“Somos uma família que está dentro dos negócios em tempo integral”

Entrevista com MANUELLA MENDONÇA E DIEGO MENDONCA

Empresa que começou com uma borracharia em Carpina, hoje ostenta sete operações das marcas Rode Bem, Rode Mais e Rodo Max, que abrangem distribuição no atacado e revenda de pneus e serviços de recapagem. A segunda geração de gestores do empreendimento leva adiante o empreendedorismo do fundador Manuel Mendonça.

Tudo começou com uma simples borracharia em Carpina, na Zona da Mata Norte, que em 30 anos se transformou num grupo que hoje conta com 80 funcionários e ostenta sete operações ligadas ao setor de pneus: são três truck centers (que atendem ao segmento de caminhão), uma renovadora (que faz a recapagem), uma distribuidora das marcas Bridgestone e Firestone que atende todo o Estado de Pernambuco, e mais duas revendedoras multimarcas voltadas para o segmento de carros de passeio (car center). Para contar a trajetória de sucesso do grupo proprietário das marcas Rode Bem, Rode Mais e Rodo Max, Cláudia Santos conversou com a segunda geração dessa empresa familiar que começou com o empreendedorismo de Manuel Mendonça. Seus filhos, Diego Mendonça de 32 anos, e Manuella Mendonça de 27, contam como o negócio se expandiu, falam da relação com o pai e a mãe Fabiana, que também trabalha na empresa, e do setor de pneus e dos projetos da empresa.

Como começou a Rode Bem?

Diego – Ela começou em 1993. Está completando 30 anos. Nosso pai, Manuel, veio do segmento de recapagem de pneu de uma empresa que fechou. Então, ele abriu uma borracharia em Carpina. Na época teve início a importação de pneus usados vindos da Europa que ele comprava e revendia na cidade, tanto pneus de caminhão como de automóveis, e fazia a parte da recapagem. Na verdade, ele levava o pneu numa renovadora que recapava e entregava ao cliente.

Manuella – Ele era do administrativo, vendas e compras, mas havia uma pessoa que fazia o serviço de borracharia. O negócio foi crescendo, ele começou revender pneu novo e aos pouquinhos foi evoluindo.

Diego – O negócio foi ficando mais estruturado, já não era mais uma borracharia, mas uma loja de pneus e em 1996 ou 1997, ele abriu uma nova loja em Surubim, com um sócio e, como tem esse sócio, não faz parte do nosso grupo e leva outro nome, Siga Bem Pneus. Continuamos evoluindo, nos estruturando e passamos a ter um atacado de pneus em Carpina. Havia os importadores que traziam para o Brasil os pneus novos, meu pai comprava como atacadista na importadora e distribuía em todo o Estado de Pernambuco. Depois passou a fazer também Paraíba e Rio Grande do Norte. Mas, com o passar dos anos, os importadores passaram a vender direto aos clientes. A margem [de lucro] ficou muito espremida.

Manuella – Mais ou menos em 2012 ele encerrou o atacado, não era viável mais, e em 2013 a Bridgestone nos procurou – em razão de a Rode Bem ser referência na região – e fechou a parceria para abrir uma loja em Carpina voltada para o público de caminhões e ônibus, a linha pesada de pneus, serviços e máquinas agrícolas. Eles fizeram questão de utilizar o nome Rode Bem Pneus por ser uma marca já conhecida na região. A primeira loja vende pneus no varejo de automóveis em todas as medidas. Depois, montamos essa nova loja com a bandeira Bridgestone/Firestone e depois de uns dois anos, montamos uma renovadora de pneus também da Bridgestone.

O trabalho de uma renovadora é industrial?

Diego – A renovadora é uma indústria que pega o pneu usado, no final da vida útil, e coloca uma borracha nova em cima. Faz todo um processo para ele “sair novo de novo”, como a gente costuma dizer. O pneu hoje custa em torno de R$ 3 mil dependendo do modelo e da marca e, para recapar o custo é em torno de R$ 700 ou R$ 800. Numa frota de caminhão, que é o nosso principal cliente, o maior custo é o combustível e o segundo é o pneu. Recapando, há uma redução muito maior no custo. Tem muita operação hoje que, se não existisse a recapagem, não se pagaria, inclusive, a borracha que usamos é a Bandag que oferece mais quilometragem que um pneu novo. Imagine o custo de um rodotrem graneleiro, que tem 34 pneus com o preço médio de R$ 2.800 cada. Ao recapar, ele terá um resultado muito considerável.

