Indústria, agronegócio e comércio exterior preveem prejuízos com o tarifaço imposto por Trump; entidades pedem diálogo e ação diplomática
(Com informações da Agência Brasil)
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados ao país gerou forte reação do setor produtivo nacional. Entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) alertam para os riscos da medida à economia brasileira, principalmente diante da interdependência entre os sistemas produtivos das duas nações. “Os impactos dessas tarifas podem ser graves para a nossa indústria”, afirmou Ricardo Alban, presidente da CNI.
Para a indústria, que exporta principalmente bens manufaturados e semimanufaturados para os Estados Unidos, a medida compromete empregos, a entrada de divisas e o equilíbrio da balança comercial. As empresas Embraer e Petrobras, por exemplo, deverão sentir os reflexos diretos da taxação, que torna o mercado norte-americano menos acessível. No agronegócio, produtos como carne, suco de laranja, café e açúcar devem sofrer desvalorização no mercado interno diante da dificuldade de exportação, como indicam especialistas em comércio internacional.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) também demonstrou preocupação, destacando o impacto no câmbio e no custo dos insumos, o que compromete a competitividade do agronegócio brasileiro. Em nota, a bancada ruralista defendeu “uma resposta firme e estratégica” por meio da diplomacia, reforçando a importância do Brasil manter sua presença ativa nas negociações bilaterais. Já a Abiec reforçou que “questões geopolíticas não se transformem em barreiras ao abastecimento global e à garantia da segurança alimentar”.
A resposta do governo brasileiro veio por meio da Lei de Reciprocidade Econômica, sancionada em abril, que permite ao Executivo suspender concessões comerciais e impor contramedidas. Em rede social, o presidente Lula declarou: “A soberania, o respeito e a defesa intransigente dos interesses do povo brasileiro são os valores que orientam a nossa relação com o mundo”. O governo também rebateu a alegação de déficit comercial, alegando que, ao longo de 15 anos, os EUA acumularam superávit de US$ 410 bilhões no comércio com o Brasil.
Além dos impactos econômicos, especialistas apontam que a decisão de Trump tem forte componente político. “Essa tarifa contra o Brasil apresenta vários componentes, efeito STF, efeito Brics, efeito regulação das redes sociais”, avalia Alexandre Pires, do Ibmec-SP. Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, trata-se de uma medida sem precedente na história recente do comércio internacional: “É certamente uma das maiores taxações a que um país já foi submetido, só aplicada aos piores inimigos, o que nunca foi o caso do Brasil”.