Fora do eixo Rio-São Paulo, a principal gravadora do Brasil estava no Recife. Foram os estúdios da Rozenblit, que produziram e prensaram diversos discos que marcaram a psicodelia pernambucana. Exemplo é ‘Paêbiru – Caminho da Montanha do Sol’ (1975), de Lula Côrtes e Zé Ramalho. O álbum duplo desperta, ainda hoje, a ambição entre colecionadores e figura no livro ‘Lindo Sonho Delirante – 100 discos psicodélicos do Brasil’ (2016), do jornalista Bento Araujo. Hoje (19), às 19h, a Sonora Coletiva, da Revista Coletiva, da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), recebe o autor para um bate-papo no Canal multiHlab, no YouTube.
Participam também da conversa os pesquisadores Allan Monteiro, Cristiano Borba e Túlio Velho Barreto, responsáveis pelo canal experimental de áudio Sonora Coletiva e pelo Núcleo de Imagem, Memória e História Oral (NIMHO), integrante do Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira (Cehibra), da Casa. “Esse momento faz parte do projeto Cenas Musicais de Pernambuco — 1970-2000, que pretende ampliar as coleções de depoimentos de nossos acervos”, aponta Velho Barreto. Ele revela que uma série de entrevistas vem sendo realizadas acerca do tema envolvendo pesquisadores e técnicos do Cehibra e outras unidades da Fundaj.
Criador e editor da paulistana poeira Zine, publicação independente bimestral, Bento Araujo dedicou mais de uma década à produção da coleção ‘Lindo Sonho Delirante’. Dividida em três volumes — com apenas dois lançados —, o jornalista destaca os mais importantes “discos psicodélicos, audaciosos e ousados do Brasil”, produzidos e lançados entre 1968 e 2000. Na live, ele promete falar do contexto em que ocorreu a chamada cena musical psicodélica no Brasil e, em particular, em Pernambuco. Em sua obra, o autor reconhece o legado do Estado em produzir “os discos independentes mais experimentais da indústria fonográfica do País”.
“A psicodelia dos jovens nordestinos gerou uma revolução totalmente marginal, que anos depois desembocaria na radical cena psicodélica pernambucana de Lula Côrtes, Lailson de Holanda, Marconi Notaro, Flaviola e outros. Hoje, essa cena é quase tão cultuada por colecionadores de discos mundo afora como a cena psicodélica de San Francisco, nos Estados Unidos”, revela Bento, que marca a década de 1970 e o surgimento do tropicalismo como propulsores. Neste cenário, nasce, como dito, Paêbiru. Mas, também, Satwa, de Lailson e Lula Côrtes, No Sub Reino dos Metazoários, de Marconi Notaro, e o Ave Sangria — que gravou no Rio de Janeiro.
Para conferir mais do Sonora Coletiva, acesse coletiva.org/sonoracoletiva. Com ênfase inicial na cena que agitou o Recife entre o final dos anos de 1960 e a década seguinte, o Cenas Musicais de Pernambuco já entrevistou diversos artistas, produtores e empresários musicais. Dentre os importantes nomes, figuram Marco Polo, Almir de Oliveira, Rafles, Robertinho de Recife, Flaviola, Lailson, Zé da Flauta, Sinay Pessoa, Kátia Mesel, Marcelo Mesel, Rodolfo Aureliano, Maristone, entre outros. Agora Bento Araujo, que embora não seja pernambucano e muito menos tenha vivido a década de 1970, reuniu e tem muita história pra contar.