Sobrepeso e obesidade aumentam risco de asma em até 50% - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Sobrepeso e obesidade aumentam risco de asma em até 50%

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Asma e obesidade estão relacionadas? “Estudos sugerem que a ação pró-inflamatória do tecido adiposo pode levar ao desenvolvimento de inflamação nas vias aéreas e, como consequência, deste processo, a asma”, explica o Dr. Fábio Kuschnir, especialista e diretor da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia.

Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), a asma atinge cerca de 235 milhões de pessoas em todo o planeta. Só no Brasil, a doença afeta aproximadamente 20% das crianças e adolescentes. Estudos apontam que a asma é responsável pela morte de dois milhões de pessoas no mundo.

Já a obesidade, ainda de acordo com dados da OMS, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estarão com sobrepeso, e mais de 700 milhões, obesos. O número de crianças com sobrepeso e obesidade no mundo poderá chegar a 75 milhões.

Diferentes hipóteses envolvendo fatores genéticos, ambientais, nutricionais, tipo de microbiota, estilos de vida entre outros, procuram explicar a relação entre asma e obesidade. Dr. Kuschnir explica que, embora a chamada “asma-obesa” apresente algumas características específicas, até o momento, não há um mecanismo único que seja dominante, uma vez que estes fatores podem atuar em diferentes estágios do desenvolvimento do indivíduo, desde o período pré-natal até a idade adulta. O desafio é entender como a obesidade influencia a asma e vice-versa.

Abaixo, o especialista da ASBAI comenta estudos e a relação entre as duas doenças crônicas.

Uma pessoa obesa tem mais propensão a desenvolver a asma?
Dr. Fábio Kuschnir - Sim. Estudos de seguimento (longitudinais) mostram que, em geral, a obesidade precede a asma e que o risco de asma aumenta com a obesidade.

Há levantamento de quantos pacientes com obesidade sofrem com a asma?
Dr. Fábio Kuschnir - Estudos de metanálise envolvendo dezenas de milhares de pacientes, inclusive brasileiros, de diferentes faixas etárias, demonstraram que aqueles com sobrepeso e obesidade apresentaram respectivamente 25% e 50% mais chance de ter asma. Em função da alta prevalência do excesso de peso na população mundial é possível dimensionar o seu impacto sobre o desenvolvimento ou piora da asma.

Tratar a asma em pacientes obesos requer um maior cuidado? Quais?
Dr. Fábio Kuschnir - Sim, especialmente em adultos pode requerer mais atenção, principalmente em relação à gravidade do quadro clínico e resposta ao tratamento. Substâncias como a Proteína C reativa, Interleucina 6 e leptina produzidas pelas células do tecido adiposo (adipócitos) foram associadas com uma diminuição da função pulmonar e uma inflamação nas vias aéreas do tipo neutrofílica (“asma não alérgica”), especialmente nos casos mais graves de asma. Este tipo de inflamação difere do padrão encontrado na “asma alérgica” clássica causada por aeroalérgenos da poeira doméstica como os ácaros, pelos de animais e fungos.

De um modo geral, os neutrófilos são mais resistentes aos corticoides, fazendo com que pacientes obesos asmáticos sejam menos sensíveis ao tratamento com estes medicamentos, considerados de primeira linha para manutenção e controle dos sintomas da asma.

A atividade física é recomendada para um paciente com obesidade e asmático?
Dr. Fábio Kuschnir - Juntamente com a terapêutica adequada e a dieta, visando a redução do peso, um plano de atividades físicas é um dos pilares do tratamento da asma nestes pacientes. Estudos mostram que, isoladamente, o exercício aumenta a capacidade aeróbica, melhora o controle dos sintomas de asma e, consequentemente, a qualidade de vida.

O tratamento na criança com obesidade e asma é semelhante ao do adulto?
Dr. Fábio Kuschnir - Sim, porém é sempre bom lembrar que crianças não são “mini-adultos” e a asma apresenta características clínicas e funcionais próprias da faixa etária.
A maioria das crianças obesas com asma é constituída por alérgicos com padrão inflamatório pulmonar eosinofílico, característico da asma “alérgica”, típico da infância. Nestes casos, a maioria dos pacientes desenvolveu obesidade posteriormente, complicando uma asma pré-existente e são bons respondedores à terapia convencional com corticoides inalatórios.

Para uma melhor qualidade de vida, quais recomendações o Sr. pode passar a uma pessoa com obesidade e asma?

Dr. Fábio Kuschnir - Em primeiro lugar consultar o alergista para um diagnóstico preciso da sua enfermidade. Algumas medidas citadas anteriormente irão melhorar a qualidade de vida da pessoa com asma e obesidade:
1. A redução de peso está associada à diminuição dos sintomas e da gravidade da asma, além de melhorar a função pulmonar e a resposta ao tratamento da asma.
2. A instituição de uma dieta “natural” a base de frutas, vegetais e carnes magras (peixe).
3. Atividade física

A associação destes dois últimos itens apresenta um efeito sinérgico na melhora da qualidade de vida e nos parâmetros clínicos e funcionais da asma. Embora seja uma agenda aparentemente “fácil” de cumprir, na prática sabemos das dificuldades de implementar tais medidas. Por esta razão, o ideal é que sempre que possível o paciente com asma e obesidade seja assistido por uma equipe multidisciplinar constituída minimamente pelo médico especialista, nutricionista e profissional de educação física.

“Asma e Obesidade está na grade científica do 46º Congresso Brasileiro de Alergia e Imunologia, que este ano acontece na cidade de Florianópolis (SC), entre os dias 25 e 28 de setembro. O tema centra do Congresso este ano é “A Medicina Translacional nas Doenças Alérgicas”.

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