Startups e Hamburgo

Podemos, sim, dizer que a primeira temporada dos Beatles em Hamburgo foi, por assim dizer, o “pitch” da startup mais bem-sucedida da história da música. O ambiente era, no mínimo, inóspito. O bairro era St. Pauli, rodeado de bordéis, casas de strip stease e bares de marinheiros, afinal, assim como Liverpool, Hamburgo é uma cidade portuária. Pois bem, assim como acontece com as startups de um modo geral, a formação inicial nunca é igual à do final dos sócios que alavancam o negócio de modo escalado.
Em 17 de agosto de 1960, os músicos – que só há pouco se apresentavam com o nome de The Beatles (ainda desconhecidos) John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Stuart Sutcliffe e Pete Best – já naquela noite fizeram seu primeiro show. Ainda meninos, o mais velho (Stu) havia mal completado 20 anos e o mais novo (Harrison), 17. Naquela temporada, os Beatles chegavam a tocar todas as noites, até oito horas seguidas, dividindo nos intervalos o palco para a performance das strippers.

Muitas startups hoje são formadas por sonhadores talentosos. Gente que idealiza uma ideia, acredita nela e investe esforços para validar seu produto junto a investidores-anjo com a promessa de escalar o negócio. Muitas delas (a grande maioria) se perde pelo caminho. Assim como muitas bandas que não alcançaram a escalada de sucesso dos Beatles, é preciso que os talentosos empreendedores cumpram requisitos de formalidade e compliance, tanto jurídicas quanto contábeis, para que seu negócio tenha credibilidade junto a investidores, instituições de crédito, fornecedores e clientes.

Os Beatles encontraram seu primeiro investidor-anjo, cujo nome era Alan Williams. Ele agenciou os primeiros shows dos Beatles em Hamburgo (note que eles só encontraram Brian Epstein em Liverpool um ano depois, em novembro de 1961). As startups vão seguindo seu caminho para a escalada do sucesso do produto e encontrando pelo caminho os investidores. Cheguei a auditar balanços com cinco investidores privados em uma startup de apenas três anos que, ainda, não obteve a escalada esperada.

Conversando com essa “meninada” é comum as falas no sentido da reformulação do modelo de negócio por diversas razões: algumas derivadas da dissidência de sócios que não tiveram a paciência ou a disponibilidade de força de trabalho, outras em relação ao tempo de colocação da “ideia” no mercado, algumas pela falta de capital de giro para sustentar a contratação de pessoal no desenvolvimento, e por aí vai. Netflix, Apple, Uber, Rappi são modelos de startups vencedoras, ideias validadas pelo consumidor que também tiveram seu tempo de “Hamburgo”. Isso aguça com o desejo do empreendedor em ter sua ideia seguindo o mesmo modelo de sucesso.

Eu tenho uma frase que costumo usar nessas reuniões com startups: o mundo não consome só produtos de empresas extraordinárias. Existem ideias simples, para mercados restritos, que podem obter uma receita sustentável de R$ 500 mil a R$ 1 milhão por ano. Isso não é sucesso para você? Veja, startup de sucesso não é somente as que conseguem receita bruta de Apple ou Amazon. Como diria o pai de Ellie Arroway (personagem de Jodie Foster no filme “Contato” de 1997), “small moves Ellie… small moves”, ou seja, um passo de cada vez. Antes de alcançar as estrelas (como queria a pequena Ellie aos 9 anos), foque no passo mais próximo do momento em que seu negócio está. Procure orientação de advogados, consultores, contadores, entidades de aceleração de startups, enfim, busque conexões. Os Beatles não eram acanhados (muito ao contrário), eles estavam com todo mundo em todo lugar. Graças a esse comportamento, abriram caminho para uma escalada que não para até hoje, 60 anos depois. Essas conexões, inclusive, abriram caminho para a entrada de Ringo Star em agosto de 1963, no lugar de Pete Best. Mas isso é uma outra história…

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