Manuella – Esse serviço da recapagem tem a certificação do Inmetro.

E vocês se adaptaram às demandas de uma região agrícola?

Diego – Sim. Atendemos tanto a parte do caminhão frotista, caminhão de autônomo, como também o pessoal do agro. Bem, em 2014, começamos a operar no Recife com vendedor externo para fazer negócios, vender, fazer recapagem. Fomos ganhando, com o tempo, espaço no mercado. Até que em 2021 surgiu uma oportunidade de expansão do nosso truck center para Jaboatão dos Guararapes. Inauguramos na BR-101, uma loja grande, perto da Vitarella, que é um foco logístico do Estado.

Em 2022 abrimos mais uma loja em Carpina. Tínhamos um concorrente que nos ofereceu a vaga dele, compramos a loja e ficamos com três unidades, duas voltadas para o público de passeio (car center) que é a Rode Mais, aonde a gente começou. Na verdade, Rode Bem é o nome que começou, mas quando abrimos o truck center, em 2013, a Bridgestone queria que tivesse o nome Rode Bem. Então o que era Rode Bem antigamente, transformou-se em Rode Mais.

Quando abrimos a unidade em Jaboatão foi como Rode Bem, uma filial de Carpina. Quando surgiu uma oportunidade de uma nova loja em Carpina, compramos e, para não ficar os nomes iguais colocamos como Rodo Max, que é uma loja de pneus e rodas esportivas. Abrimos essa loja em 2022 e agora em 2023 inauguramos uma em Suape, dentro do complexo da E-LOG. Hoje temos três Rode Bem em Carpina, Jaboatão e Suape e uma renovadora que fica em Carpina, mas atende toda a Mata Norte, Mata Sul e Região Metropolitana.

Diego – Em 2021 e 2022 ganhamos o prêmio de Melhor Revenda Bridgestone do Brasil. A Bridgestone é a maior fabricante de pneus do mundo, e fomos eleitos por dois anos seguidos como melhor truck center Bridgestone do País. Não somos o que mais vende porque no Sul e Sudeste há lojas com um volume maior que o nosso. Mas ganhamos pelos padrões da fábrica, limpeza, organização, qualidade de atendimento, exploração do digital, a gente hoje está no YouTube, no Instagram, no Linkedin. Temos a parte de atendimento por chat na internet, estamos investindo muito em estrutura. Como a Bridgestone é uma multinacional, uma empresa do Japão que comprou a Firestone que é americana, tem a cultura japonesa e eles são muito exigentes e atendemos a todas as exigências deles.

Quando vocês começaram a trabalhar na empresa?

Diego – Quando me formei no ensino médio, em 2008, tinha 17 anos e queria trabalhar, não queria ficar só estudando. Mas meu pai dizia: “você tem que estudar, está na hora e idade de estudar”. Próximo de Carpina, em Limoeiro, tem a Facal, que é uma faculdade de referência na área de administração, de contábeis. Fiquei estudando lá à noite e, durante o dia, trabalhava como auxiliar administrativo, mas não tinha muito engajamento. Porém eu tinha aquele desejo de trabalhar, de empreender. Estava com 18 anos, queria ter um dinheiro para poder sair com a namorada, fazer alguns programas, mas também queria aprender. Depois de cinco anos de empresa descobri minha aptidão comercial.

Passei a pegar gosto no negócio na Rode Mais. Comecei a trabalhar como vendedor. Ficava no atendimento de porta de loja e observei, com pouco tempo, que algumas coisas precisavam ser mudadas. O gerente estava aposentando e estava naquela de “deixar a onda me levar”, não tinha mais um planejamento estratégico. Era assim: comprou o pneu, botou no estoque, se vender vendeu, se não vender, não vendeu. Quando comecei, as vendas apresentavam um faturamento e mais ou menos com dois ou três anos, triplicamos o valor, com ações básicas. Comecei a fazer ações de vendas, panfletagem, divulgação, investir em marketing, em redes sociais, pegar o número do pessoal em atendimento, colocar mais um vendedor – só tinha uma vendedora que ficava na zona de conforto, tudo caia no colo dela.

