* Paulo Caldas
Porções mágicas de letras emergem de uma cartola imaginária e obedecem ao toque de uma varinha de condão manuseada com esmero por Rejane Paschoal. O texto eclode ao impulso da magia e dialoga com o leitor em perene amenidades. Assim, aqui e ali, ergue um brinde às reminiscências, com imagens nítidas de conteúdo aconchegante. No arsenal das artimanhas sedutoras, Rejane é menina e brinca com o texto (em monólogo interior e às vezes em solilóquio compartilhado com o leitor) e traça uma elipse narrativa pouco perceptiva entre as cenas do conto "Até quarta-feira".
Em meio ao aparato de técnicas, faz uso, com destreza, dos diálogos internos, imperceptíveis ao leitor comum, que absorve o texto com absoluta naturalidade e a constatação se repete no emprego do discurso indireto livre. O ‘eu confessional’ também conduz a narrativa em “Díptico: equilibrista”, com a sensibilidade aguçada da autora: “os sinais da morte me fazem pensar no menino que fora aquele homem e que volta, ressurge, emerge na hora da morte”.
Aos toques mágicos, o negro das letras se espalha sobre a virgindade do papel e sob as ordens da criatividade, as palavras, frases e parágrafos, nutridos de ansiedade induzida, levam ao leitor avidez ante ao final de cada cena.
Pode-se incluir nesta magia a conversa com o leitor através de gestual do personagem, também visto em “Até quarta-feira”. A finura da prosa em Rejane Paschoal vem de frases do tipo “é triste um par de cadeiras vazias”, que reflete, sobretudo, o estado da arte no escrever nascido da criatividade e da estética, siamesas que conspiram com os recursos técnicos e tecem formidável efeito no anticlímax no conto “Domingas de José”.
Em “Domingas de José”, o escrever gentil, amável, se enamora das esmeradas metáforas quando a protagonista sente o “cheiro frio, sem alma”. Com maestria, ela rege um desfecho elogiável, preparado com minúcias para ser um grande final, em clima e sabor de saudade na cena final do conto “Pequena fantasia para uma morte perfeita”.
* Escritor