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Não é fácil envelhecer

Por Manu Siqueira A internet está cheia de depoimentos maravilhosos de mulheres 50+ romantizando o envelhecimento. Mas a verdade é que não é fácil envelhecer. É natural. Por isso, em vez de romantizar, eu prefiro normalizar essa etapa que, por sorte, pode acontecer em nossa vida. Sim, envelhecer pode ser enriquecedor para o crescimento pessoal, emocional e intelectual, mas não é uma regra. Há muitas pessoas mais velhas que continuam imaturas, impulsivas e sem compostura. Como dizia Nelson Rodrigues: “Os canalhas também envelhecem.” É sempre bom lembrar. “Os canalhas também envelhecem”, Nelson Rodrigues Envelhecer para as mulheres é ainda mais difícil. Além das cobranças estéticas, lidamos com a queda de hormônios, causada pela menopausa, e que atinge diretamente o nosso bem-estar e a nossa qualidade de vida. Eu ainda não tive saudade da minha juventude. Ou melhor, não lembro! Ah! Outra coisa que a menopausa te dá: esquecimentos corriqueiros. Enfim, acho que ainda não tive saudade da minha juventude, mas sei que esse dia está perto de chegar. E não falo isso com certo amargor. Não! Falo isso com gratidão, pois quero preservar dentro de mim, as incontáveis memórias afetivas que tenho dessa época. Faço isso para que a Manu de ontem, cheia de vida e sonhos, viva diariamente na Manu de hoje, aos 48 anos, e mantenha-se pulsante na Manu de amanhã, aos 75. Tenho uma prima que, sempre que nos encontramos, relembramos as nossas aventuras juvenis. É muito gostoso reviver esses momentos com ela. Sou imensamente grata por ter construído essas memórias lindas e divertidas. Porém, percebo hoje que, por imaturidade, fiz, no passado, várias escolhas equivocadas que hoje me fizeram enxergar exatamente os erros que não quero repetir e nem os tipos de pessoas que quero ter por perto. Foi uma grande e nobre lição! Hoje, sou a melhor versão de quem eu já fui um dia. E, apesar de guardar boas recordações da Manu jovem que curtia o Recifolia e dançava até o sol raiar nas boates do Recife (sem dores na coluna), a Manu de hoje enxerga a vida com muito mais clareza e simplicidade. Tenho interesse pelo profundo, pelo que agrega e pelo o que soma. Somente me interessa o bom e o bem. Para o meu corpo e para o meu espírito. E isso já me é o bastante. Afinal, a gente não pode esquecer que envelhecer é manter-se jovem o máximo de tempo possível. *Manu Siqueira é jornalista

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Pensamentos sobre quando envelhecer

*Por Elizete Maria Viana Maciel Diante da nossa atualidade, o mundo tem novas razões, sentidos e modo de se viver. Fico pensando através da minha janela, onde vejo o mar e reflito... onde quero estar quando envelhecer, ou melhor, como eu quero envelhecer? Uma onda bate em meus pensamentos, como a onda do mar bate nas pedras, e desejo poder imaginar como envelhecer. Digo eu, pois não posso dizer você, digo eu, unicamente por se eu quem escolho como eu vou envelhecer, quando envelhecer. Minhas memórias seguem no meu passado, pois agora penso com maior clareza quando eu era criança e jovem, naquele momento nem pensava nisso, nem imaginava o que queria ser, quanto mais, como eu vou envelhecer. Mas agora, o momento é outro e outras questões atuais nos fazem refletir no modo de como escolhemos... como envelhecer. O mundo vive um novo modelo de envelhecimento, novas buscas e aprendizados, a famosa neuroplasticidade, que me permite aprender coisas novas e querer mais aprendizagem, poder mudar, me adaptar, a partir de novas experiências. Ufa! Lá vamos nós entrar em contato com a tecnologia, deixando os papeis de carta guardados na gaveta, pois ainda pretendo usar, o correio não passa mais por aqui (neste momento), mais vai passar. Os fios dos meus cabelos se embranquecem, começo a reconhecer um novo rosto, enquanto uma nova camada de tinta, retoma o seu lugar, tomando mais água, andando de pés descalços pela areia e deixando as ondas molhar, sinto uma sensação de liberdade, de novas cores, o vento desarruma o meu cabelo e fico sem poder arrumar, mas agora o que mais quero é deixar o cabelo desarrumado, é sentir o vento e a água salgada, é me libertar, de minha próprias amarras, dos meus nós. Essa pandemia me fez isolar, parar o que nunca parei (trabalho), tirar férias (forçadas) e aprender a ter novos modos de contato. Meu envelhecimento foi alterado, mudanças se fazem necessárias, o meu canto, minha casa, se transformou em meu único espaço de transitar....verbo transitivo direto e indireto que remete a passar ou andar ao longo, mudar de lugar, situação e condição. Neste espaço, minha casa, penso como vou envelhecer, quando ela, a “velhice”, chegar. Já sinalizei que ela será muito bem vinda, terei tempo para fazer outras coisas, como plantar, passear mais com minha cadela, olhar as borboletas que fazem os seus voos rasantes e sem medo, os pássaros que aparecem em busca de alimento, ler mais livros diferenciados, fazer novos projetos, escrever o tão sonhado livro, que permanece em minha memória. Fiz escolhas, entre elas: manter minha família e amigos, criar novos vínculos, parar para escrever (olhando o mar da minha janela), deixar o meu envelhecer vir com calma, tranquilo, em um constate diálogo do que podemos fazer juntos. Pois à minha parte, cabe cuidar de mim, da minha pele, meu pensamento, minhas palavras e ações. À parte do envelhecimento é chegar. Cuidar dos meus sonhos, desejos, medos, conflitos, passagem, amores.... amores.... vem do amor, deste amor que preciso ter comigo, do meu legado, da sensação de prazer mágico e indescritível, da unificação corpo e alma. Quando eu envelhecer quero poder ler este escrito novamente e sorrir. Ver o quanto o tempo passou, o quanto o tempo soprou para que eu pudesse escolher sobre o meu envelhecimento. Agora passo para você que neste momento pode estar lendo estas linhas e se imaginando ou se transportando para quando você envelhecer.... pode ter a certeza que foi escrito em uma manhã de terça-feira, não importa qual a terça-feira. O importante é que foi um dia de terça-feira, poderia ser qualquer dia da semana, qualquer hora, mas foi neste dia e nesta hora, pois para escrever é preciso se conectar, deixar o vento trazer as notícias, deixar você se transportar em seus pensamentos, deixando a onda do mar bater, indo e vindo. E assim é o envelhecer, não importa quando, o que importa é como você quer fazer, como você quer envelhecer, quais os caminhos escolhidos, as mudanças, as sensações, saber o momento em que você fez a escolha da liberdade, a escolha de ser feliz, com pequenas coisas, com coisas que você nem imagina que poderia passar ou até mesmo vivenciar, e passar a se redescobrir, sinalizar novos caminhos, novas cores, novos projetos, porque envelhecer é mudar, para se tornar alguém melhor do que antes, melhor para você. Obs: Faltavam 15 dias para eu completar 54 anos *Elizete Maria Viana Maciel é psicóloga clínica, especialista em Neuropsicologia e Gerontologia

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