.