Hoje, o faturamento em comparação ao período em que comecei, aumentou umas oito vezes. Quando eu cheguei, faturávamos uns R$ 400 mil por mês, hoje faturamos uns R$ 2 milhões.

E seu pai onde atuava?

Diego – Mais na Rode Bem. Ele estava com uma deficiência na parte comercial na Rode Bem e na Rode Mais eu descobri a minha aptidão para o comercial. Até que ele me chamou para ficar na Rode Bem também na parte comercial. Eu busquei sempre inovar. De três anos para cá, nosso negócio praticamente triplicou de tamanho. Hoje toda a parte comercial do grupo – Rode Bem, Rode Mais, Rodo Max – é comigo, uma coisa ou outra que é levado para Manuel. Faço as compras dos pneus, precifico e acompanho as vendas com os vendedores. Visito clientes com o vendedor externo, fico no salão observando o atendimento interno. Quando precisamos contratar alguém ou algumas máquinas, falo com Manuel.

E você Manuella?

Manuella – Ingressei na empresa no final de 2018, quando terminei a faculdade de administração na Unicap. Comecei como auxiliar administrativa. Vi na faculdade muita teoria, foi muito bom, mas na prática a gente sabe que as coisas são diferentes. No começo tive muita dificuldade, porque havia na equipe gente bem mais velha que eu (estava com 21 anos). Eu era uma mulher num segmento muito masculino, mas aos pouquinhos fui me aproximando das pessoas, fui entendendo o dia a dia da operação, aprendi e, aos poucos, fui dando meu ponto de vista, controlando a situação.

Sempre fiquei mais na Rode Bem, onde a operação é um pouco mais complexa porque tem a questão de logística, a coleta, a entrega. Fiquei no setor administrativo, financeiro e no departamento pessoal. Fui tomando rédea da situação e depois de uns dois anos, mais ou menos, Manuel conversou com a equipe e fiquei como gerente administrativa. Hoje praticamente tudo que é do setor administrativo, do departamento pessoal, da contabilidade, Manuel já não se envolve mais. Uma questão ou outra do financeiro é alinhada com ele.

Qual foi sua maior dificuldade?

Manuella – No começo, por ser muito nova, existia uma equipe um pouco antiga que tinha seus vícios, não havia gerente. Era uma operação enxuta. Fui botando a mão nos procedimentos, colocando algumas regras, mas toda mudança gera resistência. Minha dificuldade foi a implantação de certas coisas que eram simples mas que a equipe resistia. Conforme algumas pessoas foram saindo e foi entrando gente nova as coisas foram se ajustando. Também fizemos consultoria com a TGI, participei de algumas formações lá. Foi muito bom.

Diego – Fizemos a consultoria num período, depois finalizamos, mas aí vimos a necessidade de voltar, porque triplicamos o crescimento em três anos. Nós crescemos, mas não foi da maneira que esperávamos em termos de organização. Aí decidimos retomar a consultoria. Somos uma empresa familiar em que a família está dentro dos negócios em tempo integral. Das 7h30 às 19h30. Eu, Manuella, meu pai e minha mãe, Fabiana.

Qual a função de sua mãe na empresa?

Manuella – Ela está mais voltada para a Rode Mais, para a parte financeira e departamento pessoal. Eu e ela nos complementamos. Pensamos até em unificar o administrativo e o financeiro, fazer um só para o grupo.

Como é a relação com o pai de vocês?

Manuella – Ele é muito presente na minha rotina porque a sala dele é colada com a minha. De fato, são gerações diferentes, existem opiniões diferentes, mas ele passa muito conhecimento para nós…

Diego – … e cobra bastante. Tem os atritos, o que é normal, tem as cobranças, mas não chega a afetar o ambiente familiar.

Manuella – Cobra muito, às vezes ele diz: “olhe, eu estou cobrando, mas é para o seu bem”. Mas é bom porque a gente só cresce dessa forma. É uma relação muito boa.

E quando vocês sugerem uma inovação, ele acata?

