No auge da pandemia da covid-19, quando América do Sul era categorizada como epicentro da doença e o Brasil já preocupava o mundo com os altos índices de desinformação, cuidados negligenciados e mortes pelo novo coronavírus, 75 mil estabelecimentos comerciais com vínculos empregatícios fecharam as portas, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), e os que conseguiram ficar abertas, tiveram que se reinventar. Há mais de dez anos no setor de confecção, no segmento de uniformes e fardamentos, o empreendedor Paulo Ferro encarou o desafio de diversificar a carteira de clientes, abranger um novo público e ampliar o atendimento em plena pandemia do coronavírus, como solução para tentar manter os negócios ativos.
Para isso, o empreendedor lançou a Trevis Co, startup de tecnologia têxtil em Olinda, que oferece ao mercado pernambucano máscara e camisa antiviral, antibacteriana e antiodor. A tecnologia elimina as bactérias, inativa o vírus presente na superfície dos tecidos e ajuda a bloquear a contaminação cruzada. Os testes que comprovam a eficácia do tecido foram realizados no laboratório de virologia do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), obedecendo a norma que regula produtos têxteis antivirais.
Os tecidos que a Trevis Co modela vieram da parceria entre a empresa de tecelagem Santaconstancia, de Santa Catarina, referência na indústria química inovadora, engajada na promoção do desenvolvimento sustentável. O tecido usado na confecção olindense é resultado da negociação com fornecedores de tecidos do estado de Santa Catarina, que importam tecnologia da Áustria.
Foi na busca por uma camisa versátil, prática, durável e que não provocasse aqueles constrangimentos de mau cheiro ou marca nas axilas, que Paulo Ferro recebeu a indicação do fornecedor de tecidos para conhecer a tecnologia Modal, que é de baixo impacto ambiental e alto ganho tecnológico. A proposta traz tecidos que possuem acabamento antiviral de zinco, que inativa os vírus envelopados e não envelopados, incluindo a classe coronavírus e evita a contaminação cruzada. “Além da tecnologia antiviral, esse princípio ativo evita a formação de odor e proliferação de bactérias, esse com durabilidade de 40 lavagens”, explica o empreendedor.
“Antes da pandemia, eu já vinha buscando um tecido para confeccionar camisas para serem usadas no cotidiano, que tivessem uma maior durabilidade e fossem antiodor. Mas depois que o mundo parou por causa do coronavírus, eu fui atrás também de um tecido que além dessas características, tivesse uma barreira contra o vírus Sars-CoV-2”, explica Paulo Ferro.
O desafio de modelar o tecido e tocar com a produção ficou para a equipe reduzida dos funcionários que iam para a sede do negócio. Trabalhando há seis anos na empresa de fardamentos de Paulo Ferro, a costureira Maria da Glória Gomes, 62 anos, passou a costurar máscaras e a fazer o piloto das camisas da Trevis, para as costureiras que trabalham remotamente seguirem. “Logo no começo foi muito difícil, a gente não sabia como enfrentar a pandemia. Hoje vencemos. Eu me sinto importante em saber que a gente tá costurando tecido antibacteriano e antiviral. Usar uma peça dessa é dar confiança às pessoas. Agora a gente tá vacinado e ajudando a enfrentar essa pandemia”, compartilhou.
Na função de revisora e embaladora de peças, responsável por checar se há defeitos ou se é preciso voltar para produção, Maria Clarisse da Silva, 61 anos, também compartilha do sentimento de alívio em poder voltar a trabalhar e ajudar a enfrentar o cenário pandêmico. “Penso que o pior da pandemia já passou. Mas se ainda ela está aí, o nosso tecido antiviral ajuda bastante. O tecido é bom e fazemos bem feito. Eu mesma usei, testei e aprovei”, conta.
O tecido Modal usado pela Trevis Co também promove o conforto térmico, toque macio e efeito easy care ou fácil cuidado, que é sinônimo de roupas com secagem rápida, cores duráveis e que não amassam, mesmo após inúmeras lavagens. Esses são efeitos de longa duração prometidos pela modelagem.
“Com tais características, as camisas da Trevis Co são direcionadas para o perfil de homens entre 25 a 40 anos, empreendedores e funcionários com rotina de trabalho muito ativa, que curtem tecnologia, não têm tempo para lavar roupas ou passar. Inclusive, para pessoas que começaram a rever as finanças e o consumo desenfreado com vestuário, já que a camisa tem alta durabilidade, acaba sendo sustentável para o meio ambiente e para o bolso”, explica o diretor da Trevis Co, Paulo Ferro.
REVENDO A ROTA – Diante do cenário pandêmico, o empreendedor Paulo Ferro não cruzou os braços e resolveu trocar o foco da produção de fardamentos para modelar pijamas e máscaras, diversificando os produtos oferecidos aos clientes. A prioridade da empresa passou a ser a confecção de itens para o público que está de home office, ou que sai diariamente e precisa usar a máscara. Por consequência das vendas, o empreendedor ainda pôs em prática a empatia, ao converter parte da renda adquirida na venda dos itens em cestas básicas para doação. “O impacto da pandemia foi muito grande, nós praticamente paramos todas as operações, foi bem difícil. Uma estratégia que pensei para nos reerguermos e ainda ajudar pessoas, foi trocar o foco da produção de fardamento, para produzir pijamas e máscaras, incentivando as pessoas a comprarem esses produtos para que nós destinássemos parte do lucro para compra de cestas básicas e fazer doações. Refleti que assim como nós estávamos em dificuldade, imagina quem não tem o que comer”, compartilhou Paulo Ferro. Ainda de acordo com ele, a pioneira Trevis Co e a empresa de fardamentos que antecede a startup geram juntas 12 empregos diretos e mais de 30 empregos indiretos.
Só que para embarcar no novo ramo, é preciso que o empreendedor tenha o mínimo de conhecimento sobre sua área de atuação, o mercado e o público que vai atender, é o que orienta a analista do Sebrae em Pernambuco, Aline Cavalcanti. “A pandemia do covid-19 modificou a forma como a sociedade consome e se relaciona. No universo dos pequenos negócios, acelerou o processo de transformação digital de muitas empresas que precisaram se reinventar para sobreviver à crise. O aumento da presença digital, uso de redes sociais, cada vez mais como canais de venda, a implementação de e operações de delivery são alguns exemplos de como inovar em alguns processos têm ajudado o pequeno empresário a permanecer vivo. Essa saída encontrada por muitas empreendedoras impulsionou as vendas, gerou renda para manter o negócio e estreitou o relacionamento com os clientes”, explica.
“Ainda estamos vivendo a pandemia e suas consequências, mas sabemos que momentos como este também podem ser grandes propulsores de inovação, e uma vez que o empreendedor, que já é acostumado a transitar em ambientes adversos, entende que a inovação não está apenas atrelada a tecnologia, mas também a criatividade e reinvenção, estas características são fundamentais para a competitividade e continuidade dos seus negócios no mercado”, pontua a analista do Sebrae em Pernambuco, Aline Cavalcanti.