Independentemente da profissão, o estresse faz parte da vida das pessoas, em qualquer lugar do mundo, que a cada dia é mais exigente, competitivo e repleto de movimentos. As atividades profissionais/laborais não permitem, muitas vezes, que se tenha tempo de lazer, hobbies e atividades físicas.
Um estudo americano da Right Management revelou que 67% das pessoas gastam mais tempo no trabalho, e que está cada vez mais difícil se desvencilhar deste, seja para pequenas pausas diárias e ou conciliar férias integrais. Isso leva às situações de angústias, estresse, desmotivação, adoecimentos e baixa qualidade de vida.
No mundo atual, são grandes as cobranças de performance profissional, sejam relacionadas aos aspectos técnicos individuais, à capacidade de gerenciar crises, inteligência emocional e liderança junto às equipes. Essas situações podem estar relacionadas:
1. ao excesso de trabalho e à falta de recursos estruturais e pessoais para responder às demandas laborais;
2. às relações tensas e ou conflituosas com os companheiros/colegas/usuários/clientes, assim como políticas/valores da organização;
3. ao impedimento de gestores (stakeholders) e ou superior hierárquico para que o empregado/profissional exerça a sua atividade laboral;
4. à impossibilidade de progredir ou ascender no trabalho; e,
5. o alto nível de exigência para se aumentar a produtividade, diminuir custos e atingir metas, muitas vezes, impossíveis de serem alcançadas.
Nesse contexto, surge o conceito da Síndrome do Burnout (“queimar por completo, exterior”), descrito em 1974 pelo médico americano Freudenberger, e reconhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional (Brasil, Ministério do Trabalho, 1999).
Como o próprio nome já sugere, é um conjunto de sinais e sintomas relacionados a um desgaste físico e mental que afetam a vida das pessoas. Pode ter consequências desastrosas, como estados de depressão e suicídios. Estes considerados como um problema de saúde pública pela OMS (Organização Mundial de Saúde), com taxas de 11,4% de mortes para cada grupo de 100 mil habitantes, estando o Brasil em oitavo lugar do mundo em número de suicídios.
A Síndrome do Burnout, em geral, atinge principalmente, os profissionais que lidam direta e intensamente com pessoas e influenciam suas vidas, como no caso de profissionais das áreas de educação, assistência social, saúde, recursos humanos, bombeiros, policiais, agentes penitenciários, advogados, jornalistas, bancários, recepcionistas, gerentes, atendentes de telemarketing, motoristas de ônibus dentre outras. O Burnout, é, portanto, a resposta a um estado prolongado de estresse.
Ocorre pela cronificação deste quando o indivíduo tenta se adaptar a uma situação claramente desconfortável no trabalho, relacionado com suas atividades profissionais, que estão desgastadas e sendo causa de desmotivação para trabalhar.
São diversos os sintomas, que, em fase inicial, até se confundem com estados clínicos depressivos, sendo, portanto, necessário um diagnóstico mais detalhado, para evidenciar a presença de esgotamento físico e emocional que pode estar refletido através de comportamentos diferentes, como agressividade, isolamento, mudanças de humor, irritabilidade, dificuldade de concentração, falha da memória, ansiedade, tristeza, pessimismo, baixa autoestima, sentimentos negativos, medos, desconfiança paranoia e constantes ausências no trabalho. Clinicamente, observam-se queixas de dores de cabeça, enxaqueca, cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, dores musculares, insônia, crises de asma e distúrbios gastrointestinais, respiratórios, cardiovasculares, e, em mulheres alterações no ciclo menstrual.
Assim, para que a Síndrome do Burnout seja prevenida, é fundamental a implementação e a priorização de estratégias: individuais (assertividade e gestão do tempo); grupais (apoio externo); e organizacionais (clima).
Sylvia Lemos Hinrichsen é médica infectologista e professora universitária