Diego – Se a gente sugere e ele vê que faz sentido, ele escuta e abraça a ideia. Ele mesmo diz: “sou de outra geração, não sei como funcionam essas coisas, vocês têm que aprender mesmo para trazer para empresa, não estou com cabeça mais para essas coisas”.

Manuella – Quando ele ficar meio receoso, ele pergunta: “quem é que já faz isso aí? Qual é a empresa que já está usando? Como é que funciona?” E a gente vai atrás das informações.

Diego – Sempre levamos para ele algo com embasamento, que vimos que teve sucesso e deu resultado. Algumas coisas menores eu não levo. Penso, vou e faço. Mas o que requer investimento, ou mudança na rotina ou alguma coisa que vai alterar a empresa, passo para ele ficar ciente daquilo e não ficar só na minha cabeça a decisão.

Como está o mercado de venda de pneus?

Diego – Bastante concorrido. Na pandemia, o frete marítimo saiu de US$ 1.500 para US$ 16 mil, faltou pneu no mercado e, quando tinha, o preço era caro porque a produção nacional não consegue atender a demanda interna. Por isso, há necessidade dos importados. As empresas nacionais, que representam marcas como a Bridgestone que fabrica no Brasil, cresceram muito porque não havia, no mercado, o importado, que é um grande concorrente.

Hoje acho que 40% a 50% dos pneus vendidos no Brasil vêm de fora e vivemos uma realidade diferente. Quando o preço do frete estava muito alto e o dólar aumentando, o governo Bolsonaro concedeu isenção aos pneus importados de 16%. Quando normalizou o frete, o dólar baixou e se manteve os 16% de redução no imposto, começou a chegar importado com força no Brasil porque estava com condição de preço favorável. Lula, quando assumiu, voltou a cobrar os 16%, só que os importadores foram nas fábricas lá fora reclamar desse custo. E, aí, os fabricantes externos baixaram o preço dos pneus, o que fez com que a volta do imposto não impactasse em nada.

Hoje o que acontece? Está sobrando pneu e quando tem mais oferta do que demanda, a tendência do preço é cair. Então, a margem de lucro da gente hoje é mínima. Como não trabalhamos só com pneu de caminhão, temos pneu de carro de passeio, temos a distribuidora, a renovadora, temos outras fontes, podemos sacrificar uma por um período porque tem de onde tirar.

Vocês também vendem pneus importados?

Diego – Na Rode Mais temos os importados e a Rode Bem é franquia Bridgestone e Firestone. Para nós é bom porque temos o importado e temos o Bridgestone (multinacional que tem duas fábricas no Brasil) para o cliente que quer algo melhor.

Quais os projetos para o futuro da empresa?

Manuela – Pegamos uma nova operação, na verdade, voltamos para a distribuição de pneus de atacado, estamos estruturando ainda. Mas já startou. São pneus de automóveis da marca Bridgestone e Firestone dos quais seremos distribuidor atacadista em Pernambuco.

Diego – Hoje toda loja do Estado que for multimarca e que quiser comprar pneu Bridgestone e Firestone compra conosco para revender para o consumidor final. Temos um galpão de armazenagem em Carpina, fizemos a compra de mais ou menos quatro mil pneus. Nossos planos são: consolidar o atacado, vender pneus Bridgestone e Firestone e quando tiver tudo organizado, as lojas rodando bem, vamos expandir para outras cidades.

Manuella – Também vamos estruturar melhor a gestão, profissionalizar. Não é que a gente não tem estrutura, mas a gente tem ainda muito o que lapidar, tanto por parte da família quanto dos líderes das principais lojas.

Qual a perspectiva de crescimento do faturamento?

Manuella – De 2019 para 2020 foi uns 30%. De 2020 para 2021 também nesse patamar.

Diego – De 2020 para cá a gente triplicou o tamanho, então o crescimento vem em desaceleração porque não conseguimos todo ano escalonar como antes, mas com a abertura da distribuidora esperamos que este ano teremos um crescimento bom. A distribuidora é mais uma fonte de venda e esperamos vender três mil pneus de automóveis por mês.

Manuella – Nos primeiros seis meses deste ano tivemos um crescimento de mais ou menos 7%. Realmente, continuamos crescendo…

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